ii. MEDO

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"Ela encontrou o refúgio nas palavra de velhos livros, na garoa forte e tempestuosa, e em não ler os finais das páginas de seus livros."

Eu me lembro claramente desse dia.

Lembro-me como se fosse hoje, porque é uma lembrança inevitável de esquecer.

Você se lembra?? Lembra daquela tarde tempestuosa a qual nos encontramos pela segunda vez?? Como um maldito filme cliché, onde as histórias de amor começam e também onde terminam.

Era um sábado qualquer, nuvens cinzentas e escuras imudavam o céu escondendo o sol que parecia apagado, eu estava passando pela centro de nossa cidade para encomendar uma guitarra nova, Rachel tocava maravilhosamente mas suas cordas estavam gastas e não eram mais as mesmas, eu infelizmente teria que comprar uma nova guitarra.

O cigarro em minha boca fazia-se presente, sinto a nicotina invadir os meus pulmões assim que o inspiro e demoradamente sopro a fumaça branca em meus lábios. O dono da loja de instrumentos, era um velho carrancudo que me detestava constantemente, me olhou com repulso ao entrar em sua loja ainda com o cigarro, mas não reclamou pois eu o dava lucro. Eu havia comprado uma guitarra de cor preta com detalhes cinzentos, toco suas cordas que transmitiram um som agradável e sorrio. Era perfeita.

Mas eu não estou contando apenas a história de quando comprei uma guitarra nova. Estou contando a do dia que eu a deixei sem palavras como você havia feito comigo naquele dia de aula, estou contando o quão você parecia curiosa em saber o motivo pelo qual odiava literatura, e de quão atraído eu estava por você mesmo a conhecendo tão pouco.

E isso não mudou, eu nunca a conheci bem Hope, eu nunca soube nada de você ao não ser as pequenas coisas a qual me contava e se sequer eram verdadeiras.

Saio da loja com a guitarra nova carregada nas costas, vejo um grupo de garotas me olhar e depois soltar risadinhas ao passar por mim, ignoro jogando a bituca do cigarro gasta no chão, e continuo o meu trajeto até a casa de Cameron, onde haveria o ensaio de nossa banda, foi quando eu a vi pela vidraça de uma biblioteca antiga, paro no mesmo momento de andar para ficar a observando de longe.

Seus cabelos estavam soltos novamente, você usava uma saia preta igual a sua meia calça e seu casaco cinza, você olhava atentamente as prateleiras dos livros, passando seus dedos pelas capas, escolhendo com cuidado o livro desejado, você dá um pequeno sorriso ao tirar um da prateleira e fica a olhando, ainda sorrindo passando os dedos pela capa dura e surrada daquele livro empoeirado.

Não lembro como mas eu já havia entrado na biblioteca, o pequeno sino da entrada toca assim que entro, fazendo alguns jovens que estavam um pouco distantes de mim sentados em mesas me olhar curiosos.

Caminhei entre os corredores cheios de prateleiras de livros e com atendentes que perguntavam se eu precisava de algo mas eu negava, eu estava a procurando quando a avistei sentada em uma das mesas sozinha, seus olhos moviam-se calmamente pelas palavras daquele livro, era tão satisfatório admirar a paz que você transmitia em si própria, o quão parecia que quando você mergulhava nas páginas daqueles livros, sua presença desaparecia esquecendo tudo ao redor.

Você para por o um momento de prestar a atenção de seu livro e sobe seu olhar a mim, você me olhava curiosa e irritada?? Era difícil de decifrar, paro a de olhar e começo a encarar as prateleiras de livros, tentando escolher algum para variar. Mas meu deus eram tantos livros e eu não sabia sobre nenhum do que se tratava.

Sinto sua presença ao meu lado me observando e pego qualquer livro rapidamente da prateleira e coloco perante ao peito assim como você.

"O que está fazendo aqui?" ― você perguntou com a expressão séria e eu fiz uma cara de como se não fosse óbvio.

"Estou escolhendo um livro para ler como todos aqui" ― digo e você arqueia as sombracelhas e emite um estalo na língua.

"Muito interessante sua escolha, sobre hum.... Puberdade feminina na adolescência."― você diz dando um sorriso sarcástico e me xingo mentalmente.

"É para minha prima"― foi a primeira coisa que pensei.

"Guardarei seu segredo Noah Livergens."― você diz piscando a mim e dou um sorriso.

"Como sabe meu nome?"

"É fácil quando é o único que falta as aulas de literatura e aparece uma única vez"

"Eu odeio as aulas de literatura"― comento e você me olha curiosa.

"Por que?"

"É entediante e exaustivo ficar em uma sala com adolescentes discutindo sobre livros, sobre histórias falsas, ao não ser as baseadas em fatos reais, mas as fictícias são falsas, mentirosas, iludidoras, fazem que as pessoas queirem ter a vida como a história lida."

E pela primeira vez vi você ficar sem palavras. Hope Sanders a garota a qual tinha palavras para quase tudo eu a consegui calar.

Te encaro intensamente, observando sua boca carnuda fechada e o olhar para qualquer lugar que não fosse meu rosto, porque Hope você sabia que eu tinha razão.

"Preciso ir"― você murmurou e começou a andar, comecei também e você apressou seus passos.

"Hope..."― digo quando consigo alcança-la perto da escadaria para as prateleiras de livros do andar acima.

"O que você quer?"― você me encarava irritada, e penso em sua pergunta por alguns segundos.

O que eu realmente queria? Uma chance de convidá-la para sair? Ou conhecê-la de verdade. A garota por trás daquelas opiniões estranhas e curiosas.

"Porque não lê finais de livros?"― pergunto e a choco e a mim mesmo com a pergunta, e você coloca uma mecha cacheada que caía em seu rosto para trás da orelha, e sinto a vontade de tocar seu cabelo.

"Não é nada demais"― você diz indiferente e começa a caminhar entre as prateleiras e a sigo.

"Não sou por me interessar por algo facilmente mas sua opinião sobre as histórias me intrigou"― digo e você sorri, talvez se lembrando quando humilhou minha opinião na frente de todos.

Olho para o livro em seu braço e vejo que era um dos livros que carregava no dia que nos falámos pela primeira vez.

"Você já o leu?"

"Não por completo. Seu final é um mistério que jamais ousarei ler"― você sorri encarando minha expressão confusa.

O porque de ler um livro e nunca saber seu final?? Era um pensamento sem lógica nenhuma. Porque não ler e saber o tão famoso "final felizes para sempre".

"Qual é a graça de ler um livro e não saber seu final? O que aconteceu com os personagens. Tudo tem seu começo, meio e fim, não dá para simplesmente prolongar certas coisas"― seu olhar era tão curioso quanto ao meu e demorou cerca de segundos para pensar em algum argumento para justificar-se.

"Para que se ler tudo? Quando posso imaginar uma continuação da história, fazer com que os personagens tomem rumos diferentes. Ler a última página é como matá-los, saber que a história acabou da maneira que você não planejou."

Penso por segundos, analisando tudo e então eu soube o motivo pela qual você não lia os finais de seus livros. Continuo a encara-la e você parecia ansiar por minha resposta.

"Você não tem medo de finais, é mais que isso, você tem medo de tudo que planejou, saía fora de seu controle."

Você me encarou um tanto curiosa e depois riu.

Uma risada falsa, e depois caminhou ate fora da biblioteca onde o céu avisava uma tempestade terrível junto com sua garoa forte, e você foi embora novamente entre o meio daquelas pessoas que corriam da chuva para não se molharem mas você andava tranquilamente, penso em ir atrás de você mas não vou.

Porque eu ja estava me acostumando a cada vez que você não tivesse respostas a ir embora sem explicativa alguma.

Hope & NoahOnde as histórias ganham vida. Descobre agora