Capítulo 11 - Passeio

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Eram apenas os três.

Ou melhor, éramos nós quatro.

Apenas eu, Tristan, Brad e, mais tarde Mark, sabíamos o que acontecia. E quando nosso pai - meu e de Tristan - descobriu "aquilo", pensei que fosse ser uma boa coisa. A princípio me senti aliviado, foi como se tirassem um peso das minhas costas.

Mas o que eu não esperava é que ele fosse ficar contra mim. Ele descobriu tudo, e me "proibiu" de ser gay. Mais tarde, viemos nos mudar de Doncaster para Homes Chapel, para evitar meu contato com as pessoas que me "contaminaram".

Jay nunca ficou sabendo sobre isso, a história que Mark havia contado para ela era uma suposta "promoção" no trabalho. Nos mudamos do dia pra noite, e Tristan, que na época acabara de se mudar para a capital da Inglaterra, cursar sua faculdade.

Foi tudo muito silencioso, estive mantido sobre ameaça para não contar nada a ninguém e fui obrigado a negar minha própria sexualidade. Escondi quem eu era e escondo até hoje, não consigo nem imaginar a catástrofe que aconteceria caso alguém descobrisse tudo o que passei. Zelo não só por mim, mas por minha família.

Tudo o que vocês tem que saber por enquanto, é que Tristan sempre foi meu irmão engomadinho. Ele é perfeito, sempre tirou as melhores notas na escola, um perfeito nerd, com cabelos castanhos e óculos de grau. Usou aparelho por toda a infância e sempre deu orgulho à família. Nunca se meteu em encrencas na escola, nunca passou vergonha e não se importava muito em namoricos.

Bradley, ou Brad, foi seu melhor amigo desde a infância, mas os dois se afastam brutalmente ao que meu irmão descobriu que ele era gay. Obviamente o primogênito de Mark era tão perfeito ao ponto de que não poderia se envolver com pessoas "assim".

💭💭💭

Mas, mal tenho tempo de me dedicar à essa dor, novamente meu mundo para ao ver o corpo se virar e me fitar com os olhos arregalados tanto quanto os meus.

- B-Brad?

Pergunto e em seguida vejo tudo ficar preto na minha frente, junto ao baque do meu corpo no chão.

- Louis? Louis? Louis? - Ouço alguns zunidos em meu ouvido, pessoas me chamando, alguns tapinhas no meu rosto e lentamente minhas pálpebras se desgrudam.

Observo todos ao meu redor, me olhando como se eu fosse um ET que acabou de cair na terra. Liam, Harry, Zayn, Niall... E Bradley me fitam em preocupação.

Me levanto, rapidamente sendo amparado com os braços firmes de Liam ao redor da minha cintura.

- Você está bem? - Niall pergunta tocando cada parte do meu rosto em sua afobação natural.

- Tem algo doendo? Acho melhor te levar ao médico. - Liam murmura em preocupação.

- Eu... Estou bem - Dou um leve tapa na mão de Niall que cutuca meus olhos quase me cegando - Apenas estou surpreso por ver Bradley, depois de... Anos.

O garoto sorri com a língua entre os dentes e cruza seus braços mantendo uma sobrancelha arqueada. Meu corpo arrepia apenas com aquele ato.

Sempre imaginei como reagiria ao ver Tristan, Bradley e Mark no mesmo recinto, como eu queria gritar e xingar esses três que me causaram tanta dor emocional, mas agora que eles parecem próximos demais, estou me sentido claustrofóbico. Apenas não sei como reagir.

- Então Louis, já que você está bem, que tal nos contar como conheceu Brad? - Zayn murmura inquisitivo, cruzando seus braços e me lançando um olhar mortal. Ele parece sentir um ciúmes incontrolável pelo garoto e pude perceber apenas pelo o modo como ele fala sobre o Simpson.

É estranho, porque uma pessoa tão importante nunca foi citada nesses anos por Malik. E o mais estranho ainda, é que Brad é gay. Ou seja, se Zayn repudia tanto os homossexuais, como ele pode tratar o garoto desta forma?

Balanço minha cabeça lentamente, perdendo o fôlego e me embolando nas palavras. Nenhum som saí da minha boca, então eu apenas balanço a cabeça negativamente.

"Nãoestoupreparadonãoestou" é tudo o que se passa em minha mente. E quando não parece que terei mais desculpas ou salvação, Harry Styles se manifesta. Isso mesmo, você leu bem, eu disse: HARRY STYLES.

- Preciso comprar uns cigarros, Lou vem comigo? - Ele pergunta esticando sua mão em minha direção.

- Ah, não fode Styles... Eu quero saber qual a ligação do Tommo com o meu Brad. - Diz Zayn.

- Não fode você, eu quero fumar e o Lou vem comigo, nós vamos à uma loja de conveniência qualquer. - Ele devolve já caminhando e entrelaçando sua mão à minha.

Nós subimos novamente para os quartos e em poucos minutos já estamos vestidos com a roupa que chegamos.

Caminhamos para fora de casa, e tento evitar soltar gritinhos animados uma vez que ele não solta nossas mãos durante todo o percurso até seu carro. Ele abre a porta e me jogo lá dentro, o automóvel está aconchegante como da última vez, mas a diferença é que dessa vez o Styles não está tão nervoso.

Harry se joga no banco do motorista, parecendo despojado e misterioso. É evidente que ele sempre teve essa aura de uma pessoa que comete crimes sem ser descoberto, mas as vezes ele parece certinho demais para o fazer. Então ele é apenas aquela pessoa que você não sabe o passado, você não sabe o presente e não saberá seu futuro. Eu daria tudo para descobrir seus segredos.

Harry gira a chave e em seguida alguma canção indie começa ecoar pelos vidros escuros do carro. Atravessamos todo o condomínio onde consiste algumas mansões como as dos Malik.

Dando partida no carro porque esta cidade está um tédio
Comprando cigarros eletrônicos na loja de conveniência
Fazendo novos clichês em nosso próprio pequeno passeio
Vamos dar uma volta (...)


O Styles não fala nada e também opto por me manter em silêncio. Tudo começa a ficar estranho quando passamos pelo centro da cidade e Harry não tem nenhuma expressão de que irá parar. Ele apenas continua dirigindo, com o maxilar travado e a sobrancelha tilintando.

- O que estamos fazendo? - pergunto.

- Vamos dar uma volta...

Minhas mãos começam a suar, assim como minha testa e pescoço e meu coração acelera consideravelmente assim que o maior passa pela placa que delimita Homes Chapel, ou seja, estamos em outra cidade. Eu já passei por isso antes, não acredito que Harry seja como ele. Está tudo claro pra mim agora, ele já sabe como deve agir, teve tempo demais pra planejar isso.

Eu não acredito que por um momento acreditei neste homem. Deveria ter ouvido meus pensamentos me alertando de que ele era um assassino que escondia o corpo sem deixar rastros. E agora, sabe-se lá o que ele pretende fazer comigo. Dou um pulo ao sentir suas mãos tocando minha coxa, e só ai percebo que meus olhos estão fechados, mal sei quando o fiz.

- Hey Lou? - Ele tem um sorriso terno em seu rosto, contrastando completamente com o Harry que minha mente criou em poucos minutos - Chegamos...

O cacheado se afasta, saindo do carro e dando a volta, abrindo a porta para mim, como sempre. Observo tudo ao meu redor, vejo que o sol já está se pondo, devem ser por volta das cinco, estamos em uma rua pacata e que parece perdida, algumas casas em situação precária ao meu redor e uma pequena loja bem ao meu lado.

- Vamos entrar? - Harry pergunta entrelaçando sua mão. Aquilo parece tão certo, ele tem feito a todo minuto e não deixo de perceber como nossas mãos se encaixam, como se tivessem sido feitas para estarem assim.

Caminho lentamente observando um local assim como todo o resto da cidade, os mais variados objetos nos cercam em prateleiras ou pendurados no teto. No balcão, um garoto magro e com um topete cacheado lixa suas unhas despreocupadamente mal percebendo nossa presença.

- Hey Troye! - Harry cumprimenta recebendo um sorriso em seguida, o garoto dá um pulo de onde quer que esteja e atravessa o balcão vindo até nós.

- Há quanto tempo Hazz! - Eles se abraçam e meu peito aperta levemente ao vê-lo com alguém de modo tão íntimo. Não consigo evitar e desvio o olhar daquela cena que me aflige de algum modo. Eles se soltam alguns segundos depois, e o suposto Troye caí seus olhos em mim - Seu namorado, Hazza?

Minhas bochechas coram com suas palavras e Harry apenas solta uma risada rouca balançando sua cabeça levemente.

- Nah, ele é apenas uma amigo - Responde e posso ver o garoto sussurrar um arrastado "seeeei" - Vamos, você sabe o que eu vim buscar...

- O mesmo de sempre? - Pergunta arqueando uma sobrancelha e depois seus olhos olham profundamente aos meus. Parece ler minha alma. Harry assente novamente, pigarreando ao notar meu incômodo - Você não muda Styles.

Troye volta para trás do balcão e captura um saquinho de papel com algumas coisas dentro. Não consigo ver o que há, mas de alguma forma ele já parecia estar na espera por Harry.

- Pegue uma dessas guloseimas para o Lou enquanto eu vou cumprimentar Ashley lá atrás, sim? - Harry pergunta, parece que ele vem mais aqui do que imaginei. Ele se quer espera uma resposta e some da minha vista.

- Tome... - Escuto a voz de Troye e giro meus calcanhares em sua direção, o garoto me entrega um pirulito com a embalagem rosa, provavelmente o doce é de morango. Quando estou prestes a abri-lo, ele me para - Não abra agora, espere Harry chegar, por favor.

Não entendo, mesmo assim concordo com ele e decido esperar. Minutos depois, o cacheado aparece com um sorriso rasgando seu rosto. Ele acena para Troye e me puxa pela mão novamente.

Quando abandonamos o estabelecimento, o céu está colorido em tons de roxo, uma perfeita junção de vermelho e azul. Harry se coloca sobre o capô do carro e me chama até lá. Me encosto ao seu lado, suspirando brevemente. "Que coisa louca é essa que sinto sempre que estou perto de Harry?"

Ele retira do saco de papel um maço de Marlboro e do bolso de sua skinny. Casualmente, ele leva o cigarro à seus lábios vermelhos e carnudos e o acende, sugando aquele ar para dentro de seus pulmões. Acompanho cada ato, me perdendo em sua boca. Tenho que balançar a cabeça para poder tirar minha atenção daquela parte.

- Troye foi meu primeiro namorado.

O QUÊ?

- O quê? - Grito engasgado ao ouvir as palavras lançarem para fora de sua boca.

- Yeah - Ele murmura - Passei minha infância toda aqui, mais ou menos quando fiz doze anos nós começamos a namorar.

- E-eu... V-você, o-o q-que?

- Ele era um bom garoto, mas nós ficávamos melhor como amigos. De qualquer forma, perdemos a virgindade juntos. E então acabou...

- Desde quando você é gay?

- Eu não sou gay, sou bi. - Ele responde com um sorriso de lado.

- Porque você nunca contou? Zayn sabe sobre isso? - pergunto exasperado.

- Bom, eu não acho que sexualidade seja uma coisa que você precisa contar para as pessoas, ou digamos "se assumir". Eu apenas sou o que sou e ficar com um cara ou uma garota não fará diferença alguma, eu me sinto bem com os dois sexos. - Ele explica pacientemente, meu queixo está quase no chão - E sim, Zayn sabe sobre isso.

- Eu... - tento me explicar, mas não há o que dizer, suspiro convencido, Harry está certo. - Você tem razão.

- Vamos entrar, não gosto de ficar aqui fora - Ele murmura jogando a bituca do cigarro no chão e pisando em cima.

Me jogo no banco ao seu lado, mas Harry não liga o carro, ele apenas se aconchega no estofado e liga suas músicas, dessa vez consigo reconhecer como The Neighbourhood. 

Harry pega mais alguma coisa dentro do saco de papel, mas não me deixa ver o que é e logo o joga dentro da boca. Ele fecha os olhos brevemente, e sei que ele está engolindo devido à seu pomo-de-adão que sobe e desce.

Decido abrir meu pirulito nesta hora, colocando a embalagem no meu bolso para jogar fora. O sabor é cereja, prendo um gemido ao sentir o gosto doce em minha língua. Começo a sugar aquela guloseima e degustar o sabor, de certo modo, enjoativo.

Um tempo depois, decido voltar minha atenção ao Styles, acabo me assuntando pelo seu estado, ele tem o rosto e o pescoço molhados de suor, suas bochechas estão coradas e ele parece respirar ofegante.

- Harry? - Chamo o outro, mas ele se quer pisca, com os olhos presos em mim. Ele morde os lábios não olhando diretamente em meus olhos. Deixo a bola do pirulito escorregar lentamente pra fora da minha boca, mas o que acontece em seguida é surpreendente.

Harry se joga sobre mim, colando nossos lábios em um beijo voraz, e tudo que eu faço é corresponder com os olhos arregalados. A última coisa que meu subconsciente pensa é: "Não acredito que isso está acontecendo..."


(...) Você não tem que dizer eu te amo para dizer eu te amo
Esqueça todas as estrelas cadentes e todas as luas de prata
Temos feito tons de roxo, juntando vermelho e azul
Enjoativamente doce como o mel, não precisamos de dinheiro
Tudo o que eu preciso é você...

I'm Not Gay! |✔️| l.sWhere stories live. Discover now