A INCÓGNITA

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Por alguma estranha razão amanheci viva e intacta. Não há sinal de arrombamento nas portas e nem nas janelas, assim como também não existe qualquer vestígio do meu vizinho da casa da frente.

Não entendo.

Sei que há algo muito errado nisso tudo porque não há motivos para ele me querer viva. Elliott segue sendo uma maldita incógnita e isso não me tranquiliza nem um pouco.

Jogo os cacos da taça na lixeira e as garrafas vazias de vinho vão junto.

Bato um shake de amora com leite e me sento na banqueta da ilha fitando a foto borrada na tela do meu celular. A cor do meu shake se parece muito com algumas cores muito específicas da foto, e isso me faz perder a fome. Se não fosse pela casa, seria quase impossível reconhecer o homem que segura a faca na mão direita. O aparelho vibra e o meu coração quase salta pela boca com o susto. O nome de Dereck aparece na tela.

Atendo aliviada.

— Bom dia, Amber. Conseguiu dormir?
Eu poderia dizer que sim só para tranquilizá-lo, mas a verdade é que eu dormi feito uma pedra. Se Elliott entrasse e me matasse, eu nem saberia, por incrível que pareça, fui tomada pelo sono profundo.

— Por incrível que pareça, sim. Eu consegui. — Confesso.

Ouço uma bufada.

— Sorte a sua. Pelo menos alguém dormiu. — Diz com a voz aparentemente cansada.

— Você não dormiu?

— Sinceramente não. Fiquei preocupado depois que você desligou, então passei a madrugada dando voltas na sua rua.

— Dereck! — Grito, sentindo uma pontada de culpa por ter ligado para ele. Ele continua falando.

— Por volta das quatro da manhã, vi seu aclamado ídolo saindo de carro, ele não me notou, já que eu estava vestindo roupas esportivas e correndo como qualquer atleta se preparando para uma maratona.

Imagino a cena de Dereck vestido com moletons e tênis de corrida às quatro da manhã. Isso só reforça o quanto ele se importa comigo.

— Meu Deus, D. O que seria de mim sem você?

—Nada. Você com certeza não seria absolutamente nada sem mim.

Sorrio.

Amo quando ele age feito um presunçoso na grande maioria das vezes. O que Elliott estava fazendo às quatro da manhã? Será que ele foi…

Merda!

— D, o que ele estava fazendo? Ele estava com alguma mala ou algum pacote… grande? — Tento não soar desesperada e nem despertar suspeitas em Dereck, mas a curiosidade bate mais forte. Acho que sei o que ele foi fazer às quatro da manhã, mas preciso ter uma quase certeza.

— Na verdade, sim. Ele estava colocando algumas sacolas grandes no porta malas. Contei 5, no total.

"Porra! Ele esquartejou o cara!"

Minha cabeça queima com a ideia. Não gosto de pensar que poderia ter sido eu ali dentro. Jogada como se fosse lixo. Apesar de que mais cedo ou mais tarde, isso pode acontecer comigo. Talvez ele esteja dando um tempo antes de vir me matar. Talvez ele me encontre no caminho pro trabalho e me atropele com sua moto ou simplesmente me mate a tiros. Não sei. Mas sei que ele não vai deixar barato. Eu sou testemunha de um homicídio. Posso botá-lo atrás das grades ou pelo menos tentar antes de ser morta por ele.

— Você contou…? Contou as sacolas?

— Sim, Amber, eu contei. Mas não que eu esteja obcecado por ele. Não se preocupe, não tomarei seu posto de observadora, é que eu achei estranho. Ele estava empilhando as sacolas pretas de couro no porta malas do carro. Não estava com cara de suspeito ou coisa do tipo, mas sei lá…

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