louquinho.

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DOIS ANOS ANTES.

Amaury já estava no limite da velocidade, e Lennon, no banco do carona, não ajudava muito. Se batesse o carro do pai deles de novo, com certeza seria deserdado.

Ficou de levar Lennon ao primeiro ensaio duma peça de teatro, em que os Mastins atuavam juntos, mas acabou se atrasando por falar com alguns pais na saída da escola. Agora tudo que havia com ele era seu irmão muito agitado para chegarem logo ao teatro.

Ele não entendia por que ainda prometia as coisas para Lennon, julgava que era porque era o irmão mais velho e, se Lennon precisava de algo, era para Amaury que corria.

— O Bruno vai me matar, ele vai me matar e depois vai matar você! E depois o Diego vai ressuscitar a gente e matar de novo!

— Eu nada tenho a ver com isso, nem vem! Eu estava trabalhando, Lennon!

— FALA ISSO PRO BRUNO ENTÃO, FALA!

Chegariam em quinze minutos, e a peça já tinha começado há vinte. Estava de fato atrasado. Foram os quinze minutos mais longos de sua vida, mas conseguiram chegar e estacionar no teatro. A ideia era largar o irmão ali e ir para casa corrigir provas, então nem tirou o cinto.

— Vai, vaza. Está entregue.

— Você não vem? — Lennon perguntou, antes de descer.

— Eu?! — a pergunta foi tão ridícula que Amaury riu. — Eu tenho provas pra corrigir, e você não me falou que eu teria que ir. O combinado era eu te deixar aqui, só isso, foi o que a mãe falou.

— Amaury, vem comigo! Os meninos vão ficar felizes em ver a gente.

— O Bruno vai ficar feliz em ver a gente, o Diego vai tacar qualquer coisa em mim do palco. Não, obrigado. Tenho provas sobre a Segunda Guerra pra corrigir.

— Irmão, vem comigo! Por favor, vem comigo!

Uma coisa que não te contam quando você é irmão mais velho é que você não tem muita escolha em situações como esta, porque ou seu irmão vai insistir muito e você vai acabar indo do mesmo jeito, mesmo não querendo, ou ele vai falar pra sua mãe. 

E mesmo que você seja adulto e já não more com seus pais há séculos, ela vai brigar com você como se vocês ainda dividisse quarto.

— Lennon. Não.

— Amaury... A gente vai comer depois, você pode ir com a gente.

— Isso era pra me animar? Comer com os Martins é definitivamente algo que eu não quero.

— Eu pago.

— Tá bom. Vamos.

Quando entraram, Lennon tinha dois lugares reservados, o que Amaury não entendeu, já que não ia mais ninguém com ele. Por que Lennon teria dois lugares? O professor não teve muita oportunidade para perguntar.

A peça já havia começado, então entraram meio na encolha, e estava bem cheio, por sinal, mesmo sendo um ensaio aberto a amigos e família do elenco. Amaury não era nenhuma dessas coisas, só cunhado de Bruno, mas ninguém pareceu se importar.

E então, depois de se sentar a contragosto, ele viu Diego entrar no palco.

Ele era um dos meninos perdidos e estava caracterizado como um, a maquiagem em seu rosto e as roupas quase o faziam sumir em toda caracterização, mas Amaury não precisou de muito para reconhecer aquela voz. E aquele cabelo. E aquelas perninhas curtas no palco que pareciam grandes demais.

idiota raiz | dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora