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Cecilia Albuquerque

    Assim que entramos no carro expliquei pra ele onde eu moro.

— Pô, mó perto da minha casa. - Ele disse — Nem vai me dar tanto trabalho.

— Eu por acaso dou trabalho, Enzo? - Olhei com cara de brava, tentando não rir.

— Dá não, pô. Só bateu no meu carro um dia desse. - Respondeu irônico.

— Falei e vou falar de novo, eu deveria ter batido com mais força. - Brinquei com ele.

— Prometo parar de zuar, mas só por hoje. - Falou enquanto ligava o carro.

— Acho bom. - Falei fazendo carinha de metida e ele me olhou de cara feia.

Me dei a liberdade de ligar o som do carro pra dar aquela descontraída.

— Muito abusada, mané. - Falou negando com a cabeça e eu ri.

— Sim, sou mesmo. E aquela cadeirinha ali atrás? - Perguntei e ele me olhou rapidamente

— É da minha irmã. Geralmente levo e busco ela na escola, mas hoje sei lá porque não teve aula na escola dela. - Deu de ombros.

— Eu não sabia que tu tinha irmã, quantos anos? - Perguntei realmente interessada.

— 5 anos, pequenininha pô. - Respondeu.

— Nossa, me dou tão bem com crianças. Uma paixão minha. - Admiti.

— Tu tem irmãos? - Ele perguntou.

— Não, infelizmente filha única. - Respondi fazendo bico.

— A Lara é a minha vida pô, de verdade. Eu posso ter um dia péssimo mas se eu ver o sorriso dela, já era. - Ele falou com um sorrisinho de canto, o que me fez sorrir junto.

— Ai que gracinha. Seu pai deve se orgulhar muito da relação de vocês. - Assim que eu disse isso ele mudou a postura rapidamente e suspirou.

— É complicado... - Ele falou pensando longe e eu assenti.

    Como vi que era um assunto que parecia deixar ele desconfortável, resolvi não insistir.

— Mas e aí? o que você cursa? - Perguntei mudando de assunto.

— Mó curiosa, maluco. - Falou rindo e eu empurrei o ombro dele — Odontologia e você?

— Ah, é verdade. Você tinha falado alguma coisa sobre. - Respondi me lembrando da vez em que ele disse que o campus de Odonto ficava longe — Eu faço Psicologia.

— Tá explicado a curiosidade, pô. - Ele falou de um jeito engraçado como se tivesse acabado de juntar as peças de um quebra-cabeça.

    O resto do caminho fomos em silêncio, mas aquele silêncio de boa, sabe? Aquele tipo de silêncio que não é desconfortável, ainda mais com música de fundo.

    Passou uns minutinhos e entramos na rua do meu prédio.

— Tá entregue, capitã. - Debochou.

— Obrigada, capitão. - Falei e ele riu. — Mas sério, obrigada mesmo. — Agradeci de novo enquanto tirava o cinto.

— Que isso, não precisa agradecer. - Disse me olhando atento.

Aquela PessoaWhere stories live. Discover now