Capítulo 12 - Objetivos

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ㅤ ㅤPor mais que pudesse ser cruel admitir aquilo para alguém, William se sentia um pouco mais limpo. Afinal, não estava mais trabalhando como garoto de programa desde que havia sido contratado por Samantha.

ㅤ ㅤEle não tinha nada contra suas clientes e o sexo com elas, muito pelo contrário. Gostava da maioria e ainda se divertia em suas conversas. O problema era a situação que o envolvia ali. Elas não queriam um amigo e alguém que poderia gerar um momento legal de intimidade. Elas queriam a intimidade por completo, e o homem não poderia falhar em seu trabalho. Copperfield nunca havia desagradado uma cliente, sempre sendo capaz de satisfazê-las, mas a consciência de que falhar era algo impensável já soava como pressão suficiente para sua mente.

ㅤ ㅤ Aliás, seu corpo era completamente seu meio de sobrevivência. Pelo menos, em partes. Sabia que boa parte de sua renda ainda era, de modo vergonhoso para ele, vinda de seus pais. Sua mãe, principalmente. Se seu pai descobrisse que ainda o sustentava, provavelmente enlouqueceria. Mas o que ganhava, usava em coisas que realmente não queria ajuda financeira para pagar. E, apesar de sua mãe ser totalmente contra o que ele fazia, ainda o amava e apoiava as outras escolhas que o filho tinham feito, mesmo estas sendo contra as de seu pai.

ㅤ ㅤCopperfield sempre cuidara de sua saúde e sempre se esforçou em manter em dia seus hábitos alimentares, de modo a garantir a quantidade certa para seu corpo se manter definido, além de fortalecer sua imunidade. Rara foram as vezes que havia ficado doente. Mas quando ocorria, eram diversos cancelamentos de atendimento e menos dinheiro em sua conta. O principal motivo que o levou a se mudar, inclusive, era o fato de que sua nova vizinha no prédio anterior vivia muito doente e não parava de visitá-lo, o tornando ainda mais suscetível a pegar alguma doença. A ideia de ficar dias e dias sem poder receber havia o apavorado, de modo que optou por se afastar.

ㅤ ㅤNo final das contas, quem diria, ele largou a profissão de vez agora que se mudou. Não só por causa da oferta de Samantha, mas também pelo fato de que seus outros compromissos pareciam ocupar cada vez mais seu tempo. Estava ficando cada vez mais difícil encaixar os atendimentos em sua agenda, ao mesmo tempo que precisava deles para conseguir manter sua renda.

ㅤ ㅤMas as coisas estavam evoluindo. E ele acreditava que finalmente poderia largar aquela profissão.

ㅤ ㅤEstava cansado de se manter sozinho. Lembrava-se das amizades que tivera após a faculdade, cuja maioria se mostrava mais interessada em ser atendida de graça do que ter apenas uma conversa. Quando se deu conta, não tinha mais amigos, podendo contar apenas com sua mãe e o ódio de seu pai.

ㅤ ㅤEra estranho pensar que agora tinha Wipperfield como sua amiga. A garota que ele achou que passaria o resto dos dias naquele condomínio apenas implicando se tornou a pessoa mais próxima que ele tinha. Era óbvio que não haviam se tornado extremamente próximos, principalmente pela circunstância que haviam começado a conversar. Mas as coisas estavam evoluindo entre eles. Após o convite para a formatura da garota, os dois começaram a conversar mais. Trocavam algumas mensagens, chegando até a sair duas noites, uma no cinema e outra para jantar. Não havia saído nada além de conversar ali. E, por mais que William estivesse há semanas sem transar, ele não sentiu nenhum desconforto por estar tão perto de alguém tão bonita, sem fazer nada sexual.

ㅤ ㅤSamantha era encantadora. Por mais que ela implicasse com William em alguns momentos, o homem não podia deixar de sorrir diante de suas atitudes. E sua companhia já era o suficiente para ele se sentir bem, sem precisar de contatos físicos para isso.

ㅤ ㅤEle não podia negar que ainda sentia um forte interesse por ela. E se ela o quisesse, ele não pensaria duas vezes. Mas, naquele momento, apenas tê-la por perto, já era suficiente para deixá-lo feliz.

ㅤ ㅤApós ficar um tempo sem trabalhar usando seu corpo, começou a perceber como sentia saudades daquilo. Gostava de transar, mas ter aquilo como obrigação, para garantir seu sustento, havia se tornado cansativo e até diminuído o prazer que era ter relações. Via-se apenas como alguém profissional, pronto para encontrar cada ponto sensível da mulher. Havia estudado o corpo humano por diversos semestres, de modo que sabia mais das partes íntimas e as reações do corpo, do que muitas outras pessoas. Isso facilitava seu trabalho, mas era um pouco deprimente pensar que havia gastado anos em uma faculdade para usar suas informações apenas para sexo.

ㅤ ㅤTudo bem, ele não podia negar que usava seu conhecimento muito mais do que apenas para isso. Ainda tinha suas outras ocupações. Ocupações essas que exigiam dinheiro, mas não davam nada em troca. Não enquanto ele não encontrasse respostas. Mas finalmente estava perto de obter resultados, ele acreditava nisso. Mas mais pesquisas ocasionava em mais custos, o que dificultava totalmente o processo. 

ㅤ ㅤEle tinha onde fazer seus estudos, felizmente havia um pequeno patrocínio que disponibilizava o laboratório. Isso não significava que tinha acesso a tudo. Produtos externos, maquinários, muitas vezes eram necessários ser pagos com dinheiro do próprio bolso. Bolso esse que estava ficando cada vez mais vazio.

ㅤ ㅤPor isso, William havia deixado o orgulho de lado e começou a trabalhar em pequenos serviços que nada tinham a ver com seu curso. Havia feito algumas entregas para algumas lojas e havia tentado trabalhar temporariamente em um restaurante como atendente, substituindo um conhecido que havia ficado doente. Inclusive, por mais que quisesse parar de usar seu corpo, foi algo inevitável e bem-vindo. Uma de suas clientes o contatou, perguntando se ele não estaria disposto a tirar algumas fotos para um ensaio fotográfico de roupas de praia, em troca de uma grana considerável. No desespero, o homem aceitou na hora a proposta.

ㅤ ㅤHavia sido um pouco vergonhoso o modo que era tratado, principalmente pela sua antiga cliente, que parecia querer se mostrar extremamente íntima com ele. Mas no fim, tudo correu bem. Precisou fugir do convite para sair com ela depois, sabendo o que aquilo significava, mas o fez da maneira mais sutil que pode.

ㅤ ㅤEm compensação, aquele ensaio lhe garantiu mais alguns dias de tranquilidade. Mas ele precisava avançar em sua situação. Apesar de conseguir manter suas pesquisas, não conseguia manter a si mesmo. E uma hora seu pai ia acabar descobrindo a situação que ele se encontrava e finalmente conseguiria levar ao fracasso do filho. 

ㅤ ㅤParou de caminhar com aquele pensamento. Precisava resolver sua situação, mas sabia que precisava resolver rápido. Sua solução envolveria um emprego fixo, com horários determinados. Considerando como sua vida estava, sabia que isso prejudicaria muito suas pesquisas e, inclusive, poderia acarretar em prejuízos.

ㅤ ㅤSó havia um modo de resolver aquilo. O pior modo, era óbvio. Sentou-se em um banco perto de algumas lojas, encostou os cotovelos nos joelhos e apoiou a cabeça nas mãos, pensativo.

ㅤ ㅤNão sabia quanto tempo ficou naquela posição, até ouvir seu estômago roncar, o fazendo crer que não ficara apenas alguns minutos ali. Se levantou, finalmente, indo para um restaurante próximo comer alguma coisa.

ㅤ ㅤNa sequência, iria resolver sua vida. Seguir o conselho de Samantha e mostrar seu potencial. Mas para isso, precisaria de uma pequena ajuda antes. 

Namorado de AluguelWhere stories live. Discover now