2 - A SOBREVIVENTE

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Sobrevivi ao dia pós-casamento.
Achei que não fosse suportar, mas cá estou eu. De ressaca obviamente, mas viva e quase intacta exceto pelo chão que machuca a minha pele. 

Me levanto e procuro pelo banheiro mais próximo. Acendo a luz baixa apoiando minhas mãos na bancada de pedra de ônix branca, acesa por uma luz de led embaixo.

Pias duplas para uma só pessoa, chuveiros duplos em um só box, quatro banheiros, sendo duas suítes e um quarto para hóspedes.  Um escritório no andar de cima onde ficam os quartos e uma sala com quase duzentos metros quadrados contando com a cozinha integrada com o conceito aberto, é claro. Uma área gourmet de última geração e uma piscina que eu nunca fiz questão de molhar nem a ponta dos pés.

Ok, não posso reclamar da minha vida financeira e nem das pias duplas porque em breve, muito em breve a pia sem dono, terá um dono.

Em breve essa casa vai estar animada com a figura masculina perfeita desfilando por ela. Meu vizinho virá. Eu sei que ele vai passar mais tempo aqui do que eu lá na casa dele porque aqui foi planejado para duas pessoas, então é bem óbvio.

A questão é que ainda não tivemos a oportunidade de nos conhecer, mas vai acontecer.
Tiro a roupa e entro embaixo do chuveiro.

A água está quente. Fecho os olhos imaginando o corpo do meu vizinho suado do pós-treino e me toco pensando nele. Meus gemidos ecoam por todo o banheiro quando grito o nome dele. Depois de recuperar a minha respiração, deixo o jato da água molhar meus cabelos.

Passo o sabonete líquido de amora no corpo.

Gosto do cheiro das amoras.
Amoras têm personalidade. Não gosto do formato que elas têm porque odeio o fato da minha fruta preferida ter vários caroços em sua superfície, mas o sabor e o cheiro me ganham. Tudo a minha volta, tem cheiro de amora. Meu perfume, meu hidratante corporal, minha linha de shampoo, minha loção de banho, o umidificador de ar, meus lençóis cheiram a amora, minhas roupas… Sou um pouco extremista quando gosto de uma coisa. É assim que sou.

Acabo meu banho, subo as escadas para o primeiro andar. Estou completamente nua. A  água escorre pelo o meu corpo e molha os degraus. Entro no meu quarto em busca de roupas.

Escolho uma roupa confortável. Não gosto de ostentação, não gosto de grifes, não ligo para jóias, tampouco para bens materiais. Meu estilo é casual.

Não estou nem um pouco animada sabendo que James está fodendo nas ilhas Maldivas com aquela vadia-platinada-ladra de homens comprometidos, enquanto eu estou congelando nesse frio de Chicago e ainda virgem.

Está fazendo 10°C hoje.

Pego a chave do Volvo e vou para a garagem.
Entro no meu carro e aperto o botão do controle para abrir a porta da garagem que sobe lentamente me fazendo odiá-la por isso.

Estou com pressa!
Mesmo que eu não faça muita coisa na livraria, ao menos me distraio.

Ligo o rádio do carro para ouvir o noticiário enquanto o carro desliza pela estrada úmida e asfaltada.

“A morte do Senador Robert Reymond ainda é um mistério. Ele foi encontrado morto em seu quarto na madrugada desta segunda-feira.
A polícia ainda investiga o motivo do assassinato.
Segundo os vizinhos, não ouviram nada e nenhum suspeito foi visto entrando ou saindo da sua residência ontem a noite exceto duas prostitutas.
O senador foi morto a tiros por volta das duas da manhã.
As garotas de programa afirmam que o assassino é um homem encapuzado que entrou no quarto e o matou a tiros.”

Por idiotice minha, cheguei meia hora atrasada já que esqueci que eu tinha outras prioridades além de chorar e beber por um macho escroto. Estaciono em frente a minha livraria e saio do carro segurando o meu celular.

STALKERWhere stories live. Discover now