Seis

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Depois de ser jogada sobre o lombo daquele maldito cavalo e se ver obrigada a cavalgar com pessoas que não conhecia, os ânimos de Elizabeth não estavam nada bem

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Depois de ser jogada sobre o lombo daquele maldito cavalo e se ver obrigada a cavalgar com pessoas que não conhecia, os ânimos de Elizabeth não estavam nada bem. Primeiro sentiu-se inquieta, depois a quietude tomou conta dela, como se estivesse presenciando algum funeral, talvez o seu, inclusive. Então veio o medo, do desconhecido, de não saber o que fazer e tampouco o que a aguardava e por último, claro, o desespero desenfreado e a vontade de saltar do cavalo e sair correndo.
Esses sentimentos iam e vinham em um ciclo torturante que a pressionava demasiadamente.
Nos momentos em que estava inquieta, remexia-se sobre o lombo do cavalo como se estivesse com mil farpas lhe pinicando a pele. Quando a quietude se instalava, ao contrário, era como se a sombra da morte pairasse sobre ela, pronta para lhe decepar o pescoço a qualquer instante. E isso a amedrontava fazendo com que se desesperasse e sentisse vontade de chorar.
— Eu apreciaria se parasse de se mexer. — a voz do homem que a carregava a tirou de seus loucos devaneios.
— Não posso evitar. — seu tom era de desculpas.
— É melhor tentar. — avisou ele.
Ou o quê? Ela teve vontade de perguntar. As palavras estavam na ponta da língua, afiadas como uma faca mas precisava ter cautela. Não sabia em qual território estava e bancar a esperta não a levaria a lugar algum naquela ocasião.
Era estranho ter alguém tão próximo a ela. Sabia que ele a estava protegendo, mas a sensação lhe amedrontava. Não podia explicar. O peito e os ombros largos eram quase como um escudo em suas costas, irradiando calor e fazendo com que todo o seu corpo se aquecesse sob o tempo frio. Ela mal sentia a fina garoa que caía sobre eles pois tanto ela quanto Belinha estavam protegidas embaixo do manto que os homens usaram para cobri-las. Isso fazia com que ela tivesse de ficar próxima demais já que o manto era parte da vestimenta dele. Se quisesse continuar livre da chuva e aquecida, não havia alternativa, precisava ficar perto do corpo daquele homem.
Talvez se pudesse ver seu rosto, olhar em seus olhos claramente, talvez assim pudesse ver as verdadeiras intenções dele e do outro. Entretanto, naquela escuridão, e com a lua aparecendo escassas vezes por entre as nuvens, era quase impossível decifrar o rosto de ambos. Lizzie só podia confiar em seus sentidos, em seus instintos. Acreditava que os olhos dele eram escuros, completamente escuros. Também percebeu que tinha longos cabelos. No momento em que ele a beijou ela foi capaz de sentir a barba por fazer, lembrou-se. Porém assim, soltas, as características não passavam de um monte de informações amontoadas. Ela não conseguia formar uma imagem que fosse boa o bastante e sua curiosidade aguçada não a ajudava em nada.
Não sabia há quanto tempo estavam cavalgando, mas sabia que faltava um bom tempo para amanhecer. Não pararam nenhuma vez durante a noite e isso a preocupava pois sabia que Belinha estava doente e embaixo daquela chuva temia que o estado da irmã piorasse. Olhou para o lado e a viu encolhida sobre o peito do homem que a carregava, somente parte de seus cabelos e rosto aparecendo por debaixo do grosso tecido que a cobria. Dormia profundamente. Lizzie se perguntou como ela era capaz de dormir em uma situação como aquela, mas então tentou se colocar no lugar da irmã e lembrou do quanto devia estar cansada e fragilizada e provavelmente não menos desesperada. Isso a fez pensar em seu próprio cansaço e esgotamento. Senhor, poderia estar em casa repousando em sua cama. Era o lugar em que certamente deveria estar se sua família não a estivesse mandando para o abate como se fosse um porco imundo.
Não conseguia fazer aqueles pensamentos irem embora. Queria parar de se martirizar e sentir raiva, mas não conseguia. A impotência era um sentimento desolador que a tomava por completo e ela não tinha a menor ideia do que fazer para melhorar as coisas, para tentar sair daquele buraco.
— Está pensando demais, milady. —  a voz atrás dela disse em seu ouvido.
Foi tão inesperado que ela se arrepiou devido ao susto.
Ele falava baixo, tão baixo que era quase um sussurro em sua orelha. O hálito quente lhe fazendo cócegas e provocando reações nada agradáveis.
— Como sabe que estou pensando? — respondeu no mesmo tom.
— Você não para de se mexer.
— Já disse, estou desconfortável.
Ele a puxou um pouco mais perto, fazendo-a sentir um volume considerável próximo ao seu traseiro.
— Acredite. Não está mais desconfortável do que eu.
Lizzie engoliu em seco, envergonhada.
— Não posso evitar.
Desta vez ele falou tão perto de seu ouvido que além do hálito, Lizzie pensou ter sentido os lábios dele a tocando.
— Acho bom tentar.
Ela não gostou do tom de ameaça. Imediatamente sentiu necessidade de mostrar as garras.
— Não pedi para estar aqui, não pedi que me salvasse, não pedi que nos escoltasse. Se tem problemas com meu traseiro, não posso fazer nada. — Proferiu, em um rompante, sua voz apesar de baixa, demonstrava toda a irritação que sentia. — se não pode controlar seus instintos de selvageria, a culpa definitivamente não é minha!
Aquilo pareceu surpreendê-lo.
— Ora, ora. Você realmente é uma gata selvagem.
— Qualquer animal acuado é capaz de demonstrar coragem, meu senhor.
— Está acuada?
— Estou. Quero dizer, claro que não!
— Está ou não está?
— Pare de falar tão próximo a mim, por favor. Ficarei grata se puder fazer isso.
— Prefere que acorde a sua irmã e todos os animais da floresta falando alto?
— Não tente me manipular. Não vai funcionar. O senhor está sendo inconveniente de propósito.
— Inconveniente?
— Completamente.
— Em que sentido?
— No sentido de me coagir, e me constranger. Não nos conhecemos, não sou seu objeto ou animalzinho e você não manda em mim.
—Hmmm, eu nunca disse que mandava em você.
— Me obrigou a cavalgar com você.
— Preferia ir a pé?
— Eu, bem, não é isso, você me entendeu. — Tentou explicar.
— Preferia que a deixasse onde estava?
— Não exatamente.
— Ora, mas então está se contradizendo.
— O senhor me irrita e me confunde. 
— A senhorita me irritou a noite toda.
— Eu? Mas eu não fiz nada!
— Não parou de mexer o maldito traseiro um minuto sequer. Me faz pensar que tem algum bicho que a cutuca neste lugar, é possível?
— Tem algo me cutucando, mas não é um bicho. — disse com sarcasmo.
Ele riu baixinho.
— Onde aprendeu a falar desse jeito? Esses não são modos de uma moça. Acaso não lhe deram educação?
— Tentaram, mas não aprendi. Contudo, sei me comportar o suficiente quando necessário.
— E quando se dão essas ocasiões?
—Quando estou na presença de gente decente, não de selvagens mal educados.
— Que eu saiba, tudo o que fiz foi salvar a sua pele, milady. Em troca você chutou minha cara, depois quase arrancou meus olhos, em seguida chutou minhas bolas e por último me derrubou com esse pequeno punho feroz. Acho que a única selvagem aqui é você, se analisarmos bem todo o contexto.
Lizzie fez uma careta de desgosto. A verdade doía muito quando esfregada assim na sua cara.
— Eu estava me defendendo em uma situação desesperadora.
— Mulheres não se defendem. Lutam como galinhas.
— Galinhas?
— Cacarejam, gritam e se debatem muito. Mas sem grande efetividade, na verdade. No fim, acabam indo para a panela de qualquer maneira.
Ela quis mata-lo.
— Eu não sou uma galinha!
— Vai acordar sua irmã.
— Mas eu não sou uma galinha.
— Ate que prove o contrário, para mim, você é.
— Porco! — Praguejou.
— Atrevida.
— O senhor não passa de um selvagem sem modos.
— E a senhorita cacareja em demasia.
— Ora, seu...
Ela quase completou a frase, mas então ele a pegou de supetão e a puxou contra si, fazendo-a sentir plenamente o imenso volume de sua virilidade contra o pequeno traseiro dela, e isso foi o suficiente para que um rubor inevitável tomasse conta de seu rosto e para que todas as palavras sumissem.
Tudo aconteceu tão rápido que por um instante, Lizzie esqueceu que estava deprimida. Ela ficou tão concentrada em brigar com seu salvador que não percebeu o quanto aquela conversa a havia tirado de seus pesadelos. Uma pequena chama crescia dentro dela agora, uma chama que aumentava de forma mansa e quase indetectável. Uma chama que a fazia querer atear fogo naquele homem ignorante...

 Uma chama que a fazia querer atear fogo naquele homem ignorante

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Oioi!
Chegamos a mais uma semana e com ela, nosso tão esperado capítulo de CORAÇÃO DE AÇO ❤️

Essa semana mandei meu computador para o conserto e também tive que viajar. Depois de 10h cheguei ao meu destino kkk odeio viajar 🤧
Estou postando pelo celular então perdoem os erros pois revisar pelo telefone é horrível.
No mais, espero que estejam curtindo a história.
Não deixem de votar com a ⭐
Um beijo,
N.

CORAÇÃO DE AÇOWhere stories live. Discover now