43_ Esperança

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Alguns anos atrás...

ㅡ Outra garota pediu pra ficar com você hoje? Quem é você? O Justin Bieber? ㅡ Michael resmungou enquanto pedalávamos da escola de volta para casa.

ㅡ Você fala como se metade das garotas da escola não quisessem ficar com você. ㅡ Subi na calçada para desviar de uma moto estacionada e logo voltei para a rua.

ㅡ Não tantas quanto com você. ㅡ Ele respondeu. ㅡ E por que continua recusando todas?

Desci da bike quando chegamos em frente a minha casa e peguei a mochila que estava no guidão. O sol da primavera me fez com que meus olhos se apertassem.

ㅡ Não vou namorar ninguém. ㅡ Eu tinha isso como fixo na minha mente. Era um pensamento que não tinha nada no mundo que me fizesse mudar de ideia. Eu sabia qual seria o meu futuro.

ㅡ Você não acha que tem escolha? Seu pai não pode te obrigar a fazer o que ele faz. ㅡ Michael via de perto tudo o que acontecia na minha família. E, por mais que sua família fosse composta quase toda por policiais, éramos amigos. Meu pai não gostava muito disso.

ㅡ Ele pode. ㅡ Suspirei.

Quando o assunto terminou, Michael seguiu com sua bicicleta para a sua casa e eu entrei na minha. Uma das melhores partes do meu dia, se não a melhor, era o momento em que eu chegava da escola e entrava em casa.

Meu pai não estava e tudo tinha cheiro de desinfetante e bolo recém tirado do forno. Minha mãe aparecia assim que ouvia a porta se fechando e me recebia com um abraço e um sorriso no rosto.

ㅡ Como foi a prova de química? ㅡ Ela me olhou desconfiada após me abraçar.

ㅡ Acertei oitenta porcento. ㅡ Ela voltou a sorrir quando ouviu minha resposta.

ㅡ Você é muito esperto, Drake. ㅡ Ela bagunçou meu cabelo e voltou na direção da cozinha. ㅡ Tem bolo de chocolate aqui. ㅡ Entrei na cozinha e me deparei com dois bolos de chocolates bem grandes.

ㅡ Tem bolos de chocolate aqui. ㅡ Ri do exagero.

ㅡ Ah, esse é para a dona Horry. ㅡ Ela indicou um dos bolos. ㅡ  Ela caiu semana passada e ainda não está podendo fazer as coisas direito. Vou levar um bolinho, porque sei que ela ama comer bolo de café da tarde.

Era impressionante o quanto ela ficava feliz quando ajudava as pessoas. Ela sentia um prazer tão grande em fazer as pessoas ficarem mais felizes que me doía saber que ela mesmo não era tão feliz assim.

A porta da sala bateu. Nós dois ficamos em silêncio e olhamos para a porta da cozinha esperando que alguém aparecesse.

ㅡ Você continua andando com aquele moleque, né? ㅡ Meu pai apareceu. Geralmente ele não chegava tão cedo.

ㅡ Oi, querido. Como foi no trabalho? ㅡ Minha mãe perguntou. Ela insistia em ser gentil com ele, mesmo ele não merecendo nem a atenção dela.

ㅡ Me responde! ㅡ Ele bateu na mesa olhando para mim. Minha mãe deu um pulo para trás com o susto.

Encarei o meu pai sentindo a raiva que eu alimentava em mim todos os dias. As pessoas achavam que eu tinha raiva dele por ele fazer parte da máfia e porque, certamente, me fará seguir os seus passos, mas eu o odiava porque ele tratava a pessoa que mais o amava na vida como um lixo.

Minha mãe o amava de verdade. Acho que era a única pessoa no mundo que o amava. Nunca entendi o que ela viu nele. Imagino que no início meu pai fingiu ser uma pessoa boa para conquista-la ou, talvez, ele realmente já foi um ser humano, mas o crime o corrompeu e agora ele é essa merda que é.

Eu só não conseguia entender o motivo de ela ainda estar com ele. Tudo o que eu queria é que ela fugisse. Pedisse divórcio. Fizesse qualquer coisa, mas não sofresse mais nas mãos dele.

ㅡ Moleque? ㅡ Me fingi de sonso.

Meu pai fechou os olhos e puxou o ar com força.

ㅡ Eu não vou falar de novo.

ㅡ Então, não fala! Ta fazendo o que aqui olhando pra minha cara? ㅡ Me levantei da cadeira e saí da cozinha.

Naquela noite eles discutiram e meu pai passou a noite fora. Minha mãe dormiu chorando e eu me senti a pessoa mais impotente do mundo por não poder fazer nada por ela.

No dia seguinte, lá estava ela com um sorriso, cumprimentando as pessoas e levando o bolo para a dona Horry. Minha mãe era luz. Infelizmente, o meu pai foi a escuridão e a apagou.

Atualmente...

As lembranças inundaram a minha cabeça quando cheguei a Manitou Springs e vi Michael brincando com as crianças na rua em frente a minha casa. Ele disse que ficaria de olho e ainda estava ali.

Nunca me preocupei em ser gentil ou fazer as pazes com as pessoas. Na verdade, pensava que quanto menos pessoas gostassem de mim, menos pessoas se machucariam. Desde que minha mãe partiu, percebi o quão perigoso é esse trabalho e decidi não ter amigos.

Minha amizade com Michael terminou por isso.

Só que... Eu não sei. Agora eu tinha esperanças. Na minha cabeça as coisas melhorariam e eu poderia ter uma vida normal em breve. É claro que eu tinha acabado de receber uma ameaça do meu pai gritando a todos pulmões que não me deixaria sair da máfia, a não ser que fosse morto.

Mas, agora que falei toda a verdade na cara dele, depois de tantos anos em silêncio guardando tudo comigo, sinto que posso enfrenta-lo. Sinto que posso entrar nessa guerra e sair ileso.

E mesmo que eu não consiga, quero pensar como a Chloe. Quero partir sabendo que meus últimos dias foram da forma que eu queria. Tendo uma vida, amigos e a mulher que amo ao meu lado.

Saí do carro e caminhei até a calçada. Fiquei parado até Michael me notar e vir até mim. As crianças continuaram brincando quando ele parou na minha frente.

ㅡ Foi tudo tranquilo. Ninguém apareceu. E Chloe não saiu para nada. ㅡ Ele me passou o relatório.

ㅡ Você sabe que eu menti pra você, né? ㅡ Ele franziu as sobrancelhas confuso. ㅡ Naquele dia. ㅡ Coloquei as mãos nos bolsos da calça. ㅡ Eu não era seu amigo só para irritar o meu pai. Eu disse aquilo porque achei que você estaria mais seguro se não andasse comigo.

Michael me encarou por uns segundos sem dizer nada. Em um momento ele abaixou a cabeça e colocou as mãos na cintura.

ㅡ Você sabe que eu fiquei uns bons dias me perguntando o que eu tinha feito de errado, né?

ㅡ Me desculpa. ㅡ Cruzei os braços. ㅡ Eu estava errado e percebo isso hoje. Você sempre foi um ótimo amigo e continua sendo. Tem cuidado da Chloe e isso pra mim não tem preço.

ㅡ Pensei que não namoraria ninguém. ㅡ Ele riu arqueando a sobrancelha.

ㅡ E eu não ia. ㅡ Assenti. ㅡ Mas, a Chloe...

ㅡ A bailarina conquistou seu coração, né? ㅡ Ele riu novamente concordando com a cabeça. ㅡ Não é pra menos. Ela é muito bonita. ㅡ Fiz uma careta para ele.

ㅡ Olha lá, em... ㅡ Apontei para ele.

ㅡ Oh, meu Deus. Drake Grove é ciumento. Vou nem chegar perto da Chloe. ㅡ Ele ergueu as palmas das mãos.

ㅡ É bom mesmo. Não to nem aí se você é policial. ㅡ Caminhei na direção da casa e ouvi uma gargalhada dele.

•••
Continua...

Me ame, ChloeWhere stories live. Discover now