Em meio a todo aquele caos e aos torcedores já desmotivados pela falta de comparecimento dos jogadores em campo, Luke passou a fazer o que havia gabado-se horas antes. Estava fazendo acontecer. Tocou a bola para um rapaz baixinho e ao correr para frente a bola retornou a ele que chutou praticamente do meio do campo para Bryan que estava chegando na área.
Bryan conseguiu dominar a bola no peito e passou para o que eu imaginava ser o outro atacante do time que finalizou na esquerda do gol, fazendo com que a torcida pulasse na arquibancada, assim como eu.
O jogo estava se tornando quente e corrido novamente, Bryan perdeu cerca de cinco gols, sendo que uma das finalizações alcançou o travessão. Estávamos ficando preocupados ao olhar para o placar. Metade do segundo tempo havia se passado e ainda perdiam de 2x1.
A maioria das pessoas estavam em pé, e como não sou lá muito alta, precisei acompanhá-los se quisesse ver algo dali. Aproveitei o momento para passar a gritar também.
Um menino loiro chutou a bola de longe fazendo com que o goleiro a defendesse e jogasse a bola para escanteio. Muitos alunos estavam com os celulares apontados para o campo, todos na expectativa de que o gol de empate surgisse.
— VAMOS LÁ TIME!!! — Todos gritavam juntos.
A frase de tão repetitiva parecia se tornar música aos nossos ouvidos, parecíamos estar todos em sintonia.
E então o zagueiro cabeceou a bola para dentro da rede.
— GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! — Tanto o placar avisou, quanto todos presentes gritando e comemorando.
Uma menina que estava sentada ao meu lado me abraçou do nada, pegando-me de surpresa. Como não conhecia ninguém e não havia com quem comemorar, aproveitei o momento para retribuir o abraço.
— Cara eles tem cinco minutos para fazer esse gol. — A menina gritou. — A princípio, eu sou a Hanna.
Ela estendeu a mão em minha direção e eu a apertei.
— Ah, eu sou a Yanni. — Sorri animada.
Apesar de viver uma vida insegura e fechada durante anos, para fazer contato com outras pessoas, mesmo que essas fossem novas e desconhecidas, não tinha problema em me comunicar. Vivi tempo demais evitando quem fosse diferente de mim e do que mamãe acreditava certo.
Talvez por isso que eu passei a amar jogar futebol. Era libertador. Era a minha válvula de escape. Era o momento que poderia ser eu mesma. Poderia conhecer novas pessoas, me comunicar e ter uma vida social.
Esperava que minhas irmãs seguissem o mesmo caminho que o meu, ou então, seriam infelizes assim como mamãe era. Não que demonstrasse ser infeliz — já que a maioria das vezes se encontrava sorrindo —, a questão era que uma pessoa que passava mais tempo criticando outras pessoas, no meu ponto de vista não é feliz.
— CORRE BRYAN! VAI! VOCE CONSEGUE! — Gritei sem fôlego sentindo olhos sobre mim.
— Você conhece ele? — Hanna perguntou ao meu lado.
— Ah, digamos que ele e o Luke ficaram responsáveis em me mostrar a universidade hoje. — Expliquei.
Hanna parou para pensar um pouco sobre a minha resposta.
— Então você não estuda aqui? — Perguntou confusa.
— Estou tentando ganhar bolsa pelo futebol feminino. — Contei. — Ainda estou no ensino médio.
Ela sorriu compreensiva e piscou repetidamente de uma forma engraçada.
— Então, sinta-se em casa. — Me abraçou de lado. — Espero que consiga a bolsa, realmente é uma disputa louca.
E então a cena pareceu ser em câmera lenta. Bryan recebeu a bola direto do zagueiro que havia feito o segundo gol, percorreu mais da metade do campo driblando os jogadores adversários, até conseguir passar a bola no meio das pernas do último jogador antes de encontrar o goleiro. Olhou para a trave enquanto o goleiro gritava algo que não era possível escutar por conta do barulho, mas que no meu palpite seria alguma coisa para provoca-lo. E chutou rasteiro, a bola fora rolando fraquinho de pouco em pouco, e embora o goleiro tivesse acertado o canto, não conseguiu alcança-la.
— GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL! — Gritamos comemorando.
Seus olhos encontraram os meus e rapidamente um dedo fora apontado em minha direção. Isso seria uma dedicação?
O relógio marcava apenas alguns segundos para o fim do jogo. Todos gritavam CAMPEÃO no estádio. Pulamos felizes quando o árbitro da partida apitou finalizando o jogo.
Algumas partes do meu corpo ficaram leves demais quase que moles a ponto de desmoronar, mas era só a adrenalina fazendo efeito em mim. Boa parte das pessoas invadiram o campo e seguravam os jogadores em cima de seus ombros. Bryan estava sendo jogado para cima por cinco rapazes fortes.
Não quis correr, preferi permanecer no meu lugar e esperar que aquela multidão saísse dali com o tempo. Aquele lugar não era meu. Eu era uma visita e havia acabado de chegar ali. Havia aprendido muito com aquela partida, e não se tratava apenas do jogo.
Apesar de conhecer Luke e Bryan por apenas algumas horas e ter gostado tanto da maneira como agiram comigo — uma estranha —¸eles não tinham obrigação nenhuma, mas ainda assim permaneceram comigo, fazendo-me sentir grata.
— Vocês ganharam! — Falei animada ao abraçar Luke após Selena dar um espaço mesmo sem vontade.
— Nós vencemos, não é incrível? — Perguntou sorridente. — Por alguns minutos acreditei que não iriamos conseguir virar.
— Com certeza foi um dos melhores jogos que já assisti na vida. — Comentei.
Selena se sentou ao meu lado quando Luke avisou que tomaria um banho rápido e trocaria de roupa para irmos até a festa que aconteceria. Batuquei o pé repetidas vezes fazendo com que ela me encarasse.
— Não precisa ficar brava comigo. — Falei. — Meu interesse nesta universidade é somente na bolsa que preciso.
A menina que até então escrevia freneticamente em seu celular, virou-se para me encarar.
— Está tudo bem, ok? — Perguntou. — Não estou acostumada com meninas frequentando o quarto do meu namorado. E além do mais, você é a menina dos sonhos desses meninos. — Apontou para dentro do campo.
Não entendi exatamente do que se referia.
— Do que está falando? — Perguntei confusa.
— Você sabe tudo sobre futebol e ainda joga. — Respondeu. — Hoje ele passou a tarde falando sobre você.
Automaticamente me veio à cabeça que estava com ciúmes das atitudes dele e não das minhas. Assim que vi que estava de alguma forma a ameaçando tirei meu time de campo e me afastei no quarto. Talvez ele só me admirasse porque tínhamos algo em comum e ela estivesse enxergando algo que não existia ali.
ŞİMDİ OKUDUĞUN
O Campeonato (AMOR EM JOGO)
Genç KurguYanni é a filha mais velha entre três meninas. Com seus dezessete anos o seu único sonho é passar oficialmente para o time de futebol da sua futura universidade. O grande problema é ser filha de pais extremamente religiosos que colocam sempre em ri...