18 | PANDEMÔNIO

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Eu não aguentei o tamanho do sorriso.

Meus próprios lábios se moveram para tentar formar um desenhinho tão bonito quanto o dela, mas era basicamente impossível. Seu sorriso estava sendo direcionado para mim. Ele era todo meu, sem ninguém para atrapalhar, e eu poderia ficar olhando para ele quanto tempo quisesse.

Sai da pista de dança dando saltinhos empolgados. Eu curvei meu corpo sobre o dela para alcançar meu copo no balcão, mas a aproximidade repentina parecia outra coisa. Eu a vi se afastando por alguns centímetros, mas sem deixar o delicioso sorriso sair do seu rosto. Tomei a cerveja devagar, vasculhando minha mente para trazer alguma boa frase para conversa.

— Vamos dançar? — pedi. Eu não estava no melhor momento, mas eu a queria perto de mim. Absoluta certeza que era por culpa do álcool.

— Ah, eu não danço — ela dispensou com um aceno. — Mas eu gostei de vê-la dançar.

— Meu Deus... você está muito bêbada! — balbuciei. — Eu sou péssima dançando.

— Eu não achei! — ela tocou meu antebraço. O conhecido choque subiu pelo meu cotovelo e travou minha traqueia, afetando meu sistema respiratório. Ela deslizou um dedo pela região exatamente como havia feito anteriormente. O que aquilo significava? — Você pode continuar. Eu estou bem aqui.

— Vem comigo! — tomei coragem para segurar sua mão vazia.

Pensei em largá-la, mas a força que morava nas minhas vísceras me fez segurá-la com mais intensidade. Seus olhos vacilaram nos meus; eram eminentemente azuis como belíssimas e preciosas safiras. Eu já havia visto outros tons da mesma cor, mas os dela me traziam plenitude e conforto, contrariando sua personalidade seca e dura. Perguntava-me como uma criatura humana poderia deter o céu inteiro em duas pequeninas esferas.

— Eu estou bem — ela sussurrou de forma demorada e rouca.

Percebi que uma confusão se iniciava no exterior do bar. Soltei-a somente para assisti-la se levantar e caminhar para fora do estabelecimento. Sentia outro tipo de tensão rondando nossas cabeças. Corri atrás da minha monitora, temendo que ela me deixasse sozinha. A temperatura amena me tocou a pele assim que pisei do lado de fora, mas meus órgãos começavam a borbulhar.

— O que é isso? — perguntei a Charlize, que estava atenta na briga entre dois rapazes. Eu estava tão aérea que era difícil raciocinar de primeira.

— Uma merda completa — ela trincou o maxilar.

— Parem, parem, parem! — um jovem loiro tentou interferir na briga, mas levou um soco no rosto e caiu em uma poça de água. Ele parecia ter perdido a consciência, pois não se levantou em seguida. Minhas mãos foram em sentido da minha boca, tampando meu pavor diante da cena.

Repentinamente, outras pessoas avançaram. Eu podia ver o pandemônio em suas expressões. Elas se esbofetaram, dando chutes e pontapés, puxões de cabelos e arranhões. Mais gente foi chegando e partindo para briga, acumulando desordem para todo lado. Eram socos fortes e aquosos, como se o sangue jorrasse dos cortes recém-abertos, mas ficava impossível visualizar direito do local onde eu e Charlize estávamos. Já não dava para ver os dois primeiros rapazes que começaram a merda, porque a multidão se reunia e o linchamento tomava conta.

— Não se aproxime! — Charlize ordenou. Ela se colocou na minha frente como se fosse me proteger, e eu teria achado a atitude muito bonita se um enjoo não houvesse me dominado.

Dei as costas e sai cega para o curso ao contrário. Ouvi passos nas minhas costas e soube que Charlize me acompanhava. Minha cabeça estava rodopiando, um verdadeiro redemoinho. Cheguei no estacionamento completamente solitário, a fim de me afastar do barulho da briga, mas ainda conseguia ouvir a gritaria intensa. Apoiei minhas mãos em ambos joelhos e, tomando cuidado para não sujar meus All Stars, vomitei toda bebida do dia no gramado.

Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)Where stories live. Discover now