idiota raiz | dimaury

idiota.

Não foi desagradável, mas, por algum motivo, Diego não conseguia estar completamente presente naquele date, se é que poderia chamar assim.

Lucas falava da vida que levava no Brasil, contou que era fotógrafo e que trabalhava com grandes influencers. Mostrou até alguns de seus trabalhos para Diego, enquanto provaram do uísque escocês.

O pub se chamava The Last Drop e tinha música ao vivo, acompanhada de violino e gaita de fole. Diego adorou o lugar, a luz baixa e a decoração rústica eram muito características da Escócia. A bebida era bem forte, e no segundo copo de uísque, ele desistiu, aceitando uma caneca de chopp.

Foi uma mistura que ele realmente não deveria ter feito.

— Então você é ator de musical?

Lucas, inicialmente, sentou à frente de Diego em uma das mesas, mas depois veio para o seu lado. Agora, olhava para ele meio de lado, enquanto Diego tentava se concentrar em não vomitar aquela bebida forte demais.

— Sou, sou sim. Estou fazendo testes para uma peça em São Paulo. Estou ansioso, porque acho que o resultado vem em alguns dias, sabe?

— Isso é bem legal. — Diego percebeu que Lucas havia colocado o braço atrás dele, sobre as costas do canto alemão. — E eu posso assistir? Se você passar?

— Bom... É uma peça aberta ao público. Se você comprar os ingressos, pode assistir, sim.

Um Diego alcoolizado era mais boca aberta do que um Diego normal, e isso parecia estar divertindo Lucas, que riu com a resposta, como se fosse uma grande piada. E nem foi engraçado.

— Então estou ansioso para isso.

Lucas desviou os olhos de Diego porque, naquele momento, um homem enorme usando kilt e uma gaita de fole maior do que as que Diego havia visto no centro histórico começou a tocar uma balada lenta. Diego sorriu, embriagado pelo som, inclinando-se sobre a mesa.

Era lindo. Aquilo era muito lindo.

— Sabia que a gaita de fole escocesa tem uma conexão histórica com as batalhas e a guerra? Durante o século dezoito? Acho que é dezoito. Usavam para levantar o moral das tropas e intimidar o inimigo, podia ser ouvida de longas distâncias, quase como um chamado.

Diego não soube de onde veio aquilo, mas a voz de Amaury na sua cabeça ecoava. Devia ser o álcool, ou aquela voz sempre esteve ali, contando coisas inteligentes que ele sequer sabia que gostava de ouvir.

Naquela manhã, antes do tour, antes de Diego fechar a cara completamente depois de ver o professor de papo com a desconhecida e não saber lidar com o que sentiu em seu peito, Amaury havia contado aquilo, de forma tão leve que ele sequer notou que aprendeu.

— Deixa eu adivinhar... o tal do Amaury lhe contou isso?

Ouvir o nome saindo da boca de Lucas chamou a atenção de Diego, ele sentiu as bochechas esquentarem.

— Sim. Como você...?

— Acho que você não percebe, mas esta sempre falando dele. — Lucas tirou o braço, apoiando-se na mesa. — É fofo, mas... espanta outras pessoas.

— Ah.

Em que momento aquilo aconteceu?

Lucas falou mais alguma coisa em relação aos escoceses, mas ele não falava como Amaury falava dos escoceses, então Diego não ouviu nada.

O resto da noite foi regado a muito mais cerveja e muita mais gaita de fole, numa conversa leva que pareceu mudar de rumo completamente.

— Tinha uma loira... Uma moça com você no tour de hoje. Eu achei que vocês eram um casal...