rua.

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Amaury não saberia explicar qual era a daquele carro, pra ser sincero. O fato é que fora dele, nas highlands, choviscava, e parecia fazer muito frio. Mas dentro dele não, e os cobertores térmicos ajudavam muito.

Mas era desesperador olhar em volta e não ver nada. A única luz que havia era a do painel, que por algum motivo funcionava, mas o carro mesmo não.

Parecia cenário de filme de terror, daqueles bem ruins, com baixo orçamento.

— Na verdade, a batalha não durou muito. Os jacobitas não tinham um exército como o do governo britânico. Foram mortos em poucas horas e, quem conseguiu fugir, foi perseguido depois.

Estava no meio da madrugada. Na verdade, Diego tinha decidido parar de olhar as horas, porque pareciam não passar nunca. Já tinham cochilado e acordado várias vezes, e Amaury continuava lá, acordado, não muito atento, mas acordado.

Depois do que rolou, Diego simplesmente passou a ignorar todos os pensamentos relacionados ao beijo que jamais deveria ter acontecido. Ainda estava com raiva disso e sequer conseguia pensar em falar sobre. E Amaury, bem, ele parecia respeitar isso.

— Tudo isso aconteceu aqui, nessas terras?

— De certa forma, sim. — Amaury bocejou, ajeitando os óculos. — O que aconteceu depois foi que o governo britânico meio que proibiu o uso de kilts e da língua gaélica. Como sempre, eles extinguindo culturas para impor suas leis.

Era estranho estar falando tudo isso debaixo daquele céu, naquela terra que havia visto tanta violência há alguns séculos.

Ele tinha decidido não ficar falando sobre história, mas Diego não deixava de perguntar, e sinceramente, era melhor se distrair com isso do que ficar pensando besteira.

E essas besteiras envolviam a boca dele em um lugar muito específico no ruivo ao seu lado. Não podia olhar muito para Diego sem sua mente ser inundada por todo tipo de pensamento indecente.

Pior era admitir a si mesmo que esses pensamentos sempre estiveram lá, em algum lugar, até beijar Diego.

— O que isso quer dizer?

— Bom... — Amaury começou, com a voz rouca e calma. — Depois da derrota, o governo britânico queria garantir que os escoceses nunca mais se rebelassem. Então, eles proibiram símbolos importantes da cultura deles, como os kilts e a língua gaélica, que era falada por muitos na época. Era uma maneira de enfraquecer a identidade do povo e forçar eles a aceitar o controle do governo.

— Mas por que os kilts e a língua? — Diego perguntou, ainda um pouco confuso. — Tipo, eles já não tinham o controle de todas as terras?

— Sim, mas, para o povo escocês, não eram apenas roupas ou uma forma de falar. Eram símbolos de quem eles eram, de suas famílias, de suas tradições. Os clãs escoceses usavam kilts com padrões específicos que representavam suas linhagens. E a língua gaélica unia o povo, transmitindo histórias, crenças e valores de geração em geração. Tirar isso deles foi uma maneira de controlar o que restava de sua cultura.

— Ah. — Diego ficou em silêncio por um minuto e, como Amaury estava respondendo tudo, ele decidiu perguntar mais. — E eles fizeram isso por muito tempo?

— Sim, por décadas. Só depois de muitos anos algumas dessas proibições começaram a ser retiradas, mas, a essa altura, muito da cultura original meio que já tinha sido perdida ou enfraquecida. — Amaury suspirou, tirando os óculos para limpar as lentes. — É uma história de como, para controlar um povo, às vezes destruir sua cultura é tão eficaz quanto ganhar uma batalha.

— Mas alguns ainda falam gaélico, né? — Diego perguntou, curioso.

— Falam, sim, mas são poucos. Em algumas regiões daqui ainda se ensina o gaélico, mas a maioria das pessoas fala inglês agora. É uma língua que tenta sobreviver, mas ficou marcada pelo tempo.

idiota raiz | dimauryOù les histoires vivent. Découvrez maintenant