Beldades adolescentes

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Os olhos de Natacha desmanchavam em lágrimas ao terminar de ler os arquivos da filha. Lins tentava acalma-la em vão. 

Natacha se sentia a pior mãe do mundo por nunca ter ouvido a filha direito ou por nem ter perguntado a ela o que queria de verdade. 

Na cabeça de Lins as peças começaram se encaixar e ler o último ponto do arquivo foi como um clic em seu cérebro. 

Lins bravamente se levantou na cadeira e sem dizer nada saiu do quarto, desceu as escadas e em pouco tempo já estava dando partida em seu carro.

O último arquivo tinha sido atualizado em pouco tempo, então Lins sabia exatamente onde Marina estava. 

Foi até o terminal rodoviário que estava cheio pelo horário e passou a procurar um casal de beldades adolescentes. 

Procurou pelo local por pelo menos dez minutos até conseguir achar quem estava procurando. 

Marina usava um shorts jeans, uma camisa azul escura, jaqueta xadrez vermelha e coturnos pretos enquanto Irving estava com jeans rasgados, uma camisa do Led Zeppelin, All Stars preto nos pés e sua típica jaqueta de couro também preta. 

Os dois estavam sentados nas cadeiras de espera, Marina com a cabeça deitada no ombro do garoto enquanto o mesmo mexia nos cabelos cacheados da garota. 

Lins se sentou ao lado de Marina que nem se importou com a presença da mesma e disse:

-Vocês parecem com fome, querem tomar um café? -os dois a encararam com uma certa desconfiança.

-Não, obrigada. -Marina respondeu. 

-Tem certeza? -Lins insistiu. 

-Um café não vai fazer mal. -Irving respondeu fazendo Marina lhe lançar um olhar como se dissesse "Tem certeza?".

-Tudo bem então, vamos? -Lins se levantou primeiro e se dirigiu á uma lanchonete não muito longe de onde eles estavam, dentro do próprio terminal rodoviário.

Pediu três cafés e escolheu a mesa mais distante da porta.

Eles se sentaram, Lins de frente para eles.

-Para onde você está indo? -Irving puxou assunto.

-Lewes, e vocês? -Lins perguntou.

-Elkton. -Marina respondeu mas Lins sabia que era mentira. 

-Ah, acho que não me apresentei, sou Juliet. -Lins estendeu a mão para eles.

-Sou John e essa é a minha namorada Ayla. -Irving respondeu com um sorriso e os dois cumprimentaram a mais velha.

A garçonete trouxe seus cafés.

-Acho que não. -Lins disse segurando uma risada. Ela realmente amava seu emprego.

-O que disse? -Marina perguntou.

-Eu sei quem são. -Lins respondeu fazendo os dois paralisarem no mesmo momento. -Marina e Irving.

-Como você sabe!? -Marina respondeu soltando um suspiro.

-Pode me chamar de Invasora de Notebooks. 

-Você não vai nos levar de volta. -Irving se levantou.

Lins olhou em volta e percebeu que todos no estabelecimento os observavam.

-Queiram se acalmar e parar de chamar a atenção. Não é isso que vocês querem, certo?

Os dois a olharam totalmente confusos. A moça era realmente imprevisível.

-Então o que você vai fazer com a gente!? -Irving perguntou.

-Quem é você afinal!? -Marina perguntou se afundando na cadeira.

-Sou uma detetive. Sua mãe me contratou. E eu não vou fazer nada, só vou ajudar vocês.

Nada do que ela falava fazia sentindo para eles ainda.

-Já pensou em ser escritora, Marina? -Lins perguntou.

-Na verdade não. -ela respondeu pensativa.

-Você se daria bem, se tiverem tempo em sua fuga você pode escrever um romance. Mas e aí, falando em fuga, qual é o plano?

-Você acha mesmo que nós vamos contar para você? -Irving respondeu irônico.

-Escuta aqui garoto, se não me responderem eu posso muito bem distorcer essa história. -ela o encarou séria. -New York? -eles negaram com a cabeça. -Long Island. -Lins afirmou e eles confirmaram. -Tem alguma família lá?

-Consegui a chave da casa de veraneio do meu pai. -Marina se pronunciou timidamente. 

-Vocês tem dinheiro o suficiente para se sustentarem? -Lins perguntou.

-Temos dinheiro o suficiente para pelo menos um mês -Irving respondeu.

-Bom, muito bom. E o que vão fazer depois de um mês?

-Vamos arrumar algum emprego ou algo assim... -Marina respondeu.

-Algo assim!? Vocês deveriam ter planejado isso melhor, sabia?

Eles ficaram quietos. Sabiam que Lins tinha razão. 

-Eu tenho uma proposta. Vocês ficam lá por três meses e depois voltam. 

-E se não quisermos? -Irving cruzou os braços.

-Entrego vocês agora mesmo, será um prazer. 

-E como terá certeza de que ficaremos fora apenas por três meses?

-Por que se dentro de três meses vocês não estiverem aqui, eu vou saber. E eu vou saber muito bem aonde encontrar vocês. Entenderam? -os dois confirmaram com a cabeça. -Dentro desses três meses eu quero que vocês esfriem a cabeça e pensem o que vão fazer de útil pelo resto de suas vidas. Não façam nada ilegal, imoral ou do que vocês se arrependam depois. 

Lins se levantou da mesa. 

-Venham, vou sacar dinheiro para vocês. 

Eles foram até o caixa eletrônico e Lins sacou o dinheiro.

-Aqui tem a quantia que vocês precisam, e mais um pouco para uma certa festa de aniversário. -Lins entregou o dinheiro para Marina.

O casal tentava conter a felicidade. Ainda não conseguiam acreditar que aquilo estava realmente acontecendo e muito menos de que existiam pessoas tão imprevisíveis quanto Lins.

Eles se despediram da moça e embarcaram em seu ônibus. 

Lins voltou para a casa de Marina novamente e encontrou Natacha ainda parada na frente do notebook lendo a última frase que Marina havia escrito em menos de alguns minutos.


"Não se preocupe mãe, volto daqui três meses."


Marina entre Lobos - ContoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora