TERRA

1.9K 190 10
                                    

Terra, era sete palmos abaixo dela que minha família estava, ou boa parte dela pelo menos, a parte que eu conhecia até 23 anos, e era essa a história, não tão bonita que eu contaria para a Mariana

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Terra, era sete palmos abaixo dela que minha família estava, ou boa parte dela pelo menos, a parte que eu conhecia até 23 anos, e era essa a história, não tão bonita que eu contaria para a Mariana. 

-Minha história de vida começava antes mesmo de eu nascer. Em resumo minha mãe se casou com meu pai forçada, não, meu pai não sequestrou minha mãe e a forçou a casar com ele, a culpa desse casamento forçado é do meu avô. - falei e vi ela fazer uma careta confusa -  Eu explico, minha mitéra ficou grávida antes de se casar e de um cara que eu não sei quem é, e meu avô a fez escolher entre o bebê nascer e ela se casar com quem ele escolhesse ou ela fazer um aborto e ela escolheu o filho, o meu irmão. 

-Carlos isso é sério? - ela perguntou. 

-Sim, e o que sei sobre isso foi o que minha mãe me contou numa carta. Eu sei que meu irmão foi tirado dela antes mesmo que ela pudesse colocar seus olhos nele e que logo que ela saiu do hospital, ela se casou com meu pai, e então eles consumaram o casamento e ai eu vim.  falei dando os ombros - Eu não tenho lembranças dos meus pais sendo carinhosos um com o outro, mas pra mim nunca faltou amor, nem da parte dos meus pais, nem dos meus avós. Eu fui muito amado, até o dia que tudo desmoronou.

-Se você não se sentir confortável não precisa me contar mais nada. - ela disse. 

-Tá tudo bem, eu já repeti essa história algumas vezes. - falei - Eu tinha uns 14 anos e um horário pra chegar em casa, e eu o respeitava, até o dia em que a escola teve que passar por uma dedetização e os alunos foram liberados mais cedo e eu como não tinha pra onde ir fui pra casa. Eu cheguei a tempo de ver minha mãe desacordada sofrendo agressões do meu pai que estava bêbado enquanto o andar de cima de nossa casa pegava fogo, eu vi a cabeça da minha mãe sangrar e o que me pareceu ser meu pai a agredindo. Eu peguei um vaso, de ferro, que tínhamos em casa e acertei sua cabeça, eu não tenho certeza de quantas vezes fiz isso, mas o que sei é que eu só parei quando vi o sangue dele. 

-Carlos. - ela sussurrou cobrindo a boca com as mãos. 

-Eu liguei pros bombeiros e enquanto eu esperava por socorro eu via as chamas chegando mais perto de nós três, mas eu não conseguia sair de perto dos meus pais, por mais que soubesse dos riscos que corria. Eu vi o socorro chegar e agir em minha mãe e meu pai, e apaguei quando saia das casa e uma das vigas caiu sobre mim. Depois disso acordei no hospital com a notícia que meu pai havia inalado muita fumaça e se queimado em várias partes do corpo e por isso ele não tinha resistido e minha mãe seguia desacordada. - contei revivendo tudo aquilo novamente - Meu pai passou por exame de corpo delito em que foi constatado a pancada na cabeça e eu fui questionado sobre o que tinha acontecido, eu contei o que tinha visto e por fim a morte do meu pai foi diagnosticada como asfixia mecânica, mas o que foi dito a mim foi que se ele tivesse acordado, talvez, tivesse sobrevivido. 

-Você sabe que não é sua culpa, certo? 

-Em partes não é. - falei - A história não acabou. Então fomos eu e minha mãe contra o mundo, até os meus 20 anos quando o câncer chegou a mitéra pela primeira vez, ele foi forte, duradouro e com meus 21 anos ela estava curada e eu pude enfim sem peso nenhum na consciência entrar na minha sonhada carreira de bombeiro, eu me formei com honras e me tornei um bombeiro civil, aos 22 vovô faleceu, ficamos sabendo disso quando chegou uma pepel sobre direitos que tínhamos sobre sua casa, nos mudamos para ela e saímos do aluguel, com 25 anos tive que me afastar da corporação, o câncer tinha alcançado pela segunda vez mitéra, dessa vez ele foi legal e durou menos de um ano no organismo dela e eu voltei ao trabalho, foi no meu aniversário de 27 anos que tive a notícia de que o câncer tinha chego nela pela terceira ver e dessa vez eu não pude fazer nada, eu a vi se acabando aos poucos, primeiro foram os enjoos, mas eles eram culpa dos medicamentos, depois foi a falta de apetite, mas era só até o tratamento acabar, depois veio a falta de ar e a internação e então ela não saiu mais do hospital, eu lembro as últimas palavras que ela me disse como se ela tivesse me dizendo elas agora "ache seu irmão e faça ele me perdoar, por favor" e foi assim que eu fiquei sozinho, com a missão de achar um cara que eu nem sabia que existia.

HopeWhere stories live. Discover now