28: Francesca

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JEAN

Andrew foi o primeiro a acordar, demorou dois dias, e quando aconteceu ele estava arrancando o soro do braço e exigindo ver Neil como se estivéssemos mantendo ele em cativeiro.

O médico vinha pelo menos uma vez ao dia checar se tudo estava bem e desaparecia até o dia seguinte. Ele sempre dizia que Neil estava bem e que não tinha nada de errado com seu corpo e que devíamos esperar mais um pouco.

No começo Andrew não conseguia falar muito, a garganta estava machucada e roxa. Mas não era como se ele tentasse já que estava praticamente acampando no quarto de Neil. Ele saia poucas vezes do lado de Neil e ficava sempre com uma postura protetora e alarmada ao seu lado, olhando desconfiado para todos que chegavam perto. De certa forma era fofo ver isso, me deixava feliz saber que Neil tinha alguém assim ao seu lado.

Aaron tinha voltado a ir a faculdade, decidido a não pensar sobre tudo que aconteceu — ele disse que enlouqueceria caso pensasse muito, porque se sereias existiam o que mais existia que ele não sabia? — , mas sempre vinha aqui depois das aulas para olhar se o irmão estava bem e ver se Neil já tinha acordado.

Kevin estava sempre em alerta, ele tinha medo que Riko voltasse, então qualquer ruído que ele escutava pela noite era motivo para ficar na defensiva e não voltar a dormir mais. Tentei acalmar ele dizendo que isso era impossível já que Neil tinha literalmente arrancando a cabeça de Riko, mas Kevin ainda estava muito assustado para ver o óbvio.

Sinceramente, eu também estava.

Decidimos mudar de casa, um apartamento longe da praia. Eu estava cansado de ver o mar, e toda vez que eu olhava em sua direção era como se vivesse aquela noite toda novamente. Toda vez que eu tocava a areia me lembrava de Jeremy. Eu queria odiá-lo mas não conseguia, sabia que ele estava tão desesperado quanto nós. Jeremy era apenas mais uma vítima. Jeremy era meu amigo.

Eu estava no chão desempacotando alguns livros quando Kevin se aproximou agachando e limpou uma lágrima que escorria pela minha bochecha. O cenho dele estava franzido e eu podia ver a preocupação em seus olhos. Gentilmente Kevin me envolveu em seus braços e eu poderia morar nesse conforto e em seu cheiro.

— Tudo bem? — Ele perguntou suavemente.

Aconcheguei minha cabeça na curva de seu pescoço.

— Sim — apesar de tudo eu me sentia bem. — Um pouco cansado.

Kevin afagou meu cabelo e não me largou, ele deixou que eu me acalmasse em seu abraço quente e amoroso.

Alguém fingiu tosse e olhei na direção da porta para encontrar Andrew com os braços cruzados e encostado no vão da porta, Aaron logo atrás desviando o olhar como se fosse algo íntimo demais para ser visto.

Kevin se afastou e me olhou nos olhos deixando a mão escorregar uma última vez pelos fios do meu cabelo e se sentou na cadeira da minha escrivaninha. Continuei sentado no chão, Andrew continuou na porta e Aaron se sentou na ponta da minha cama.

— Vocês dois já testaram? — Andrew olhou para mim e para Kevin.

— Testamos o que? — Kevin perguntou.

Aaron deu um olhar de censura para Andrew que ignorou.

— Se vocês ainda são tipo anjos da morte — ele falou sem emoção —, beijou morreu.

Aaron abriu a boca incrédulo pela forma que Andrew tinha dito aquilo, isso quase me fez rir.

— Não, não testamos — admiti. — Não sei o que faria se essa maldição continuasse em mim.

The Devil and The Deep Blue Sea || (completa)Where stories live. Discover now