♪Calmaria de Vivaldi

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 "Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor." 
  — Mozart 

♪♪♪



A casa de Ara era quase uma exposição de arte. Os corredores, salas, quartos, para qualquer lado que se olhasse havia algum quadro de um artista conhecido.

O motivo de tantos era os pais de Arabesque que tinham um vício gigantesco em colecionar esse tipo de obra de arte, mas não passavam de apreciadores. Pelo que a violinista contara, sua mãe era professora e seu pai um dentista, as únicas almas artísticas da casa eram Ara e Luiza, sua irmã mais nova, que dançava balé clássico.

A sala de estar era uma bagunça de estilos e cores que ironicamente combinava, não sabia explicar nada com detalhes porque em cada canto havia milhares de pequenos e diferentes objetos. A única coisa que sempre me chamava a atenção quando passava era o retrato da família.

Era um grupo de quatro loiros, todos com olhos claros, a única exceção era Ara que ostentava belos olhos castanhos. Sua mãe, mulher que não me lembrava do nome por ser muito exótico, sorria e segurava a mão de seu marido, que se encontrava em sua cintura. As filhas estavam sentadas lado a lado, Ara deveria ter quinze ou dezesseis anos e sua irmã por volta dos dez. Elas usavam um vestido creme bem semelhante no corte, mas os detalhes eram completamente diferentes. Sorriam, a mais velha mostrava os dentes acompanhados de um aparelho e a outra tinha uma janelinha bem no dente da frente.

Eles pareciam felizes e não apenas uma felicidade falsa que vive apenas em retratos, era algo vivo e tão real que todo o ambiente emitia isso.

Talvez eu a invejasse um pouco quando pensava em assuntos como este, mas precisava aceitar que a única família perfeita que eu teria se encontraria em meus sonhos.

A verdade é que a família Scherzo nunca fora perfeita e o retrato de família empoeirado que guardava em um canto do meu quarto apenas confirmava o que sempre soube.

Afastei esses pensamentos e segui Arabesque até a cozinha. Não era o momento certo para pensar sobre meus pais e tudo que aconteceu desde então.

Não tinha tempo para arrependimentos.

Deixei as três garrafas de vinho que comprara em cima da bancada.

— Onde está sua família, Ara? — perguntei.

— Meus pais e Luiza vão passar o fim de semana com alguns amigos de longa data, foi então que tive a brilhante ideia de organizar um jantar e chamar todo mundo! — Começou a falar enquanto andava próximo ao fogão e mexia uma das panelas. — Sabe, faz apenas duas semanas que entramos de férias, mas sinto como se não conversasse com você há décadas!

— Eu também, confesso que sinto falta.

— Das aulas ou da minha companhia? — brincou.

— Dos dois. — Dei risada.

— Você vai viajar esse ano, Lyra? Visitar a família ou alguns amigos? — perguntou enquanto pegava algo do armário.

— Não, essa época do ano não é minha predileta...

E é um assunto que eu não gostava de conversar. Natal e ano novo... Duas festas que passarei em casa na companhia de uma boa garrafa de vinho.

— Sério? Eu amo as festas de fim de ano! Mas o inverno não me agrada muito... Quero que esta estação passe logo para que comece a primavera!

Mozart Terminou ComigoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora