O Desaparecimento de Marina

1.3K 128 63
                                    

Lins saiu do carro e caminhou até a entrada da casa. Parou, analisou as flores do jardim, o tapete da entrada e as pessoas que saiam e entravam nela. Soltou um longo suspiro e foi até a porta encontrando Natacha.

A mulher de aparentemente quarenta e poucos anos de cabelos enrolados presos em um coque e pele morena a encarou com lágrimas nos olhos e antes de dizer qualquer coisa a outra a abraçou dizendo:

-Se calme senhora, eu a encontrarei. -em um tom heróico.

Natacha levou um pequeno susto pelo ato da estranha, mas esse é um fato sobre aquela moça, ela é imprevisível.

Lins ainda usava seus óculos escuros redondos e os tirou enquanto entrava na casa.

-Aonde fica o quarto dela? -ela perguntou observando a decoração da casa que era uma mistura de antigo e novo.

-Na segunda porta a esquerda, lá em cima. -Natacha respondeu em um tom distante.

A moça subiu as escadas indo até o quarto da garota. Marina simplesmente sumiu de casa de um dia para o outro, ninguém sabe ao certo o que aconteceu com ela. Alguns boatos diziam que ela havia se matado, outros de que haviam matado ela, outros de que havia sido sequestrada, outros de que havia fugido, já outros de que havia sido abduzida por E.T.s. Mas depois de quase cinco dias o fato continuava sendo o mesmo:

Ela tinha sumido.

As teorias de morte foram quebradas quando não encontraram um corpo.

As de sequestro quando o último lugar que esteve foi em seu quarto. Ela sumiu logo pela manhã.

As de ter fugido quando não havia um paradeiro, apesar de seu pijama e mais uma ou duas peças de roupa terem sumido junto.

Então as de abdução ainda eram a melhor opção para se acreditar.

Mas era por isso que Lins estava lá, para descobrir a causa desse desaparecimento.

Lins é perita em coisas ou pessoas perdidas, a moça é uma detetive. Se tem alguém que pode descobrir o que aconteceu com a garota, essa pessoa é Lins.

Assim que ela chegou no quarto da garota teve uma coisa que lhe chamou atenção, o teto de fundo azul claro e nuvens brancas formando o céu.

Observou que sua cama estava arrumada, possivelmente pela mãe, pois mães tem a mania de arrumar camas. Então simplesmente deitou na cama da garota sem encostar os sapatos na mesma.

Olhou para aquele teto pintado e começou a se lembrar do que sabia sobre o caso.

Marina sempre foi uma garota incrivelmente dócil e amigável mas de um tempo para cá passou a se tornar mais agressiva e isolada. O uso de drogas seria a resposta?

Não, pelo o que Lins conhecia do caso não parecia ser isso.

Marina sempre teve vários amigos, inclusive amigos garotos. Soube que também tinha  admiradores, mas por que uma garota assim gostaria de desaparecer?

Haviam tantas perguntas para serem resolvidas mas nenhuma resposta parecia ser convincente o suficiente.

Natacha não sabia muito mais sobre a filha do que Lins. As duas não tinham uma comunicação muito boa graças ao emprego da mãe em uma empresa de publicidade. Ela sabia o básico: Marina tem dezessete e faz dezoito mês que vem e é uma boa aluna, sempre tirou notas ótimas. Tanto é que era vice-líder do grêmio estudantil e oradora da turma. Cursou seu último ano no colégio e a formatura iria ser nesse final de semana. Pretendia cursar Direito em Yale, já estava quase tudo planejado para isso.

Lins calculou pelo menos cinco minutos em que ficou ali, olhando para o "céu".

Por aquilo, Lins tinha uma certeza, aquela garota olhava muito para o teto, por isso queria uma paisagem nele. Mas se Marina olhava muito para o teto, significa que sentia muito tédio e se ela sentia muito tédio possivelmente tinha indício de depressão. Seria essa uma dica para suicídio?

Lins se sentou na cama e observou o resto do quarto. Tudo estava muito arrumado e ela se perguntava se era proposital ou não. 

Se levantou e se sentou na cadeira de rodinhas da mesa de escritório que tinha um notebook em cima. 

Ligou o mesmo com muito cuidado, escolheu o user de Marina e se deparou com a tela pedindo a senha correta. O que poderia ser a senha?

Havia uma dica na tela de bloqueio dizendo:

Cantora-Data

Lins procurou pelo quarto e se deparou com alguns posters de cantores e bandas indies. Logo tentou todas as datas de nascimento de cantoras como Halsey, Amy Winehouse, Marina And The Diamonds, Lorde e Lana del Rey. Sem sucesso.

Vasculhou com os olhos pelo ambiente novamente encontrando uma foto de um evento em um porta retrato. Nela parecia estar Marina e Lana del Rey. 

Cuidadosamente tirou a foto do porta retrato e atrás na mesma estava a data do show. 

05.07.15

O notebook foi desbloqueado e na tela de início se encontrava a foto de uma garota sorrindo junto com um garoto também sorrindo. A garota era a mesma da foto com Lana del Rey, ou seja, realmente era Marina. Ela tinha o cabelo cacheado curto nessa foto ao contrário da outra que ele estava na altura da cintura. O garoto era loiro de olhos verdes. Os dois pareciam muito próximos e em um lugar aberto, como um parque ou algo parecido. Marina usava um vestido azul e jaqueta jeans enquanto o garoto usava uma camisa branca e jaqueta de couro preta. 

Eles formavam um belo casal. Os dois eram bonitos e estavam felizes na foto. Seria ele o namorado de Marina?

Lins voltou seus pensamentos ao caso e percebeu que havia uma aba aberta do Google Chrome. Clicou na mesma abrindo em um site chamado Evernote. A moça se lembrou no mesmo momento de que ele também era um aplicativo e podia ser atualizado tanto do celular quanto do notebook.

O Evertone é uma plataforma aonde se escreve textos, ideias e anotações. Que pode ser usado como uma espécie de Nota, algo pessoal, quase que como um diário. A vantagem do Evernote é que ele pode ser aberto em qualquer lugar e os arquivos ficam em nuvem.

A conta de Marina estava logada e nele haviam arquivos nomeados de 1 a 3 em números romanos, fora dois com nomes gregos, o primeiro chamado "Συγχαρητήρια". Todos tinham datas referentes ao seu desaparecimento. 

Lins começou a ler o primeiro que significava parabéns em grego.

Marina entre Lobos - ContoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora