Enquanto algumas pessoas decidiam passar seus últimos dias de férias em festas na piscina enchendo a cara de bebida ilegalmente consumida, outras preferiam a boa companhia de um livro, óculos de sol e sua melhor amiga na praia menos badalada de Coralina – onde os turistas não chegavam.
Mas é claro que nem tudo era possível nessa vida.
Por esse motivo, Valentina estava sim com o livro dentro da bolsa, os óculos de sol na cabeça e o biquíni molhado denunciando que estivera mesmo na praia, mas não estava sendo fácil sequestrar a sua melhor amiga.
― Ah, vamos! – a garota insistiu. – A gente aproveita que ainda tá sol e pelo jeito vai escurecer bem tarde hoje.
Gina nem encarou a amiga sentada do outro lado do balcão, estava concentrada demais contando o dinheiro do caixa do restaurante da sua família, onde ela trabalhava todos os dias. Normalmente, durante as férias de verão era quando o restaurante ficava mais lotado, mas Gina sempre acabava conseguindo algumas folgas adicionais.
Nesse verão a coisa havia sido um pouco diferente.
― Se você continuar a falar, vai me tirar a concentração e eu vou precisar contar tudo de novo.
Vale suspirou, jogando a bolsa em cima do balcão.
― Por que você está a contar isso agora? Não tá nem perto de fechar o dia.
Foi a vez de Gina suspirar.
― A rapariga nova estava no caixa hoje e ficou desesperada quando não achou uma nota de cinco euros que, segundo ela, tinha acabado de colocar aqui – explicou, revirando os olhos e voltando ao trabalho. – Então é claro que sobrou pra eu fazer a conferência.
― Você parece tensa – Vale fez uma bola com seu chiclete e apoiou a mão na cabeça, o cotovelo no balcão. Gina era sua melhor amiga desde que as duas eram pequenas e ela sempre foi essa pessoa meio responsável demais. A mãe de Vale diria que não existe excesso de responsabilidade e que Gina era um exemplo a ser seguido, mas isso era porque não era ela que precisava ter uma amiga assim.
Imagina se suas amigas cancelassem a sagrada noite de vinho branco e fofoca quinzenal, a mãe de Vale seria a primeira a reclamar da falta de compromisso das mulheres com a diversão.
É o que dizem, tal mãe, tal filha. E se Valentina era assim essa pessoa de bem com a vida e descolada, a genética era a grande culpada.
― A gente quase não saiu durante todo o verão. Ou você estava aqui trabalhando ou estava em casa com vontade só de dormir. Eu começo a ficar preocupada com a sua saúde – a garota de cabelos curtos disse. Ela tinha aparado a franja acima das sobrancelhas naquele dia mesmo, por conta própria. Vale sempre foi o tipo de pessoa independente que gostava de fazer as coisas por si própria, e sempre levou jeito para trabalhos manuais.
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Terceiro Tempo
Teen FictionManuela Pimenta acaba de descobrir que sua vida inteira foi uma mentira. Ela nunca acreditou que a realidade pudesse ser tão dramática quanto a ficção, mas quando se vê dentro de uma trama digna de novela mexicana, Manu não tem mais certeza sobre na...