5: Time

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NEIL

Riko sempre fazia isso, era como se tivesse um sensor que apitasse toda vez que nós começamos a nos divertir. Noite passada foi um exemplo disso. Estava tendo uma noite agradável e ele nos chamou do nada, apenas para nos tirar de lá e matar o clima.

Me perguntei várias vezes se ele podia sentir o que sentíamos e se era por isso que, décadas atrás, em uma virada de ano quando eu, Jean e Kevin bebemos, dançamos e nos divertimos como nunca, perto da meia noite, quando os dois estavam quase se beijando - e eu lembro de pensar finalmente -, Riko nos chamou com uma das piores dores que ele já nos fez sentir.

Nunca soube se ele realmente tinha uma forma de sentir nossas emoções e preveniu que caso Jean e Kevin se beijassem acabassem afogados, ou se fora apenas uma coincidência.

Não sei o que acontece quando dois criados da água se beijam, se tem o mesmo efeito que em humanos ou é como um beijo normal. Depois daquela noite os dois fingiram que nada aconteceu, não tocaram no assunto e muito menos tentaram novamente.

Noite passada Riko nos chamou, para absolutamente nada. Usou a desculpa que estava decepcionado com as oferendas da noite mas não era preciso muito para ver que não era isso que o incomodava. Não sei o que era, não perguntamos. Nunca perguntamos.

Na noite passada também fotografei uma banda, uma ótima banda, e fiquei encantado pela voz do vocalista - eu poderia negar e dizer que não, mas depois de tantos anos é mais fácil admitir logo de cara -, mas fui tirado de lá antes de poder conhecê-lo e o resto da banda.

Por acaso, acabei me encontrando com ele na praia perto da casa onde moro, a praia que sempre vou caminhar para tirar foto por ser deserta e relaxante, ou eu pensava ser assim.

Não tinha ninguém, exceto ele que estava tão belo sentado na areia, olhando o mar, deixando os braços penderem nas pernas, e no momento em que ele tragou o cigarro e lentamente deixou que a fumaça escapasse de sua boca, eu o fotografei.

Sei que não foi certo fazer isso sem permissão, mas o momento estava tão perfeito que não pude evitar e, felizmente, isso nos rendeu uma pequena conversa que em certo momento parecia flerte. Ou eu poderia estar viajando total, mas gostava de pensar que a primeira opção era a correta. E pude me aproximar e vê-lo de perto, com meus próprios olhos e não através da lente de uma câmera, coisa que não consegui fazer bem no October's House (preciso perguntar sobre o nome do bar para as meninas depois).

Ele tem os cabelos mais claros do que pareciam, a pele mais pálida e os olhos cor hazel que mais pareciam dourados ao pôr-do-sol. Era... lindo.

Estava sendo um momento agradável, eu sempre evitava conversar com pessoas que não fossem Kevin e Jean, clientes ou as "oferendas". Jesus, como eu odeio essa expressão.

Estava sendo um momento agradável. Mas Riko tinha que estragar qualquer vestígio de felicidade como sempre. Indireta e diretamente.

Pelo menos Andrew me deixou ficar com a foto.

***

Quando cheguei em casa, Kevin e Jean estavam vindo da direção do mar - provavelmente conversando com Riko pela mensagem desesperada que mandaram.

Kevin andava com a cabeça baixa e alisando as costas de Jean que parecia querer vomitar. Ele sempre ficava assim depois desses encontros.

- Neil, finalmente - disse Kevin levantando a cabeça e olhando em minha direção. - Achamos que teríamos que sair procurando você pela cidade.

Encolhi os ombros, odiava deixá-los preocupados.

- Eu estava tirando fotos aqui perto. O que aconteceu?

The Devil and The Deep Blue Sea || (completa)Where stories live. Discover now