PORCuração judicial - Mateus Cantele

37 4 0
                                    

Baseado em Os três porquinhos


Quando a Lupinus SA chegou na floresta, ninguém havia se importado. Até a chegada da primeira intimação judicial. Dona coruja estava sendo processada pela empresa por invasão de propriedade. Segundo o advogado estrangeiro Sr. Pinguim, a senhora, ao fazer seu ninho em propriedade alheia, sem possuir documentação, infringiu um bom número de leis. Não sei se você já viu uma coruja chorar, é de partir o coração.

Os três porcos até tentaram argumentar contra o Sr. Pinguim, "Documento? Isso é uma floresta, moço, documento é coisa de gente da cidade". Mas o baixinho de fraque estava irredutível. Talvez fosse o mau humor vindo do calor. O pequeno suava de escorrer pelo bico. Enquanto falavam, saiu dizendo que voltaria mais vezes. Havia muita gente ali na mesma situação.

A associação da floresta se reuniu em caráter extraordinário. Dona Pata tentava ganhar no grito, dizendo que iam tomar o lago também. Os sapos coaxaram em concordância repetitiva. Os porcos pediam calma, mas o ambiente era de insegurança. O Sr. Raposo dizia que a empresa estava certa e que a floresta devia se adequar à nova realidade. Foi o suficiente para fazer com que o resto de ordem fosse abaixo. O caos tomou conta e tiveram que separar uma briga entre o ganso e o peru.

Os dias que se seguiram foram de tensão. Quem seria o próximo intimado? A dúvida findou quando o Pinguim bateu palmas na frente da casa de palha.

Quando os porcos abriram a carta, se depararam com o seguinte texto:

"Nos termos do art. 455 do código de processo animal é a presente para intimar Vossas Senhorias para comparecerem, na qualidade de réus que será realizada amanhã, no raiar do dia, na Vara (de porcos) de Floresta das Fábulas, localizada na sede da Lupinus SA... Juridiquês Juridiquês Juridiquês... Assinado Senhor Pinguim Gelado. Ordem de Advogados Avianos... Juridiquês Juridiquês."

Não preciso nem contar que perderam de lavagem. Tiveram 24 horas para sair de sua casa de palha e arrumarem outro canto para morar. Sorte que um dos irmãos era marceneiro e por isso tinha construído uma casa rústica e mal montada de madeira que serviria até que eles arrumassem outro lugar melhor.

Começou a arrumação, taparam os buracos e precisaram ir à cidade para conseguir pregos para reforçar as paredes que balançaram. Em quatro dias já dava para chamar o barraco de lar. Arrumaram as coisas e sentaram-se, satisfeitos pela sensação de ter novamente um teto sobre a cabeça. Daí ouviram a voz irritante chamar na porta. Era o Sr. Pinguim. Mais carta. Mais juridiquês:

"Nos termos do art. 2345678 do código de processo animal é a presente para intimar... Juridiquês... Assinado Senhor Pinguim Gelado..."

O irmão marceneiro jogou a carta no chão. Explicou aos outros que segundo a lei era proibido fazer casa de alvenaria em área florestal e por isso deviam comparecer a outra audiência.

A audiência veio e foram jogados na lama, não no bom sentido. Sentaram-se tristes num toco de árvore, novamente despejados. Os funcionários da Lupinus SA botando abaixo sua segunda morada. Não sabiam o que fazer. Foi a dona galinha que chegou com a solução.

Tinha recebido um panfleto de um novo condomínio com vagas para novos moradores. Era colorido e tinha a foto da Cocórolina Diekman perto do ator Hollywoodiano Babe, o Porquinho e do Touro Bandido. O logo era dourado e rebuscado, coisa chique.

Sorriram com a solução encontrada. Só precisavamse inscrever e estariam em casa de tijolo, com documento passado, afinal, tinhaaté gente famosa participando da propaganda, devia ser negócio sério. Mudaramna manhã seguinte e viveram felizes no "condomínio FRIÓTIMO - Bovinos, suínos eaves". Enquanto a vida durou, é claro.

Era uma vez um final distópico - contosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora