24: 98 Degrees

285 50 37
                                    

KEVIN

Jean ainda estava agarrado a mim quando acordei, seu rosto e corpo ainda estavam tensos e ele tinha pequenas olheiras roxas abaixo do olho. Me movi devagar para não acordá-lo, pela janela pude ver que o sol estava se pondo. Desci para a sala.

Tentei pensar no que tinha acontecido. Neil beijou Andrew — não consigo pensar em nem um outro humano pelo qual ele faria isso —, ligou para Jean se despedindo, e, pela chamada perdida no meu celular, ele tentou fazer o mesmo comigo. Neil se ofereceu para servir Riko por mais cem anos, então provavelmente Andrew estava vivo. Não sei, não me importo. Não quando Neil tinha partido.

Para onde Riko tinha levado Neil? O que ele estava fazendo com ele? Eu não podia deixar isso acontecer, não podia deixar Neil sozinho com Riko. Eu precisava fazer algo, precisava achar Neil.

Eu estava prestes a abrir uma garrafa de vodka quando Jean desceu as escadas correndo quase tropeçando nos próprios pés e parou na minha frente pálido, o rosto amassado e o cabelo bagunçado. Ele me abraçou forte e seu coração parecia acelerado. Me sentei com ele no sofá passando a mão pela parte de trás da sua cabeça, estava úmida de suor.

— O que foi? — perguntei preocupado. — O que aconteceu?

Jean apertou minha cintura e depois soltou para se endireitar e olhar para mim.

— Eu tive esse pesadelo em que eu via Neil indo embora com Riko e eu não conseguia impedir — ele passou uma mão pelo cabelo —, não conseguia entrar no mar. Então eu acordei e você não estava mais comigo e pensei... — sua voz falhou. — Pensei que talvez você tivesse ido também, que você tinha dito sim para Riko enquanto eu dormia e ele tinha te levado também.

Ele virou o rosto enquanto falava e encarava minha garrafa na mesa.

— Não, isso... — segurei o rosto dele forçando-o a me encarar. — Eu não faria isso. Eu não te deixaria, Jean.

Jean engoliu em seco e mesmo que eu segurasse seu rosto ele ainda podia desviar seus olhos, e foi o que ele fez.

— Você poderia — ele disse baixo.

Onde ele queria chegar com isso? Ele queria que eu...

— Poderia — senti Jean enrijecer. — Mas já perdi Neil, que era como um irmão pra mim. Não posso perder você também.

Jean olhou para mim antes de olhar para baixo. Soltei seu rosto e ele riu tristemente. Franzi o cenho.

— Por que sou como um irmão também, não é? — Ele deitou no encosto do sofá e descansou a cabeça no topo e murmurou: — Acho que Neil estava errado.

— Seria um problema se eu te visse como um irmão? — Perguntei confuso. — E sobre o que ele estava errado?

Jean encarava a garrafa de Vodka, parecia tão cansado.

— Sim, seria — ele disse suspirando, como se eu estivesse sendo ridículo ao perguntar isso. — E não importa.

Considerei antes de responder.

— Que bom que nunca te vi assim então.

Jean abriu os olhos e me olhou como se eu tivesse dito algo absurdo.

— Não?

Balancei a cabeça.

— Não.

Um pequeno sorriso se formou em seu rosto, um pequeno e adorável sorriso. Pensei que queria beijá-lo até o ouvir gargalhar, até que ele não estivesse triste mais. Isso era possível? Provavelmente não. Ainda mais na nossa realidade.

The Devil and The Deep Blue Sea || (completa)Where stories live. Discover now