As crianças desaparecidas - Thiago Schelles

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Baseado em O Flautista de Hamelin


— Responda a minha pergunta! — O grito veio seguido de um bofetão.

Eu queria pedir que o capitão tivesse mais controle, mas me limitei apenas a reacender as velas que foram apagadas pela violência do tapa.

— Eu não sei — respondeu o flautista entre suspiros nervosos. Na sua face, uma pequena linha de sangue escorria do seu nariz até o queixo. — Eu já disse que eu não sei!

O capitão desferiu um soco no flautista que o fez cair no chão. Em seguida, se aproximou do rosto do homem caído e gritou:

— Não teste a minha paciência! Se você não me falar eu juro que eu...

— Albrecht Webber! — A voz potente vinha de Franz Rech, prefeito de Hemelin. — Pelo amor de Deus, homem! Levante o prisioneiro!

— Sim, senhor — respondeu Albrecht, e levantou o flautista a contragosto.

— Desamarre-o.

— Mas, senhor...

— É uma ordem, Webber!

Albrecht desamarrou as mãos do flautista.

O capitão não poupara esforços nem brutalidade para manter o bardo bem preso. Não o julgo, talvez eu tivesse feito o mesmo, afinal, o filho mais novo de Albrecht havia sido uma das crianças desaparecidas.

— Eu preciso fazê-lo falar, senhor!

— Para ele falar, precisa estar vivo — disse o prefeito. O capitão engoliu a saliva e balançou a cabeça em concordância. — Você poderia conversar comigo? Em particular?

— Mas e o bardo? Vou deixá-lo sozinho?

— O Schultz toma conta dele, não é, Schultz?

Balancei a cabeça dizendo que sim.

O prefeito, dois conselheiros e o capitão saíram da cela úmida e escura. Havia apenas a velha cadeira em que o flautista estava amarrado e uma mesa pequena com duas velas acesas.

Caminhei até o flautista e fiquei de pé na sua frente. Coloquei minha mão direita sobre o pomo da minha espada e o olhei. O prisioneiro estava com a cabeça baixa. O soco de Albrecht havia feito que seu olho esquerdo quase se fechasse devido ao inchaço.

— Olhe para mim agora!

Ele levantou a cabeça. Seus lábios tremiam.

— Qual o seu nome?

— Eu já disse meu nome! — ele gritou. Saquei minha espada com toda a velocidade e precisão, parando a poucos centímetros do seu pescoço. Ele nem se mexeu. Ficou me olhando nos olhos.

— Mikhayl. Mykhayl Lunenkurg — ele disse, sem nem ao menos piscar. Guardei a espada novamente e fiquei olhando para ele.

— Onde estão as crianças?

— Eu já falei! Não sei de criança nenhuma! Eu estava em Buckeburgo! Não teria como eu sumir com trinta crianças e chegar até lá antes de vocês me acharem! Quantas vezes eu terei que falar isso?

Fiquei olhando Mykhayl por um tempo, balancei a cabeça e saí da cela.

* * *

— Desgraçado! — Albrecht gritava contra o prefeito, que havia mandado que ele não se envolvesse no caso do flautista. — Quer dar moleza para esse bardo?

— Senhor — falei. — Talvez o prefeito esteja certo. Colocar emoção para solucionar esse caso pode prejudicar o...

Antes que eu pudesse terminar a frase, Albrecht Webber me empurrou com suas mãos enormes e gordas e me colocou contra a parede.

Era uma vez um final distópico - contosWhere stories live. Discover now