Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)

13 | ALMA CANTA

Charlize Hancock dirigia para fora do campus da Universidade de Hamish.

Eu pensava que ela morava em algum alojamento, igual aos outros monitores, mas ela não parou em nenhum conforme o carro passava pelos prédios. Talvez ela estivesse me levando para alguma vala, mas era ridículo pensar assim. Depois dos últimos acontecimentos, ficava difícil não trazer à mente alguns possíveis homicídios. Nunca era pouco para se precaver.

Eu estava um pouco mais aquecida sob o ar quente do veículo, mas minha tremedeira não abandonava meu corpo nem se eu decidisse pagar. Permanecia encolhida com meus olhos atentos na estrada, evitando encarar minha monitora. A chuva colidia contra o carro e causava um barulho incômodo, mas eu estava bem mais calma.

Charlize não demorou muito em seu percurso. Pouco tempo depois, ela entrava em um condomínio bem-apessoado em um bairro chique, seguindo direto para o estacionamento e parando o carro em uma vaga qualquer. Ela saiu primeiro, segurando um enorme guarda-chuva. Assim que abri a porta para sair contra o temporal, ela se colocou perto de mim e cobriu-me com o objeto.

Nossos corpos foram colidindo um no outro devagar à medida que encaminhávamos para a recepção do prédio. Fiquei receosa em manchar o piso com a lama, mas Charlize me deu um olhar cúmplice, indicando que eu deveria segui-la. Não conseguia dizer nada e tinha dificuldades em fazer meus pés, duros como chumbo, moverem-se no sentido certo.

Entramos no elevador, mas não antes que eu pudesse observar o caminho e decorá-lo. A recepção estava vazia pelo horário, mas era tão glamurosa que eu ficava sem jeito de parar e admirar os objetos. Mas havia gostado da pilastra suspensa no ar, das estantes vintages cheias de livros de páginas amareladas e dos quadros em tons azuis. Até mesmo o elevador parecia antigo, bonito ao olhar, mas que eu jurava ser seguro por mais que ele fizesse um ruído ao subir.

Paramos no décimo andar e seguimos para o apartamento de número 25. Era estranho segui-la para o seu covil, sendo que não nos dávamos nem um pouco bem. Mas ela havia sido minha alma salvadora, minha heroína, que o máximo que podia fazer era ficar agradecida e tratá-la com dignidade.

Charlize possuía um apartamento tão aconchegante e luxuoso quanto ao restante do prédio. A entradaj dava para uma magnífica sala, de piso laminado e de muitas prateleiras recheadas de livros diversos. Minha vontade era debruçar-me sobre eles e ler cada conteúdo, mas não tinha tempo para isso. Meu cansaço mental era tão extremo que a minha vontade era me jogar sobre o sofázão creme e esquecer do mundo, mas infelizmente também não podia fazer aquilo.

— Coloque suas botas aí do lado. Depois tiramos. Acho melhor você tomar um banho — Charlize falou lentamente, indicando os pontos.

Ela praticamente me fez andar pelo espaço, pois eu havia travado na entrada. Encaminhou-me para uma porta próxima da sala, cujo interior era igualmente bem decorado. Uma cama de casal estava disposta no canto do cômodo, perto de outras duas portas, que deveriam ser um banheiro e um closet, pois ela me deixou parada na frente de uma e entrou na outra, saindo de lá com uma muda de roupa seca e limpa.

Era tudo tão harmonioso: estantes chamativas, paredes em tons claros, luminárias perto de criados-mudos de mármore e mesinha para estudo com um notebook em cima. Estava muito em ordem, quase como se ela não tirasse nada do lugar, ou não morasse ali.

— Tem uma toalha no primeiro armário. Você pode tomar banho de banheira ou chuveiro — ela falou, casualmente. Seu olhar de preocupação havia sumido, mas outro tom se misturava nas suas íris celestiais. Ela entregou-me as roupas. — Eu vou preparar algo para comermos.

Eu queria dizer que não precisava, mas ela sumiu pelo corredor. Adentrei o banheiro meio relutante, nervosa com a possibilidade de mexer nos pertences dela. Caminhei pelo piso frio e analisei cada centímetro. Segurava as vestes com extremo nervosismo, mas precisei deixá-las sobre um suporte a fim de não sujá-las.