LIVRO 2 -- CAPÍTULO 10

164 23 19
                                    


Sentaram-se na banheira, nus, com Morgana de costas para ele, acomodada entre suas coxas e reclinada contra seu peito, repousando a cabeça em seu ombro. Por alguns momentos, Arthur deixou-se ficar ali apenas usufruindo da tepidez da água quente, da sensação da pele morna e macia de Lady Morgana inteiramente contra a sua. Até que ela o fitou e murmurou daquele seu jeito simples e direto, "Podeis começar!"

Encabulado pela própria falta de iniciativa, ele passou a ensaboar-lhe os ombros devagar, tenso e tímido de início. Mantinha a respiração leve e superficial, como se temesse que o menor ruído de sua inspiração bastasse para acordá-lo daquele sonho do qual não queria de forma alguma despertar.

Após alguns instantes, arriscou-se a escorregar as mãos até os seios dela e, depois de brincar um pouco com os mamilos, deslizou-as até sua barriga. Ela buscou-lhe os lábios para um beijo. Já mais relaxado, ele ousou descer um pouco a mão direita e começou a acarinhá-la entre as pernas. Com um suspiro, Morgana recostou-se ainda mais contra Arthur. Foi quando pareceu dar-se conta da rigidez dele contra suas nádegas. Erguendo-se ligeiramente, encaixou-lhe o membro entre suas coxas, prendendo-o firmemente ali. A seguir, encarou Arthur bem nos olhos e falou, rindo, "Vide só como eu seria se fosse um rapaz!"

Ele estava estupefato! Ela era tão desinibida, tão livre! Seus gestos eram tão naturais! Assombrava-o o contraste entre esta espontaneidade e a sobriedade e sisudez que sempre encontrara nela. Seria esta uma faceta que dava a conhecer a poucos? Neste caso, sentia-se honrado em ser um dos eleitos! Ou seria um lado dela que só agora desabrochava, ali, diante dele, naquele exato momento? Tal possibilidade o fazia sentir-se, para muito além de honrado, grato e comovido.

"Acho melhor sairmos da banheira," ela sugeriu, ficando de pé e oferecendo-se inteira à contemplação dele. Tinha porte e garbo de rainha, a rainha que ele sempre quisera para si. Mais uma vez, entregou-se ao faz de conta de que eram um casal legítimo. Enfim ergueu-se e a tomou no colo. Levou-a assim até a cama, molhando todo o chão de pedra no percurso.

"Pena que não sereis vós a explicar uma tal bagunça à arrumadeira, amanhã!" ela comentou, divertida, enquanto ele a deitava suavemente na cama. Arthur duvidava muito de que Lady Morgana se desse ao trabalho de explicar algo a quem quer que fosse, mas apenas devolveu o sorriso em resposta. Quando inclinava-se para deitar-se sobre ela, Morgana o deteve, afastando-se para a extremidade da cama e liberando espaço no leito. Com dois tapinhas no colchão, indicou que ele se deitasse a seu lado:

"Deitai aqui! As sacerdotisas comentaram algo comigo, quero ver se gostais!"

Intrigado, Arthur obedeceu, e não demorou a sentir os lábios de Morgana ao redor de seu sexo. Prendeu a respiração de puro susto e foi soltando devagar, enquanto murmurava, "Eu não sabia..." e aqui se interrompeu com um gemido baixinho, "eu não sabia que era isso que se ensinava em Avalon!" E, depois de alguns minutos, "Morgue! Morgue, por favor, parai, ou eu vou..."

Ela de fato parou por breves segundos, ante o choque de ouvi-lo chamá-la como só a mãe a chamava. Há quantos anos não escutava aquele apelido? Mas recompôs-se rapidamente, e, com um sorriso, anunciou, "Não vou parar!"

***

Ainda estava escuro, mas um pio de passarinho alertou Arthur de que não demoraria a amanhecer. A seu lado, Morgana dormia, o peito subindo e descendo ao ritmo suave da respiração. Relutou em deixá-la -- não sabia quando a chance para outro encontro como aquele se apresentaria -- mas precisava ir.

Com delicadeza, afastou a cortina de cabelos negros sobre o rosto dela e depositou um beijo em sua bochecha. Ao baixar a vista, deu de cara com o medalhão de Merlin alojado entre eles, na cama. Mas Arthur estava certo de o haver deixado junto com suas roupas, no chão, ao lado da banheira... Aquele estranho objeto mais parecia mal-assombrado!, pensou, agastado, enquanto o agarrava. Soltou-o imediatamente e teve que conter um grito para não acordar Lady Morgana. Olhou a palma da mão, onde uma bolha de queimadura já se formava, grande, cheia de líquido, bordas avermelhadas, cobrindo quase toda a área. O medalhão estava quente como se houvesse saído da fornalha de um ferreiro! Tinha que tirá-lo dali, antes que ela lhe rolasse por cima durante o sono e acabasse se queimando, também. Cutucou o objeto de leve, com a ponta do dedo indicador. Já havia esfriado. Muito estranho. Manteve-o na mão sã, bem fechada, sem coragem pô-lo de volta no pescoço.

Levantou-se e se vestiu o mais silenciosamente possível para não incomodar Lady Morgana. Travava os dentes a cada vez que tinha que dobrar a mão queimada para puxar uma manga de camisa ou a perna da calça. Saiu pé ante pé. Se esperasse demais, o movimento nos corredores começaria e ele acabaria por ser flagrado deixando o quarto da irmã.

***

Ao contrário daquilo em que acreditava Arthur, Morgana não dormia, apenas fingia. Mantinha os olhos bem fechados para não ter que se despedir nem olhá-lo enquanto ele voltava para sua vida normal, e para Guinevere, ao passo que ela ficava ali, sozinha, sem sequer saber quando poderia encontrá-lo outra vez. Só quando ouviu a porta fechar-se é que abriu os olhos. Deles, grossas lágrimas escorreram.

Vale sem RetornoOnde histórias criam vida. Descubra agora