3 - Esquecer para continuar

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Choi estava incomodado, afinal, não era uma criança para ser mandado para a cama. Além disso, como queriam que ele dormisse?

O pior não tinha sido ser transportado para outro planeta. Ou descobrir que existia um super vilão poderoso que comia gente, e ficava ainda mais poderoso por conta desse hábito alimentar nojento. E que ele tinha sido um dos destinados a lutar contra o tal Drácula Alienígena. Não, de forma alguma. Nem mesmo a descoberta de que tinha passado os últimos três anos dormindo. O pior, o mais detestável, era ser obrigado a conviver diariamente com os irmãos Dewis, Ren e Mona.

Sério, dos 7,4 bilhões de pessoas na Terra, tinham que ser justamente eles seus companheiros de viagem?

Ren era particularmente irritante. Gritava e esperneava com todos, pedia que entrassem em contato com seu pai, pois ele certamente pagaria qualquer valor ou negociaria em nome da Terra com os aliens que o tinham sequestrado. Certamente sob influência dos filmes produzidos por seu país. Choi sentia vontade de revirar os olhos só de pensar na prepotência dos americanos em imaginar que podiam responder por todos os habitantes da Terra como se fossem os líderes da porra toda. Seria hilário se não fosse diante de uma situação tão tensa.

Choi remoia mais uma vez todas aquelas coisas enquanto olhava para o teto mal iluminado. Estava deitado em uma cama muito bizarra, pois tinha o formato de um bote e parecia feita de algo que lembrava a consistência de gel, o que a tornava estranhamente confortável. Após se ajeitar melhor, olhou para o lado. Lá estava a garota chamada Lali, também deitada naquelas camas estranhas, com os olhos fechados, provavelmente adormecida. Ela parecia finalmente ter se acalmado naquelas últimas semanas. Desde que haviam despertado, há muitos meses, ela chorava sem parar. Chamava pelos pais e irmãos, e um tal de "Tanu", então voltava a chorar ainda mais, até ser induzida a um sono profundo, do qual acordava desorientada e recomeçava tudo de novo.

Ele, apesar de sentir-se saturado de toda essa choradeira, entendia seu desespero. Ser separado da família tão bruscamente era algo muito doloroso. Sentira isso profundamente quando seu pai o levou para outro país, longe da mãe e da irmã. Imagine só, então, descobrir que, sem qualquer aviso, foi parar em outro planeta. Do qual poderia nem mesmo sair viva para revê-los.

Choi ergueu a mão e olhou para o centro dela. E riu de si mesmo. A quem estava enganando? Ele também estava desesperado. Sentia-se confuso, perdido e com muito medo. Era tanta coisa para compreender, para aceitar. Tantas perdas a somar. Três anos. Havia perdido três anos da sua vida.

O que estariam pensando as pessoas que estavam na Terra? Seu pai. Embora não tivessem uma relação próxima, sempre mantiveram contato. E sua mãe? Embora soubesse que não era um bom caminho a percorrer com sua mente nada sadia naquela situação, Choi não pode evitar de imaginar se ela havia sido informada do seu sumiço... Se ela se importou.

Para desviar o foco daqueles pensamentos dolorosos, Choi voltou a refletir sobre a passagem do tempo.

Quanto tempo mais ficariam em Payre? A guerra na qual os jogariam, quisessem eles ou não, já durava séculos, era possível resolver algo tão difícil em dias? Meses? Anos?

Quanto?

Além disso, qual era exatamente a tal "missão" deles ali? Nada era dito ou esclarecido. Limitavam-se a assegurá-los que logo saberiam o que seria esperado deles, que por hora precisavam se preocupar apenas em adquirir resistência.

Tudo que fizeram nos últimos cinco meses foi treinar, fazendo exercícios em simuladores, que deixavam os vistos em filmes risíveis de tão simplórios se comparados aos que existiam em Payre. Também tinham tomado litros e litros de água por dia. A pura água de Payre, aparentemente o único alimento daqueles seres. Os Curadores, os médicos daquele mundo, diziam que esse processo fortaleceria seus corpos e facilitaria a adaptação deles às condições de Payre.

Destinados à PayreWhere stories live. Discover now