7 | FRANKENSTEIN

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Eu passei muito tempo pensando se deveria escrever outra carta para o jornal.

Depois que mais uma semana chegara ao fim, meu apelido — apesar de ninguém saber que falavam acerca de mim — ficara conhecido como "Darkness". Eu ouvia o nome pra lá e pra cá, mas ninguém era capaz de revelar a minha identidade.

Obviamente era um alívio para mim. Quanto mais falavam, mais rápido se enjoariam do assunto. E eu poderia voltar a agir normalmente perto das minhas amigas, afinal era terrível ter de mentir para as duas.

Mabel e Daphne criavam milhões de teorias, enquanto eu permanecia calada, pensativa e observadora. Elas não tinham noção da verdade, e eu ficava doente só de imaginar suas caras de desgosto se descobrissem.

Daphne havia perdido seu brilho usual. Ela permanecia linda, porque sua genética era maravilhosa. Mas seu astral não era o mesmo. Eu e Mabel ficávamos entristecidas ao ver nossa amiga assim. Automaticamente o trio era abalado com o clima tempestuoso e éramos obrigadas a andar sempre juntas com medo que algum veterano tentasse uma gracinha. Na última quinta-feira, por exemplo, um outro calouro fora atirado no lago do parque do campus, no meio de uma confraternização. Ele quase morrera afogado, mas felizmente um amigo pulara para salvá-lo.

Até em qual ponto os trotes chegariam com suas humilhações e violência? A nova moda era selecionar um grupo de meninas para andarem de babador pendurado no pescoço. Pelo o que eu havia escutado, as mais festeiras, que ficavam com mais meninos, receberiam o "troféu" escroto. Precisariam andar com aquilo durante uma semana! Eu não precisava nem dizer que a novidade afastara a maioria das calouras das festas.

Antes de entrar na Universidade de Hamish, escutara muitas histórias sobre os trotes feitos dentro do campus. No início pensei que eram apenas boatos, porque não era possível que situações loucas aconteciam na faculdade e ninguém era capaz de fazer nada. Mas depois de entrar, percebi que meu pensamento estava equivocado: as pessoas cagavam realmente no balde.

Os calouros evitavam sair dos próprios alojamentos finais de semana, porque os trotes ficavam piores e insuportáveis. Quando a professora Stewart de Morfologia do Inglês pedira para entregarmos um pequeno trabalho em sua sala, depois daquela aula de sexta-feira, fiquei extremamente irritada por não poder lhe dar ali mesmo. Eu havia terminado dentro do prazo e só precisaria deixar em sua mesa com meu nome na pastinha.

Para piorar minha situação, assim que pisei na Literatura e comecei a subir as escadas, percebi que não sabia o caminho até o departamento. Se eu mandasse uma mensagem no grupo do Facebook perguntando onde a professora Stewart ficava, possivelmente descobririam minha própria localidade e viriam encher meu saco, seja lá de qual forma. Eu não queria testar e descobrir.

Tentei a sorte, relembrando das coordenadas de mais cedo. Cheguei em um corredor pouquíssimo movimentado, considerando que ninguém queria passear pela faculdade em uma sexta-feira depois do período das aulas. Fui lendo as plaquinhas de cada porta na tentativa de me encontrar, mas ali parecia somente salas de disciplinas de outro departamento, nada referente ao que a minha professora lecionava.

Parei do lado de um porta entreaberta. Minhas costas travaram no mesmo ponto. Eu não sabia se era o frio usual do semestre ou se o ambiente havia sido congelado com a presença inusitada de Charlize Hancock sentada em uma mesa solitária.

Coloquei um pedacinho da cabeça entre a brecha da porta para espionar, pois estava interessada em saber o que ela fazia. Charlize estava muito concentrada em uns papéis, os quais não pude ler a temática. Uma mecha loira balançava sobre seus olhos apertados diante da atividade, e uma mão corria com suavidade à medida que a caneta rabiscava a página.

Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora