Capítulo 2

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Stefan

- Acorde, Stefan... - Vagamente ouvi Nanda me chamar. - Seu pai pediu para você ir à empresa hoje.

Soltei um grunhido e me encolhi sob as cobertas quando ela abriu as cortinas.

- Você não tem coisa mais interessante para fazer? - perguntei grogue de sono.

- Na verdade, até tenho, mas seu pai disse para eu não sair do quarto enquanto você não acordar. - Ela puxou as cobertas e eu bufei.

- Porra, Nanda. Você já foi mais agradável.

- O que eu posso fazer? Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Eu ri, porque a conhecendo como conheço, é claro que sua resposta seria algo nesse estilo.

Nanda está na minha família desde que eu consigo me lembrar. Sendo bem honesto, sou incapar de recordar um único dia em que ela não tenha estado comigo.

Uma década mais velha que minha mãe, a empregada - que agora é vários centímetros mais baixa do que eu - sempre teve mais tempo disponível para mim do que a médica bem sucedida e o empresário imponente que me colocaram no mundo. Não posso ignorar as pequenas rugas surgindo nos cantos de seus olhos escuros e nem os primeiros fios brancos se insinuando no meio de sua cabeleira negra - embora ela sempre mantenha o cabelo preso em um coque perfeitamente alinhado -, mas, ainda assim, imaginar que um dia ela irá se aposentar e partir me deixa em pânico. Ninguém sabe lidar comigo tão bem quanto Nanda. Ninguém sabe como me dar lições de moral sem me deixar possesso de raiva como ela. Por mais vezes do que consigo contar, eu vi na empregada a mãe de que eu precisava; um futuro sem ela é algo que eu certamente não consigo imaginar.

Exceto nos momentos em que ela me acorda.

- Você podia considerar vestir pelo menos uma bermuda para dormir. - Ela resmungou se dirigindo ao banheiro depois de me encontrar, não pela primeira vez, usando apenas uma cueca boxer sob as cobertas que ela pegou.

- Eu já disse, é desconfortável.

- Desconfortável devia ser a empregada chegar no seu quarto e te encontrar praticamente nu em cima da cama.

Eu ri e finalmente levantei-me, indo atrás dela.

- O que foi? Não vai me dizer que sente desejo por mim. - Agarrei-a pela cintura enquanto estava curvada experimentando com a mão a água da banheira.

- Claro. Sinto um desejo enorme de te dar uns tapas. Me respeita que eu tenho idade para ser sua mãe.

Soltei uma gargalhada enquanto me dirigia até a pia para escovar os dentes.

- Hoje isso é normal. Homens estão se casando com mulheres com até o triplo de idade.

Nanda tirou a mão da banheira em minha direção, me jogando água, o que me fez rir ainda mais.

- Ah, qual é! Imagine isso como manchete de algum jornal: Herdeiro da maior rede de empresas automobilísticas do país se casa com funcionária.

Nanda balançou a cabeça, mas não conseguiu evitar o riso.

- Você não tem jeito, Stefan.

Mais tarde, depois do banho, me arrumei do jeito que meu pai gosta e encarei meu reflexo no espelho: terno preto sob medida, sapato social, cabelo alinhado - o estereótipo perfeito do riquinho se preparando para assumir as empresas da família e se tornar o eco do pai: poderoso, influente e infeliz.

Balancei a cabeça negativamente para mim mesmo e desci.

- Bom dia, Arthur - cumprimentei o guarda-costas ao encontrá-lo parado próximo à escadaria.

O preço da Felicidade // DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now