III

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Então vamos para o meu último porém não menos importante motivo. Saul Walker.

Saul: implorado, desejado.

E como eu desejei e te quis por perto, pai.

Você me abandonou quando eu tinha seis anos para formar outra família com uma mulher loira que eu sempre esqueço o nome.

Samara. Ah não, é Stefany. Ainda está errado. Seria Samantha?

Acabei de confirmar com a mamãe, é Samantha mesmo. Parece que ela tem a memória melhor do que a minha.

Passou praticamente onze anos sem nem ao menos me procurar para de repente, querer voltar a ter contato. 

Você por acaso sabe quanto tempo mamãe ficou sem sair de casa quando você foi embora?

Quanto tempo demorou para mamãe conseguir um bom emprego?

Claro que não.

Quase me esqueci, que falta de educação a minha. Como vão meus meio-irmãos? Tem dado um bom exemplo e sido um pai presente para eles? Por favor, não queremos que eles futuramente abandonem suas famílias quando os filhos deles completarem seis anos, certo?

Deve ter sido uma tortura para você ler tudo isso até aqui. Desculpe o transtorno.

Esses tempos atrás você me ligou, no começo do ano. Foi a mamãe quem atendeu e apareceu no meu quarto dizendo que era você.

Ela parecia séria e um tanto preocupada. 

Peguei o telefone atendendo com um "Olá?"

Você explicou que pegou o número do nosso telefone com a tia Isabelle e disse que queria me encontrar e enquanto falava o quanto se arrependia de nunca ter tido contato antes e essas outras coisas eu observava minha mãe parada na batente da porta com um olhar distante.

Te respondi que teria um sábado livre e que poderia te encontrar. Você sugeriu um restaurante na hora do almoço e eu disse que tudo bem.

Eu estava feliz porque ia te ver depois de tanto tempo mas me preocupava com a mamãe. Ela parecia cada vez mais indiferente, fingindo que estava tudo bem.

Por um momento foi quase que como se eu me esquece de tudo que eu me lembrava do fatídico dia em que você nos deixou. 

Horas antes de nos encontrarmos mamãe me disse "Não crie expectativas, ele consegue acabar com todas de uma só vez".

Cheguei no lugar marcado e lá estava você com seu terno preto e gravata azul. Seu cabelo está grisalho agora, ao contrário da última vez que te vi.

Eu esperava um abraço ou algo do tipo mas você apertou a minha mão, como se eu fosse mais um de seus sócios. 

-Ouvi dizer que você é líder do grêmio estudantil no seu colégio. -você disse com um sorriso estampado no rosto quando nos sentamos na mesa reservada.

-Vice-líder, na verdade. -respondi também sorrindo.

-Isso é ótimo, Marina. Aposto que tira boas notas.

Marina entre Lobos - ContoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora