♪Semibreve

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"Tenho paciência e penso: Todo o mal traz consigo algum bem."

    — Beethoven   


♪♪♪


Fiquei um tempo fitando minha xícara vazia. Edward saíra do café logo depois de proferir aquelas palavras que eu ainda absorvia. Não conseguia acreditar que alguém falaria algo daquele tipo. Ofender uma classe inteira de pessoas? Deveria ter um motivo muito grande. Ou poderia ser a convivência com Edgar que o fez sentir tanto ódio, uma alternativa muito provável e válida em minha opinião. Afinal, o querido Professor Demoníaco não era flor que se cheire.

Seria algum trauma? Será que ouvira algum violinista péssimo durante sua vida? Porque convenhamos que um violino mal tocado é de partir o coração em mil pedacinhos.

Ou talvez seja um amor não correspondido por um musicista que o deixou assim?

Criei diversas hipóteses. Todas possíveis, nenhuma provável. E isso começava a me incomodar, deveria ter um motivo. Tinha que ter um motivo. Ódio gratuito é a pior coisa que alguém poderia sentir, além de ser algo estúpido.

Logo depois de pagar sai do café e procurei por Edward, talvez ainda estivesse por aqui.

Olhei os dois lados da rua diversas vezes até que notasse um homem escrevendo em uma caderneta na esquina. Aproximei-me com cautela e me assustei quando seus olhos cinza me fitaram, como se já soubesse que eu o procuraria. Seu olhar recaiu sob o relógio de pulso e murmurou algo que não consegui compreender, depois voltou a me encarar e arqueou a sobrancelha, perguntando silenciosamente o que eu estava fazendo ali.

— Por que você odeia os músicos?

— Limpe seus ouvidos, Lyra. Nunca falei que os odiava, apenas disse a verdade sobre a personalidade dos músicos — ele deu de ombros.

— Por acaso você se deu o trabalho de conhecer um músico para confirmar sua opinião?

— Eu convivo com um músico diariamente, senhorita — o jeito que falava fazia parecer tão óbvio o fato.

— Edgar é insuportável de natureza, não conta. Quantos músicos você já conheceu além dele?

Edward pensou por alguns instantes, abrindo e fechando os dedos da mão como se estivesse contando por lá.

— Muitos. E depois de ver sua reação posso confirmar mais uma vez: músicos são arrogantes — ele deu uma pausa, olhando-me de cima a baixo. — E tem um ego fácil de ser abalado, diga-se de passagem.

— O que disse?! — me exaltei.

— Não se faça de burra, Senhorita Scherzo.

— Quem você pensa que é para ofender alguém que mal conhece?! Você não tem nenhum direito!

Ele se aproximou um pouco e sorriu presunçosamente:

— Sim, eu tenho. E quer saber mais? Não é você que tirará este poder de mim.

Edward começou a andar sem me dar chance de socar sua cara pálida.

— Ainda não me contou as razões de sua opinião tão rude — falei alto o suficiente para que ouvisse.

Ele se virou, o sorriso ainda estampado em seu rosto:

— E nunca contarei. Desista, garota.

Então seria obrigada a descobrir sozinha, Senhor Contrariável.

Mozart Terminou ComigoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora