3 - UM PORTO SEGURO

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Voltar para casa é sempre um martírio, mas a melhor parte do meu dia é espionar o Elliott. E hoje é dia de torneio na academia dele e sei que ele chega tarde. Infelizmente.

Já pensei em me inscrever para aprender a lutar só para passar mais tempo com ele, mas a academia é exclusiva para homens. Machistas. Mas o recepcionista me informou que bem perto daquela, havia outra que aceitava mulheres. Tive vontade de bater na cara dele, mas percebi que socar a cara de um recepcionista de quase dois metros que praticava boxe não seria uma ideia muito inteligente.

Às vezes, penso em seguir Elliott, mas tenho medo de que ele me veja, então me contento com a minha angústia de perdê-lo de vista. Mesmo não conseguindo ter paz quando ele sai.
Preciso de uma resposta sobre quem ele realmente é, já que um dia seremos um casal. Os casais não guardam segredos um do outro.

E o que sei sobre ele é muito pouco. Pouco demais.
Só sei o que o Google me passou, e isso não é quase nada. Não serve, não é o suficiente.

Sei que ele é lindo, rico, sexy e reservado ao ponto de nunca receber visitas. Não tem amigos e nem namorada, mas isso eu não vi no Google. Sei que luta boxe duas vezes por semana em uma academia perto do nosso bairro. Ele também tem um saco de pancadas bem no meio da academia de sua residência.
Adoro ver ele só de bermuda e luvas batendo naquele saco preto com tanta força que faz meu corpo esquentar... e não é de medo.

Também sei que ele nunca tira aquela corrente com um crucifixo. A ponta da cruz chega no meio do seu peito.
A corrente é toda de prata ou ouro branco, não dá para saber porque só vejo de longe. Mas o crucifixo brilha com as pequenas e discretas pedras cravejadas nele.

Elliott é um rebelde. Sei disso porque também sou. Quem deixaria a família aos 27 anos e iria morar tão longe a troco de nada? Ele é igual a mim. Desde que James me deixou, eu não quis mais voltar para o berço onde cresci. Apesar de que ninguém faz questão de que eu volte. Se eu me jogasse de uma ponte hoje, aposto que ninguém choraria. Minha mãe compraria uma passagem para um país tropical e passaria uns dias hospedada em algum resort de luxo na tentativa de esquecer a perda repentina da filha. Meu pai... bom, sinceramente não sei o que ele faria. Certamente iria tentar encaixar um tempo em sua agenda lotada para conseguir comparecer ao meu velório. Se conseguisse chegar a tempo, seria bom. Mas caso contrário, levaria flores em um dia menos movimentado e deixaria em cima do meu túmulo junto com tantas já murchas.

Isso é tão bizarro.

Me lembro da dificuldade para descobrir o nome do meu vizinho assim que ele chegou. Ele não é nada receptivo, dava pra ver a antipatia estampada na sua cara. Então obviamente, ele não é do tipo que gostaria de receber biscoitos de boas vindas da vizinhança.
Assim que vi aquele homem com aquela cara de malvado, pensei "Oh, meu Deus, eu quero esse cara pra mim!" E daí em diante, fiquei obcecada e queria saber de cada passo que dava. Mas como se nem sei nome eu sabia?

Foi aí que tive a brilhante ideia de bisbilhotar sua caixa de correspondência.

Quando as luzes da sua casa se apagaram, abri minha porta, atravessei a rua e puxei o envelope branco para fora da caixa. Na verdade, haviam muitos envelopes. Ele não tem o hábito de checar a caixa de correspondência com frequência. Isso me irrita um pouco, confesso. Enfim, quando segurei o envelope entre as mãos, olhei a descrição, e lá estava seu nome e sobrenome: ELLIOTT JORDAN.

Depois disso, comecei as incansáveis buscas na internet. Eu queria cavar ao máximo sobre o homem tatuado que mora na casa da frente.

Penso na quantidade de horas que ainda me restam até que ele chegue em casa.
São muitas horas dentro daquela casa sem distrações.
E se eu ligar para Dereck?
Ele sempre está disponível. Não custa tentar.

STALKEROnde as histórias ganham vida. Descobre agora