5 - Quando o menino descobre um segredo

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Kamui tinha levado uma grande bronca da mãe por ele ter ficado fora o dia inteiro e não ter feito as tarefas da casa, o que magoou muito o menino. A mãe gritou e esbravejou às vezes dizendo o quanto ele era inútil. E ele apenas chorou o restante da noite. Ele queria poder ajudar mais com a casa e o dinheiro, mas como sempre, nenhum dos aldeões queria lhe dar um emprego e a culpa não era exatamente sua. Ele tinha apenas seis anos e não era forte, os empregadores preferiam os meninos com mais carne, aqueles que pareciam ter a força de um búfalo.

No dia seguinte à bronca da mãe, Kamui tratou de limpar a pequena casa logo depois que ela saiu para o trabalho, o que não levou mais de uma hora ao todo. A casa da família Murakami era modesta. Logo que terminou os afazeres, saiu em direção à floresta, e daquela vez não precisou procurar muito por alguma borboleta. Uma dezena delas pareciam estar esperando por ele um pouco adiante dos limites da vila. Como sempre, o menino as seguiu e logo se viu em frente ao chalé de Shiori Sasaki.

A garota já o esperava com um pequeno sorriso nos lábios.

— Bom dia, Kamui-kun. — Saudou.

— Bom dia, senhorita Shiori.

Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes até que a garota encarou o menino com curiosidade.

— Parece que ontem foi uma noite difícil para você... — Murmurou ela.

Kamui não estava pensando em falar sobre o que havia acontecido no dia anterior para ninguém, então ficou surpreso quando se viu abrindo a boca.

— Mamãe brigou comigo.

Shiori balançou a cabeça assentindo.

— Quer falar sobre isso?

O menino fez que não com a cabeça sentindo seu peito apertar ao se lembrar da bronca e do quanto havia ficado magoado.

— Tudo bem, então. — A garota deu de ombros. — Você quer continuar suas perguntas?

O garoto levantou o olhar e arregalou os olhos ao ouvir a pergunta. Não perdeu tempo em palavras, apenas assentiu com veemência.

Shiori pegou o garotinho pela mão e o puxou para se sentarem em cima de uma pedra de frente para o canteiro de flores ao lado do chalé que estava repleto de borboletas de várias cores.

— Sabe, às vezes os adultos acabam fazendo coisas que nos magoam sem perceber... — A garota das borboletas murmurou sem encarar o menino.

— Você acha que minha mãe me odeia? — Ele perguntou sentindo um nó na garganta se formar.

A garota olhou para o céu com ar pensativo e fazia alguns gestos com a cabeça como se pudesse ouvir alguém falando consigo.

— Não acho que ela te odeie, Kamui. — Ela finalmente respondeu. — Acho que ela só não sabe direito como te amar.

Kamui encarou Shiori com um pequeno "o" formado em sua boca. Ele não sabia dizer se aquela resposta era boa ou ruim. Sua mãe não o odiava, mas também não o amava?

— É confuso, eu sei. — A garota acrescentou. — Mas sua mãe passou por coisas que a deixaram... Triste.

— A morte do papai?

— Também. — Shiori afirmou.

— Como você sabe dessas coisas? — O menino perguntou ficando sério. Daquela vez ele queria uma resposta concreta.

Shiori encarou o céu mais uma vez e sorriu com alegria para os raios de sol e as nuvens brancas de aparência fofas.

— Se eu contar, promete não ficar com medo e continuar a vir me visitar? — Ela perguntou sem tirar os olhos do céu.

Kamui ergueu as sobrancelhas confuso com a pergunta. Por que ele ficaria com medo? Talvez ela fosse mesmo a tal bruxa malvada da floresta que todos temiam...

— Eu prometo. — Disse mesmo assim.

— Lembre-se de que uma promessa deve ser cumprida.

O menino assentiu com firmeza e a garota gargalhou.

— Eu sou uma shinigami. — Shiori disse e esperou.

A Garota das Borboletas ✔️Where stories live. Discover now