Capítulo 23

6.7K 501 18
                                    

Fernanda

Ainda era muito cedo, o dia não havia amanhecido e Raul dormia relaxado ao meu lado. Eu adorava admirá-lo enquanto dormia, acredito que seja um dos poucos momentos que ele consegue se desligar por completo. Às vezes eu sinto como se ele tentasse ser mais racional em relação a nós dois e eu entendo completamente a sua atitude. Se eu tivesse uma filha como Clara também ficaria com o pé atrás. Ela é perfeita. Parece que nos conhecemos há muito tempo e só de pensar em ficar longe já sinto meu peito doer.

Entre Raul e eu ainda há muito água pra passar debaixo da ponte. Eu tenho tantas perguntas, principalmente sobre a mãe de Clara. Quero saber mais sobre eles, sobre ele. Quando estamos juntos é maravilhoso, é leve e natural. No entanto parece que existe uma barreira, criada por ele, evitando que nós nos aproximamos mais. E ainda tem a conversa que tive com o Bruno, também preciso esclarecer essa questão.

Não quero mal entendido entre nós, e espero que com o tempo e a intimidade que estamos criando tudo flua da melhor maneira. Ao contrário do que Bruno supôs no início do nosso encontro na tarde de ontem, eu não vejo Raul e Clara como uma aventura. Um interesse que será passageiro. Claro que cheguei ao Rio com a intenção de curtir, passear... Mas ao conhecê-los tudo mudou.

Lá na fazenda sempre fui super protegida, não que esteja reclamando, longe disso. Eu amo a forma como as coisas são na minha casa. Sempre cuidamos um do outro, nos protegemos, amamos sem medida e entendo a preocupação e o cuidado deles em relação a mim. Mas às vezes me sentia sufocada e ter vindo pra cá foi sem dúvida a melhor coisa que fiz na minha vida.

Eu sempre sentia que tinha algo aqui pra mim e tenho certeza que eram eles. Raul e Clara estavam destinados a serem meus. Sempre foram. Não sei o que será de mim se por acaso Raul não quiser manter nosso relacionamento ou se por algum acaso nós terminarmos.
Mas de uma coisa eu tenho certeza absoluta: Nunca mais ficarei longe dela, Clara é como um anjo, onde ela chega tudo se ilumina.
Só de estar perto dela me sinto alguém melhor e a saudade de casa parece abrandar um pouco.

Viverei o momento, aproveitarei cada dia ao lado deles, dando-lhes todo amor que tenho em mim, o que aprendi na minha casa com minha família. Apesar de serem muito amorosos um com o outro, Raul e Clara vivem praticamente sozinhos. A presença da mãe e da irmã, que eu ainda nem conheci, não são frequentes por aqui. Dona Rosa é a única presença diária feminina, além de mim.

Levantei com muito cuidado para não fazer nenhum barulho, segui para o banheiro e após um banho rápido me preparei para o dia. Ainda estava escovando os dentes quando Raul se aproximou e me abraçou por trás descansando sua cabeça em meu ombro.

— Bom dia! Você acorda muito cedo.

— Bom dia! É o costume da fazenda.

Ele me fitou nos olhos e um tempo depois quando terminei ele perguntou:

— Você sente muita falta de lá?

— Sinto sim, é tudo tão diferente daqui. O ar é mais leve e limpo, os cheiros são tão intensos. O cheiro do mato, das flores, das árvores, dos bichos... 
Os sons. Ah, principalmente os sons. Aqui é tudo muito barulhento, as pessoas estão sempre apressadas, não reparam em nada. Na fazenda estamos sempre atentos ao som de algum animal, pode ser que ele esteja em perigo, ou pedindo ajuda. Talvez esteja com dor. O barulho de um automóvel chegando sempre nos chama atenção por não haver essa correria de trânsito que é aqui. — Sorri ao me lembrar desses detalhes e continuei enquanto Raul ainda estava agarrado a mim me olhando através do espelho.

— Quando coa café, o aroma se espalha pela casa toda e logo as pessoas começam a chegar para beber. Quando minha mãe ou tia Tereza assa alguma coisa o perfume também se alastra, parece que a propriedade toda é tomada por aquele cheiro de comida fresca, de bolo, pão...

Laços de Amor (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now