10 - A STALKER

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De saco cheio.

Estou com a droga do saco cheio, sem saber do paradeiro de Elliott. E se ele simplesmente pegou as coisas e foi embora? Não, eu não quero pensar nisso. Olho para a garrafa de vinho tinto seca no chão e a outra pela metade em minha mão. Nada me tira mais a paz do que a falta de Elliott.

Sinto como se estivesse enlouquecendo com sua ausência e sei que estou mesmo louca porque sinto falta de um assassino!
Preciso chutar o pensamento intrusivo que insiste desde cedo para que eu vá até lá. Alguma coisa me diz que preciso ir até lá e veja com meus próprios olhos que suas roupas ainda estão em seu closet. Mas o medo me trava. Porém, o medo de que eu nunca mais o veja me dá forças para querer investigar. Preciso saber se ele vai voltar. De alguma forma, preciso vê-lo outra vez.

Desde a última vez que olhei em seus olhos, não consigo e nem quero tirar a imagem do seu rosto bonito da minha cabeça. Não consigo me libertar da lembrança dele cheirando meu pescoço e da sua língua tocando a minha pele. Eu fui marcada, e eu gostei. Ele é perigoso, mas ainda assim, ele é a vida que eu quero viver.

Ele é o oceano onde eu quero desaguar. Ele é um caminho sem volta e eu pude ver isso quando contemplei seus olhos de oceano cinzento. Elliott Jordan é a estrada por onde eu quero caminhar, mesmo que seja um caminho sem volta. Eu arrisco qualquer coisa por ele, inclusive a minha própria e medíocre existência porque ele é a minha obsessão, e a minha ruína.

***

Faz frio aqui fora.
A casa dele permanece escura como ontem. Obviamente não posso passar pela porta porque está bem trancada. Procuro uma janela lateral que seja baixa e quebro o vidro com o cotovelo. Sinto um choque vindo junto com a dor. Nos filmes parece mais fácil e não parece doer. Meu cotovelo vibrou assim que o vidro foi estilhaçado. Olho em volta, está tudo tranquilo e medonho como sempre. O lado bom de morar em um bairro com casas distantes umas das outras, é que quase nunca tem alguém na rua, e o lado ruim é que quase nunca tem alguém na rua.

A estrada está coberta pela névoa suave e o barulho de uma coruja cantando faz minha nuca arrepiar.

Não perco tempo, pulo a janela, finalmente entrando dentro da casa. Acendo a lanterna do meu celular para não chamar atenção. Está tudo limpo e organizado. A casa cheira a madeira polida, cedro e sândalo. Não tem cheiro de morte, mesmo que o anjo das sombras tenha feito coisas horríveis aqui.

O interior da casa não é novidade para mim, não ouso acender as luzes, mas passeio pelo ambiente amplo e escuro.
Ele é minimalista. Não existem muitos móveis exuberantes que mostrem o quanto ele é rico, há apenas o necessário, assim como eu, ele também não gosta de ostentação, mas diferente de mim, ele não tem tevê na sala. É a típica casa de um hetéro sem tempo para séries ou filmes. Bom, talvez haja uma no quarto. A luz da lanterna do meu celular ilumina os degraus de carvalho da escadaria evitando tocar no guarda-corpo de vidro. Não quero minhas digitais impressas aqui. Subo devagar olhando em volta. Sei que estou correndo risco, mas qual é a probabilidade dele voltar justo agora que eu invadi a sua casa? Seria coincidência demais ou talvez destino.

Não faz diferença.

Ao chegar no primeiro andar, dou de cara com um corredor, e ao passar por ele, as luzes se acendem por causa do sensor de movimentos.

"Ok, temos um grande problema agora."

Desligo a lanterna do meu celular e caminho com insegurança, mantendo os ombros encolhidos, porém, mesmo assim, pretendo seguir com o meu plano de saber se ele ainda vai voltar. Preciso ver que suas roupas ainda estão aqui.

Observo as portas abertas. A primeira, é a porta da academia dele. Minha parte preferida da casa. A segunda porta, é a do seu escritório, e no fim do corredor, está o seu quarto que por azar, não tem vista para a minha casa. Antes de me dirigir ao cômodo que ainda não conheço, decido conhecer o meu preferido da casa: sua academia.

STALKERWhere stories live. Discover now