15 | COBHAM OU AYDE?

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— Pai, eu estou bem — murmurei contra meu celular.

Eu tentava me manter acordada naquele sábado de manhã. Estava parada de frente ao balcão preparando um cafézinho preto, daqueles que nunca podia beber quando era pequena. Talvez eu houvesse ficado com um pouco de febre por conta do frio de ontem.

Você está se alimentando bem? — a voz grave de papai soou do outro lado da linha. Eu podia imaginá-lo ninando meu irmãozinho Paul, que tinha Síndrome de Down e um coração enorme para um bebê de onze meses de vida, conforme andava descalço pela sala de estar. — Eu não gosto de vê-la ficando doente sendo que estou morando longe.

Enquanto minha mãe morava em uma cidade pequena, poucas horas da Universidade de Hamish, meu pai havia se mudado para longe de Ohio. Ele havia conseguido um excelente emprego em uma advocacia em Nova York e mudara-se para lá com a esposa e seus dois filhos pequenos.

Embora os Cumberbatch fossem ricos desde muitas gerações passadas, um herdando a fortuna do outro, papai sempre teve um grande amor pela sua profissão, a mesma do meu avô. Ele não se importava se já tinha garantido o futuro dos filhos graças ao dinheiro herdado. Sempre fui criada com ambos pés no chão, no interior de Ohio, brincando na terra e nadando no rio perto de casa. Havia sido uma surpresa quando descobri que éramos ricos de verdade, porque até então vivíamos de maneira simples.

Após a separação dos meus pais, aos meus oito anos, eles mantiveram a boa relação para não afetar minha mente no processo. Havia funcionado muito bem, pois eu mal enxergava os dois como meus "pais separados", mas sim como bons amigos.

Desde então, papai passara alguns anos em Cleveland, mas eu sempre o via com frequência. Ele conhecera Joan, minha madrasta, a pessoa mais incrível do universo, casaram-se e tiveram dois filhos em seguida. E eu era uma excelente irmã mais velha, diga-se de passagem.

Minha mãe, por sua vez, entrara na carreira de jornalista investigativa e não parava quieta no mesmo lugar. Mas éramos tão próximas quanto eu e meu pai, e eu conheci muitos lugares fantásticos por conta do seu trabalho. Todos os dias trocávamos mensagens e ela postava milhões de fotos no Instagram das suas viagens, porém eu tinha certeza que ela era uma profissional incrível. Ela não se casara novamente, mas saía com vários homens mais novos.

— Pai, eu consigo me cuidar — falei de maneira gentil, pois achava fofo a sua preocupação comigo. — Nós vamos nos ver no final de setembro, não vamos?

Sim, daqui a pouco — ele disse, e um ruído passou pela nossa ligação. — Eu só não quero que você sofra sozinha. Como são suas colegas de quarto? Já fez muita amizade? Como está o curso?

— Incríveis, pai. Minhas colegas de quarto são uns amores, me convidam para festas e são limpinhas. Eu também fiz amizade com outras duas menina, e andamos juntas tipo Harry, Rony e Hermione — contei as melhores partes, deixando de lado minhas aventuras mais cabreiras. — E como está Joan? A Olivia? O Paul?

Paul está fazendo bastante fisioterapia e está ficando com a coluna bem durinha. Acreditamos que ele vá andar logo. A Olivia está morrendo de saudades. Pergunta toda manhã quantos dias faltam para visitarmos você. E a Joan está nos plantões noturnos. Ela se tornou chefe no Departamento de Neurologia — ele falou muito animado.

— Fico muito feliz por todo mundo! Manda beijinhos para a Olivia, e diz que logo vou amassá-la todinha, além dos meus parabéns para a Joan. Eu sei o quanto ela trabalha muito! — disse, empolgada assim como ele, mesmo que o sono estivesse me matando. Olhei para o relógio da cozinha em forma de gatinho e soltei um suspiro descontente. — Pai, preciso ir agora. Vou me encontrar com minha monitora.

Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon