9 | MENTIRAS E SEGREDOS

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Bati meus olhos rapidamente sobre o sangue que escorria do meu nariz.

Havia furado uma grande fila, mas eles entenderam que eu só queria me olhar no espelho e limpar a sujeira. Enfiei minha mão no compartimento de papéis higiênicos e tirei de lá um bolo. Enfiei-os logo abaixo do nariz que pingava irritantemente.

A vergonha não era maior que os pingos escarlates que escorriam na pia. Os papéis ficaram manchados, mas tratei de limpar meu nariz com cuidado usando uma nova quantidade. Seth Ayde poderia ter sido menos cego e avisado do acidente, mas resolvera esperar que Charlize Hancock comentasse para ele reparar em alguma coisa.

Analisei meu reflexo. Eu não estava bêbada, afinal só uma cerveja fazia cócegas no meu organismo. Mas estava me achando bonitinha, mesmo com o sangue me banhando inteira. Meus cabelos estavam soltos, pouco ondulados, mas não tanto quanto as pontas platinados de Charlize.

Pensando bem, talvez o álcool estivesse agindo dentro de mim, pois não conseguia tirar a imagem da minha monitora da minha cabeça.

"Você está sangrando" foram as palavras dela. Por que havia me incomodado tanto? Se houvesse sido Seth a dizer as mesmas palavras, acho que não ficaria tão cismada. Mas a voz rouca e prepotente de Charlize me deixava inquieta de uma maneira desconhecida. Eu não sabia o porquê ela transformava minha cabeça, mas estava começando a ficar extremamente estressada.

Daphne Cowill brotou do meu lado. Levei um leve susto ao avistá-la, afinal meus pensamentos estavam fixos demais em Charlize e sua mania de me irritar sem fazer muito. Minha amiga se pendurou na pia, fitando si própria no grande espelho borrado. Ela não estava com uma carinha muito boa.

— Você está bem? — toquei seu ombro.

Daphne sacudiu a cabeça em sinal positivo. Eu sorri, deixando que ela se apoiasse um pouco em mim. Ela devia ter bebido demais, porque não parava quieta no mesmo eixo e fazia com que meu corpo se pendurasse de um lado para o outro.

— Eu odeio os veteranos — sua voz estava fanha. Ela deitou a cabeça em meu ombro, extremamente desanimada. Eu a olhava pelo espelho, assistindo-a chacoalhar o corpo. — Eu odeio a merda dos veteranos.

— Eu também — ouvi-me murmurar de acordo. Daphne ficou feliz com minha resposta e fechou os olhos. — Tem certeza que você está bem?

— Você não está bem — ela disse perto do meu ouvido. — Seu nariz está sangrando.

Era sua maneira de me distrair, mas não daria certo. Meu nariz não escorria tanto quanto antes e minha preocupação era mais urgente. Daphne cambaleou e eu precisei segurá-la com força antes que as duas fossem de cara para o chão. Algumas meninas entravam e saíam do banheiro, mas todas tão alcoolizadas que não prestaram atenção em nós duas penduradas ali.

Arrastei minha amiga para um box próximo, pois sabia que ela colocaria todas as suas frustrações para fora em forma de vômito. Ela já resmungava de dor e, assim que a posicionei na frente do vaso sanitário, ela agachou e encheu o objeto com o líquido nojento. Segurei seus cabelos incrivelmente lisos e sedosos para trás, a fim de salvá-los da sujeira.

Daphne iniciou um choro sentido.

— Eu só queria que a agonia acabasse — ela soluçou. Mais vômito. — Eu não queria... não queria ter medo... o tempo todo.

Senti meu coração afrouxar. Fechei a porta do box e abaixei ao lado dela, pouco me importando se o chão estava coberto de substâncias duvidosas. Continuava prendendo seu cabelo para trás, mas usei uma das mãos livres para pegar um pouco de papel higiênico e limpar a boca dela. Daphne fechou os olhos, à medida que as lágrimas permaneciam escorrendo desenfreadas.

Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora