A mais contada...

817 59 11
                                    

As obreiras, os pastores, os bispos, todos contavam com ela, todos pediam sempre a ajuda dela. As almas eram postas sempre em suas mãos, os propósitos eram feitos sempre pela mesma e até a organização da catedral era com ela.

Tudo que ela fazia era com amor, até uma poltrona que ela limpava era com amor. Seus olhos brilhavam como chamas quando ela aparecia na porta da catedral, sempre que podia acompanhada por almas. Ela não era perfeita, porém, a sua dedicação era notória.

Ela era a mais chamada a atenção, sim, porém, ela era diferente, ela não retrucava, ela não murmurava, pois ela não apenas fazia, ela era.

Já fazia algum tempo que eu estava no "Escolhidas Para o Altar", e não demorou muito para que fosse liberado meu namoro com Leandro. Ele auxiliar do bispo, eu filha de consideração de um casal de pastor e esposa.

Era de se esperar que fossemos notados mais rapidamente. Não que os outros não fossem notados, isso nunca, mais digamos que esses fatores contribuíram, por estarmos mais perto, fora que Leandro sempre foi um grande homem de Deus e eu...Eu fingia muito bem.

Mais mesmo eu estando já namorando, não foi o suficiente para eu ser mais que ela, ela mesmo toda desarrumada era mais contada que eu. Seu vestido sempre estava amarrotado em alguma parte, seu cabelo finalmente ficava no lugar. Sua maquiagem não era muito pesada, era apenas uma máscara para cílios e um batom cor de boca, que realçava seus lábios.

Ela era tão linda. Tanto por fora quanto por dentro, tudo nela era lindo, eu a admirava, mesmo que não reconhecesse isso.

Eu era um monstro.

Um monstro, era o que minhas atitudes revelavam que eu era. Eu a humilhava, eu a xingava, eu falava que aquele não era seu lugar, eu fazia de tudo pra que ela se desse mal sempre, toda semana ela era chamada atenção injustamente por algo que eu a acusava.

Mais ela NUNCA reclamava, ela sempre ignorava tudo que eu fazia, ela apenas falava que oraria por mim. Por que? Eu não preciso da oração dela, eu não preciso da Melissa.

Mais um dia, eu fui muito longe, e aquilo custaria muito mais do que eu pensava.

Era mais um domingo pela manhã,  eu estava feliz pois finalmente veria Leandro, pois essa semana não tínhamos nos falado muito.

-Oi meu bem!-digo dando um beijo em Leandro.

-Helena, não podemos ficar nos beijando aqui no salão, pois temos que passar seriedade...Por favor-diz.

-Você esta com vergonha de me beijar na frente das pessoas é?-digo brava.

-Claro que não meu bem, é apenas por temor-diz pacientemente.

Saio andando e deixo Leandro falando sozinho. Quem ele pensa que é pra falar daquele jeito comigo?

Andei sem olhar para trás, e pouco a frente vejo Melissa, ela me cumprimenta sorridente, e eu passo por ela sem ao menos olhar para a mesma.

Coloquei minhas coisas na sala dos obreiros e logo me encontrei com minhas amigas.

-Oi meninas, tudo bem?-digo.

-Com a gente sim, porém, não sei se você vai ficar tão bem, quando ver a cena que vimos no salão-diz Sophia.

-Que cena?-digo.

-Veja você mesma-diz.

Quando saio em direção ao salão, vejo Leandro conversando com Melissa. Ele esta mostrando algo pra ela e ela sorri e confirma algo com ele.

Me aproximo rapidamente e assim que chego perto deles Leandro sorri pra mim.

-Heleninha você não vai acreditar na ideia que...-diz sendo interrompido por mim.

-Melissa venha comigo por favor-digo séria.

-Sim senhora-diz.

Descemos até o banheiro, quando me certifico que não tem ninguém, começo a falar.

-Qual é o seu problema garota-pergunto.

-Não estou entendendo obreira-diz.

-Não finge de sonsa Melissa, eu vi você de papinho com o MEU namorado-digo dando ênfase no "meu".

-Obreira a senhora esta me ofendendo, então trate de me respeitar, eu já cansei das grosserias da senhora e...E...Ah acho melhor não falar nada-diz.

-Você não tem que falar nada mesmo não, você é uma qualquer mesmo, não tem nenhum outro pastorzinho por ai pra você se oferecer pra ele não é? Tem que ser com o meu namorado?-digo quase gritando.

-A senhora deve me respeitar obreira, não vou admitir outra falta de respeito-diz.

-Querida, eu não sou uma obreirinha qualquer igual você, então eu posso muito bem te prejudicar se você se meter no me caminho, eu não quero você perto do Leandro, e muito menos de mim-digo.

-Eu não preciso ficar me oferecendo pra nenhum pastor, igual a senhora faz com o pastor Leandro, a senhora faz questão de mostrar pra todos que ele é SEU namorado pra se sentir mais que todas nós. Eu fiz de tudo pra não ter maus olhos com a senhora, mais descobri que é algo impossível, pois a senhora é apenas mais uma, se escondendo por trás de um uniforme-diz já alterada.

-Sua infeliz-digo acertando um tapa no rosto dela.

Seus olhos se encheram de lágrimas, aquela paz que eu via em seu semblante se transformou em raiva, em ódio, ela olhava pra mim com rancor. Lágrimas escorriam em seus olhos, e eu vi o brilho de seu olhar ser perdido em uma delas.

-Eu desisto...Desisto da senhora, desisto de tudo, eu cansei de fazer o meu melhor e só ser humilhada, vá para o inferno obreirinha, você, Leandro e toda essa igreja-diz.

Ela desfez seu laço, retirou seu echarpe e o jogou no chão, tirou os sapatos e em um ato de impulso jogou ele no espelho que na mesma hora se quebrou.
Ela saiu dali com o rosto banhado em lágrimas e tudo que eu consegui fazer, foi ficar parada olhando para onde a mesma tinha saído. Um sorriso involuntário desenhou meus lábios e algo aconteceu.

Sabe a sensação de tirar uma blusa? Então, foi uma sensação parecida, algo havia sido retirado de mim naquele instante, porém, eu não sabia o que era. Uma sensação de bem estar preencheu meu ser como a muito tempo eu  não sentia.

O meus olhos, que já não eram tão iluminados como antes, se transformou em uma completa treva.

O meu interior se apagou completamente, e eu me sentia bem, pois havia aquela sensação de bem estar, porém, eu sabia que algo havia acontecido e ao pensar nisso meu coração se apertava.

O Espírito Santo se apagou, a ponto de ser retirado de mim...

Não extingais o Espírito.

E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.

(1 Tessalonicenses 5:19 e 5:23)

A Obreira Real (Em revisão)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora