I

619 115 41
                                    

Podemos começar com Gad Colleman.

Sabe o que significa "Gad", senhor Colleman?

Gad: Feliz, contente.

Irônico, não acha?

Para um cientista magoado com o mundo e com as pessoas... Pelo menos eu acho meio irônico.

Você sempre foi tão amargo e realista com o mundo e as coisas ao seu redor que me fez enxergar tudo de uma forma diferente. 

Sua insistência em mim foi algo realmente surpreendente vindo de você. Mas a minha insistência em você também foi algo surpreendente, até mesmo para mim.

Filho de pais separados, encontrou na ciência uma resposta para tudo. Perdeu o amor da sua vida para o seu pior inimigo e desde então abomina o amor, o destino e outras drogas. 

Estava no seu primeiro ano na faculdade de Bioquímica quando me conheceu na biblioteca pública da cidade lendo a biografia de Karl Marx.

-O que está lendo, senhorita? -perguntou se sentando ao meu lado e levemente me assustando.

-Alguma biografia sobre um filósofo morto qualquer. -respondi o fazendo rir sem ter a intenção.

-Interessante. -você respondeu ainda achando graça na minha resposta. -Estou lendo algum livro de bioquímica qualquer.

O encarei não acreditando que atrapalharia a minha leitura para conversarmos sobre livros quaisquer.

-Interessante. -respondi voltando a minha leitura.

Foi aí que se apresentou direito, puxou mais algum assunto aleatório qualquer cujo o mesmo eu já não me lembro e pegou meu número de telefone. 

Você me achava muito bonita e sempre dizia isso quando tinha oportunidade. Dizia que amava meu perfume de canela e como ele ficava em sua blusa quando nos cumprimentávamos. 

Você me encontrava sempre que podia e pelo menos uma vez por semana me buscava no colégio. Tínhamos alguns pensamentos muito parecidos e isso fazia com que você me achasse cada vez mais interessante. 

Você me contou seus problemas e eu te apresentei música indie. Me levou para cafés e me explicou a sua própria teoria sobre a criação do mundo.

Mas você nunca me levou a sério. 

Você nunca teve tempo para me ouvir porque sempre estava ocupado de mais falando.

E eu sempre te ouvi com fascinação. Por quê, bem, eu amava você. 

Eu amava seu sobretudo e os seus óculos redondos. Eu amava o fato de ser alto, magro e desajeitado. Eu amava tudo em você.

E foi aí que as coisas começaram a desandar. 

Discutimos bastante aquele dia porque você se negava a acreditar no destino, no amor e nas coisas divinas. 

Marina entre Lobos - ContoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora