Capítulo 3 - Como contempla a maré

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O outro dia chegou, e Lifa ainda não havia dado uma resposta para o convite. Na noite anterior o silêncio praticamente dominou a conversa dali em diante, e eles se despediram com um aperto de mão e sorrisos cansados. Belman não se importou muito com isso, já faziam alguns dias que ele estava certo de que sempre a encontraria naquele mesmo lugar, escondendo-se como uma gata arisca no lixão. Teria mais tempo para conversar depois, após saber que ela já não sentia mais medo dele.

Partiu para a Tantom's, mas antes passando por um padeiro que se alojava com sua tenda no meio do caminho. O preço estava absurdamente caro, talvez o mais caro que tivesse alcançado no tempo em que Belman o conhecia, mas preferiu não perguntar nada ao vendedor, os comerciantes daquela região não costumavam ficar contentes com comentários do tipo. Continuou o caminho enquanto mordia o pão e sentia a boca seca, ansioso para chegar na taberna e beber alguma coisa. Quando chegou não havia ninguém, exceto Tantom e um punhado de beberrões que, provavelmente, hibernavam nos quartos, era possível ouvir seus roncos atravessando o assoalho. Tantom encarou o garoto durante toda a sua caminhada pelo salão após o sininho da porta ser badalado.

Belman se aproximou, cumprimentando-o com a cabeça, e colocou três botões no balcão.

– Um fino dos campos, meu caro taberneiro – falou, e só então notou o quanto eu estava suado.

Tantom contorceu os lábios e o bigode os seguiu, olhando para o dinheiro e depois para Belman com pesar.

– Por um fino? Serão seis botões.

E o garoto levantou uma sobrancelha, pego de surpresa.

– Seis? Está brincando.

Ele encolheu os ombros e falou:

– Queria que estivesse – e fez uma pausa, tristonho. – A crise é real, Bel, ela já está aqui.

Belman olhou para ele por muito mais tempo que o normal, enquanto encaixava as ideias na mente. Soltou uma bufada cabisbaixa, encarando as suas mãos que repousavam no balcão, e sem desviar o olhar, perguntou:

– O que faremos?

– Por enquanto? – e fez uma pausa para pegar um vinho na estante atrás de si, e começou a servi-lo. – Precisaremos fazer alguns cortes e ajustes. – empurrou a bebida para perto de Belman, aparentemente, sem cobrar nada por ela.

– Do que está falando, exatamente? – levou a caneca até a boca.

– Talvez usar ingredientes de menos custo, ou então cortar as bebidas que são menos pedidas – ele não parecia contente em dizer isso. – Ou talvez, diminuir um pouco da carga horária de vocês.

Belman levantou os olhos.

– Isso quer dizer que nos pagará menos...

– Infelizmente, talvez metade de um período seja o ideal – encolheu os ombros – mas ainda não há nada decidido, por enquanto eu manterei do jeito que está até que eu tenha uma reunião com meu homem de negócios. E com todos vocês, é claro.

O silêncio usufruiu do momento, cortado apenas por um ronco ou outro que saía mais alto que o normal no andar de cima.

Tantom lhe deu um tapinha no ombro, e o acordou dos pensamentos.

– Não se preocupe garoto – seu bigode se encurvou com o sorriso. – A Tantom's ainda é a Tantom's, vamos sobreviver a isso e continuar como sempre estivemos.

O cozinheiro assentiu com a cabeça, e deu um meio sorriso.

– Certo, vou fazer umas torradas, vai querer?

A Caveira de LuzWhere stories live. Discover now