2 - Quando o menino conhece a garota das borboletas

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— Boa tarde, Kamui. — A garota disse de costas para o novo visitante, ainda dando atenção ao seu jardim. — E bem-vindo de volta, Kaneko-kun.

Kamui permaneceu onde estava, apenas observando a estranha garota que falava sem se voltar a qualquer lugar em específico. Ele na verdade estava com certo medo de se aproximar. Havia ouvido dos anciãos da vila que no meio daquela floresta havia uma bruxa, e aquela garota poderia ser a tal bruxa!

— C-como sabe meu nome? — Perguntou desconfiado e pronto para correr.

A garota deu um pequeno riso e se levantou espanando a poeira de suas roupas nada adequadas. Ela usava calças!

— Eu sei de muitas coisas sobre vocês.

Ele queria muito perguntar o que ela queria dizer com "vocês", mas não teve tempo e nem coragem para abrir a boca novamente.

— Você chegou bem na hora do almoço. — A garota se virou finalmente com um sorriso doce nos lábios. Suas feições eram suaves e seu rosto possuía uma "beleza clássica" como os adultos da vila definiriam. — Gostaria de entrar para almoçar? Sei que deve estar faminto.

Kamui ia negar, mas bem naquele momento seu estômago roncou audivelmente, o que fez a garota gargalhar e ele sentir suas bochechas esquentarem.

— Venha, Kamui, não precisa ficar com vergonha. Eu o estava esperando de qualquer forma.

— Você é a bruxa malvada da floresta? — O menino se ouviu perguntando antes que pudesse se refrear.

Mais uma vez a garota estranha gargalhou parecendo se divertir. Aproximou-se um pouco do menino e se abaixou até que seu rosto ficou à altura do visitante.

— Eu pareço ser a bruxa má da floresta?

Kamui ficou sério e observou atentamente a estranha. Ela era estranha com suas roupas inapropriadas para uma moça. E também por morar aparentemente sozinha na floresta. Mas também tinha um olhar doce e um sorriso afável...

— Não senhora... — Ele respondeu finalmente fazendo a garota rir de novo. — Mas quem é a senhorita?

— Por enquanto pode me chamar de Shiori. Shiori Sasaki.

— Sou Kamui Murakami, muito prazer. — Ele se inclinou numa reverência de forma respeitosa.

Shiori sorriu e se aproximou bagunçando os cabelos negros e lisos de Kamui que fez uma careta.

— Vamos, o almoço está pronto! — Exclamou sorridente a garota o puxando em direção ao chalé.

A primeira coisa que Kamui reparou quando adentrou o local foi que a pequena casa não se parecia em nada com as casinhas de sua vila. Os chawans que estavam esperando à mesa eram feitos de porcelana e havia uma coisa parecida com um fogão à lenha, mas muito mais sofisticado. Será que ela realmente não era a bruxa má da floresta?

A segunda coisa em que Kamui reparou foram os jarros. Os jarros empilhados de forma ordenada em várias prateleiras a um canto do chalé. Haviam lagartas e casulos neles e em alguns poucos, borboletas.

— Aqui está, uma boa refeição para um bom rapazinho. — Shiori exclamou servindo a comida em um dos chawans.

O menino sentiu o cheiro da comida e não conseguiu evitar em sair correndo para comer, murmurando um "itadakimasu" rápido e atacando o que lhe foi servido.

Quando Kamui terminou de comer, Shiori pareceu satisfeita.

Apesar dele ter estado muito ocupado com a deliciosa comida, ele não deixou de reparar na movimentação de borboletas ao redor de Shiori e como ela parecia de alguma forma se comunicar com elas. Estava prestes a falar sobre isso, mas fora interrompido antes mesmo de abrir a boca.

— Leve isto para sua mãe. — A garota empurrou em sua direção sobre a mesa uma trouxinha de pano contendo obentou. — Creio que deva haver o suficiente para vocês dois até o jantar.

Kamui abriu a boca e arregalou os olhos de surpresa. Ia recusar, mas lembrou-se de sua mãe adoentada.

— Não precisa ter vergonha. — Shiori disse sorrindo. — E volte quando precisar. Gosto de companhia. — Piscou. — Mas agora vá, sua mãe deve estar preocupada.

Kamui pegou a trouxinha e agradeceu mais de uma dezena de vezes pela gentileza da jovem garota estranha da floresta e saiu correndo.

Caso se perca, siga as borboletas! — Ouviu-a dizer.  

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