Capítulo 6 - Me'rik

28 1 0
                                    

1

A escuridão foi preenchida de murmúrios desordenados e confusos por toda a taberna, principalmente por causa da exclamação em voz feminina que proliferou por um segundo. Belman tateou o corpo em sua frente a fim de se segurar em Lifa, e ela também pareceu retribuir o gesto para não se perderem um do outro naquele breu. Belman, assim como todos, estava com a total incompreensão, sua respiração ficou impaciente enquanto ele procurava por vultos que reconhecesse, mas não podia ver ninguém.

A agonia do completo escuro não perdurou, pois em poucos momentos algumas luzes foram acesas, não em toda a taberna, mas apenas nos braseiros da parede oeste, onde estavam as mesas principais. Os convidados que estavam ali soltaram brados por causa do susto, e se afastaram da parede recém acesa, derrubando cadeiras e tropeçando uns nos outros, e agora todos do local se organizavam num meio círculo de aflição. Belman podia enfim ver melhor ao seu redor, agarrada em seus braços estava Lifa, e logo ali ao lado estava Tantom, apoiado numa das mesas longas de carteado, também aflito, olhando para o local de onde viera o grito, e então o garoto percebeu que aquilo não poderia obra dele.

As chamas da parede oeste iluminavam precariamente um quinteto de figuras que não se importavam em se mexer, uma delas era muito grande, monstruosa, para dizer o mínimo, e obviamente foi a que mais chamou a atenção. Mas ainda era difícil de vê-los, pois as chamas às suas costas só revelavam suas silhuetas escuras. E logo todos ouviram uma voz imponente vindo de um deles:

– Já deve ser o suficiente, acenda o resto, por favor.

E então todos os braseiros ao redor foram se acendendo, e a cada um que explodia em chamas um berro era solto pelo grupo de pessoas que estava próximo, inclusive Belman e Lifa, que sobressaltaram quando a chama atrás de suas cabeças acendeu. Todos logo voltaram a atenção ao grupo misterioso que se postava à frente, mas agora podiam ver melhor com a nova iluminação, e dessa vez os gritos foram estridentes e apavorados.

As coisas que estavam paradas ali eram monstros, é o que qualquer um diria ao olhar da primeira até a décima vez. A figura mais a frente e no meio do grupo se vestia como um capitão de navio, mas tinha as roupas tão rasgadas e encharcadas que qualquer resquício de normalidade já tivera sumido a séculos. Tinha a cabeça em formato de tubarão martelo, com um chapéu de capitão sujo de algas sobre a mesma, e até os que estavam ao longe podiam ver que esse rosto sorria, com a mais pura maldade.

Haviam mais dois de cada lado deste, e um deles, à sua esquerda, era a criatura gigante que todos puderam notar primeiro na meia-luz. Devia ter pelo menos três metros de altura, o corpo era esverdeado e musculoso, em formato de um peixe bípede. O rosto revelava uma bocarra gigante com dentes pontiagudos, seus olhos eram mortos, sem alma, e não pareciam olhar para lugar algum em específico. Segurava uma mulher em uma de suas mãos gigantescas, que tremia, chorava e exclamava gemidos de pavor. Era Tuda, e de certo tivera sido ela a soltar o primeiro grito.

Belman pôde ver Tantom logo ali perto, se adiantando lentamente, a passos lentos e sem acreditar no que via. Sentia Lifa respirar com temor e tremer no seu braço, mas não ousava despregar os olhos da cena adiante. Próximo do grupo se encontrava Frida, que estava apavorada por ver sua irmã nas mãos daqueles monstros.

Belman não teve tempo de analisar o resto das figuras, pois o homem sorridente do centro deu um par de passos à frente, e voltou a falar com a sua voz grave:

– Senhores e senhoritas, peço que mantenham a total calma, pois nenhum de nós aqui quer que algo de ruim aconteça.

Tuda soltou um choro alto.

– Cale a porra da boca! – gritou outro do grupo, que estava ao lado do peixe grande. Era de longe o mais baixinho e esguio do grupo, tinha o rosto magro e parecia um jovem adolescente com a pele podre, com uma expressão de fúria em seu rosto.

A Caveira de LuzDär berättelser lever. Upptäck nu