Aquela Pessoa

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Cecília Albuquerque

Acabou as apresentações dos colegas da Lara e nós fomos em direção a saída.

— Papaaaai. - A Lara saiu correndo abraçando um homem, que eu deduzi ser o pai dela e do Enzo.

— Ô meu amor. - Ele se abaixou pra ficar da altura dela — Desculpa o atraso do papai. - Ele disse fazendo o Enzo revirar os olhos em seguida.

— O Enzo apresentou no seu lugar, papai. Ele foi demais. - Ela disse toda empolgada olhando pro Enzo, que deu um sorrisinho de leve.

— Papai perdeu a hora no consultório, mas vai recompensar levando vocês pra tomar um sorvete. - O pai deles disse sugestivo e a Lara concordou toda animada.

— Pode levar a Lara, eu tenho umas coisas pra resolver. - O Enzo disse seco, cortando o convite de imediato.

— Tem certeza? - O pai dele perguntou meio sem graça, provavelmente por saber o motivo do Enzo estar agindo assim tão estranho com ele — E você, moça bonita? Namorada do Enzo? - Perguntou todo simpático.

— Não. Só amiga mesmo. - Eu disse dando um sorrisinho sem graça.

— Então vamos. - O Enzo disse pra mim — Tchau, pequena. Mais tarde a gente se vê, beleza? - Ele deu um beijo na Lara se despedindo dela e eu fiz o mesmo.

— Tchau, Ceciiiii. - Ela disse me abraçando forte - Vai lá em casa me ver, tá bem?

— Tá bem, minha princesa linda - Eu disse dando beijinhos pelo rosto dela — Pode deixar, que eu vou sim.

Depois de nos despedir do pai dele, seguimos pro carro em silêncio, até porque o Enzo não tava com uma cara muito boa depois que viu o pai dele. Eu não me aguentei e tive que falar alguma coisa.

— Não deixa seu pai te abalar assim. - Falei olhando pra ele, que tava concentrado dirigindo de cara fechada — Sei que você tem seus motivos mas hoje foi tão bacana, sabe? A Lara ficou tão orgulhosa por ver o irmão lá na apresentação. Não vale a pena deixar esses últimos minutos estragar uma manhã inteira.

— Eu sei disso, pô. - Ele respondeu relaxando mais o rosto — É porque a cada situação dessa, eu vejo que não posso contar com o meu pai pra nada.

— E a cada situação dessa você percebe que dá conta de lidar com tudo sem precisar dele. - Complementei o que ele disse.

— É... Você tá certa mas é complicado. - Ele falou respirando fundo, voltando toda a atenção dele pro trânsito.

Hoje foi uma manhã tão gostosinha. A Lara ficou tão feliz por ver a gente lá pra ela. Pareceu que nem precisava da presença do pai dela ali, só a do irmão já bastava.

O clima entre eu e o Enzo deu uma melhoradinha, somente por causa da Lara mesmo.

Sou o tipo de pessoa que não fujo de diálogo nunca, dou cara a tapa nisso. Porque pra mim diálogo é fundamental, depois da compreensão, óbvio.

Você pode conversar o tanto que for, se a pessoa não te compreender, o diálogo não serve de nada.

No feriado eu meio que fugi do assunto do quase beijo que não rolou? Sim. Mas isso é o tipo de coisa que só o Enzo consegue arrancar de mim, me fazer deixar passar um conflito sem tocar no assunto.

[...]

Ele foi entrando na rua do meu prédio e desligou o carro assim que estacionou, olhando pra mim logo em seguida.

— Cecília... - Falou dando uma pausa —  Eu queria te agradecer, de verdade mesmo. Não só por hoje, mas por todas as vezes que vc tirou pesos das minhas costas, deixando as coisas mais leves. - Ele disse olhando atento nos meus olhos.

— Não precisa agradecer, sério. - Falei dando um sorrisinho enquanto tentava tirar o cinto, que por sinal não tava soltando de jeito nenhum.

     Desviei por completo o meu olhar do dele sem saber muito o que fazer.

— Olha... - Ele disse tirando o meu cinto, já que eu tava apanhando pra caramba — As coisas ficaram meio estranhas entre a gente desde quinta. - Ele disse coçando a nuca, aparentando estar nervoso.

— É... Ficaram mesmo. - Eu disse resolvendo olhar nos olhos dele dessa vez.

— É porque tipo assim... Como eu posso dizer? - Coçou agora a barba se embananando nas palavras.

— Tá tudo bem, Enzo. Relaxa. - Eu disse colocando a alça da minha bolsa pra sair do carro.

— Não, pô. Espera. - Ele disse tirando a alça da minha bolsa do meu braço — Eu to te devendo uma coisa desde aquele feriado.

Ele disse isso segundos antes de me segurar pela nuca aproximando os nossos lábios com um selinho, pedindo permissão com a língua logo em seguida.

Dei permissão pra ele, enquanto eu apoiava minha mão no peito dele, dando mais intensidade ao beijo.

A mão dele que segurava a minha nuca, entrou dentro dos meus cabelos, me puxando mais pra ele.

Ele parou o beijo rapidamente pra tirar o cinto que tava atrapalhando um pouco, voltando a me beijar com mais liberdade.