13 - Encontros e Desencontros

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Angel nunca teria se imaginado uma covarde, como parecia que era no fim das contas. Nos últimos dias tinha andado totalmente comportada. Fora continuar não comparecendo às aulas, era uma aluna como os outros. E por quê? Porque não queria encarar Alexis.

Ainda estava tentando assimilar o que acontecera no último encontro dos dois. O beijo, a conversa sobre o pai dele. E sobre eles. A declaração que ficou no ar.

Ela era mesmo uma maldita covarde.

Quando voltou para o seu quarto naquele dia, depois do encontro na piscina, a primeira coisa que fez foi pesquisar sobre Alexis. Sério, como ainda não tinha feito isso? Jogou no buscador "Alexis Al-Saud" e o resultado mostrou o nome completo do príncipe: Alexis Ra'id Malik Bin Talal Bin Hamad Aziz Al-Saud. Credo!

Passou os olhos por uma biografia dele. O sujeito era citado como uma celebridade da realeza, cheio de admiradores e com um currículo invejável. Uau! Era filho de um dos homens mais ricos do mundo! Bom, começou a fazer mais sentido toda aquela obediência servil que observava nos outros. Então, achou algo sobre o que realmente buscava. A mãe do Príncipe.

A rainha Saray tinha sido uma princesa grega que havia se casado com o então príncipe árabe, Hamad Aziz Al-Saud, com apenas dezenove anos. Ficou grávida de Alexis alguns meses depois. Ela e o marido se tornaram reis de Quidar dois anos depois, com o falecimento do monarca anterior. Quando Alexis estava com oito anos, ela foi morta, junto com um amigo do casal real, em um ataque terrorista.

Mais uma peça se encaixou para compreender melhor a personalidade de Alexis. Perder a mãe daquela forma, e tão cedo, não deveria ter sido fácil. Ela própria ainda sofria a perda dos pais, sem nem sequer tê-los conhecido.

Ela notou não havia nenhuma entrevista com ele e as raras fotos exibidas, ainda que mostrassem claramente a beleza dele, não eram poses feitas com esse fim. Eram imagens tiradas de longe, de passagens do Príncipe por diversos lugares. E ele estava sempre sozinho, cercado por seguranças e eventualmente usando as roupas tradicionais de seu país.

Tantas coisas que tinham acontecido com Alexis, a morte da mãe, um pai meio maluco, as amantes reais, a bizarrice da sua primeira vez. A perseguição das mulheres gananciosas. Tudo aquilo o tornou distante e isolado. E ainda assim, ele havia permitido que ela se aproximasse. Ele tinha confiado nela. Na garota que nem a própria família queria.

Angel colocou as mãos nos bolsos, enquanto caminhava pelos corredores desertos do Dormitório Feminino, às três da manhã. Não poderia evitar Alexis para sempre. E, se ele havia dito a verdade, logo daria um jeito de confrontá-la novamente. Seria ela capaz de resistir? Duvidava muito disso.

Já tinha cogitado ir embora da Alpha. Uma noite tinha até arrumado sua mochila para pôr em prática um plano absurdo de fuga. Mas desistira. Não teria êxito, óbvio, mas era mais do que isso. Sua vontade talvez não tivesse a força que gostaria.

Droga, ela estava condenada! Tinha, o que, dois, três anos? Talvez um pouco mais. Ou poderia pifar naquela noite ainda. Sentindo os olhos ficarem irritados (ela não admitiria que estavam lacrimejando), apressou os passos até estar em uma corrida desenfreada pela grama da área externa do prédio. Sem parar de correr, seguiu para o lago ao lado do jardim. 

Depois de vários minutos, quando já mal conseguia respirar, se jogou no chão, deitando sobre a relva. Buscando ar, olhou para a lua minguante no céu limpo. Sem poder mais se conter, chorou. Chorou de raiva e de frustração, por sonhos que não poderia sonhar. Teria forças para isso? Chorou até mesmo de alegria. Quem poderia imaginar que um dia seria capaz de sentir aquilo tudo? Que sua vida vazia e solitária lhe permitiria esses momentos de se agarrar a algo tão fútil como a esperança?

Destinados à PayreWhere stories live. Discover now