18: Tobacco Sunburst

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NEIL

Depois daquele dia, Andrew veio todos os dias. Às vezes ele passava horas, às vezes só alguns minutos para poder me checar.

Nesses dias em que ele vinha, Andrew sempre sabia o que fazer. Quando ele disse que estava acostumado a conversar com alguém que não respondia eu sabia que não era mentira, então ele sempre falava sobre algumas coisas aleatórias ou contava sobre o bando dele enquanto eu escutava. Às vezes, quando Andrew não queria conversar, ele trazia e tocava alguma música na sua guitarra, isso me fez entender melhor seu gosto musical.

Jean e Kevin me ajudaram bastante também, quando Andrew não estava eles vinham, às vezes os dois juntos, às vezes um de cada vez mas sempre me fazendo comer. Jean conseguiu que eu voltasse a falar quando me contou que ficou abraçado com Kevin na noite em que voltei. Aquilo me deixou tão surpreso que tive que enchê-lo de perguntas e os olhos dele brilhavam, não sei dizer se fora pelo fato dele ficar de chamego com Kevin ou por eu ter voltado a conversar, talvez as duas coisas suponho. Também voltei a conversar para poder xingar Kevin por não ter me contado sobre, ele fingiu estar irritado mas pude vê-lo sorrindo.

Às vezes Andrew colocava algum filme. Um dia ele colocou Jane Eyre e começou a repetir as falas da cena "Am i a machine without feelings?" imitando um sotaque britânico horrível que me fez rir, decidi naquele momento que iria voltar a falar com ele também, usei meu sotaque, que eu tanto me esforçava para esconder, para repetir as falas do sr. Rochester enquanto ele repetia as da Jane. Quando comecei ele apenas me olhou com os olhos dourados cintilantes e sorriu de canto mostrando uma covinha. Senti que poderia me derreter com aquele olhar e aquele sorriso.

Quando o filme acabou, Andrew começou a pegar suas coisas para poder ir embora, abracei minhas pernas contra o peito e encostei a cabeça nos joelhos o observando.

— Onde aprendeu a falar com um sotaque britânico tão perfeitamente? — ele perguntou subitamente me fazendo endireitar e limpar a garganta.

— Nasci na Inglaterra mas me mudei para os Estados Unidos há alguns anos — não era mentira. Andrew continuou me encarando como se esperasse algo mais, então voltei a usar o sotaque. — Por quê? Você gosta de garotos britânico, querido?

Manti seu olhar tentando não corar, ainda mais quando ele mudou seu olhar abaixando um pouco as pálpebras e sorrindo maliciosamente. Ele passou a língua pelo lábio inferior e disse:

— Sabe Josten — ele disse lentamente e com um tom de voz baixo e sedutor —, acabei de descobrir que sim, eu gosto.

Isso foi o limite pra mim, senti o rosto queimar. Andrew me encarou por alguns segundos antes de sair.

Andrew veio todos os dias, menos nos últimos dias, ele disse estar ocupado. Tudo bem, ele tinha vindo todos os outros dias, isso era muito.

Quando tive que voltar a buscar oferendas foi difícil, como se eu estivesse fazendo pela primeira vez. Pensei que fosse vomitar, por pouco consegui segurar. Jean e Kevin me mimaram mais ainda quando viram minha cara ao voltar, acho que ainda tinham medo.

Por um mês Andrew mal falava comigo, apenas conversas rapidamente quando nos encontrávamos na faculdade. Me perguntei se tinha feito ou falado algo de errado. Talvez eu não devesse ter flertado com ele tão descaradamente, mas ele não parecia ter odiado isso.

Ocupado. Ele disse que estava ocupado. Não tinha razão para pensar que isso era sobre mim, mas o que será que o mantivera tão ocupado? Eu meio que sentia sua falta depois de passar praticamente todos os dias com ele.


ANDREW

Neil tinha voltando a falar e isso era ótimo, incrível. Exceto que, quando ele decidiu voltar a fazer isso, foi recitando as falas do sr. Rochester na porra de um sotaque britânico impecável e repetindo o mesmo me chamando de querido. Tive que fazer um esforço heroico para que ele não notasse como aquilo havia me agradado. Neil tinha muitas surpresas interessantes guardadas, gostaria de descobrir todas.

The Devil and The Deep Blue Sea || (completa)Where stories live. Discover now