História

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Duas semanas depois do quarto de bebê mais bonito do mundo ter sido mostrado para mim, recebi um pedido formal de desculpas de Zayn... Pessoalmente.

É, ele simplesmente apareceu na porta da minha casa, fez uma reverência ajoelhada, quase beijando o chão na soleira da minha porta e pediu pelo amor de Buda que eu o escutasse por alguns segundos e entendesse quais eram as acusações que Liam havia jogado em seus ombros naquele dia. Juro que fiquei estático por muito mais tempo do que achei que poderia. A cena simplesmente não se encaixava na realidade.

Contudo, não consegui fazer nada além de coloca-lo para dentro de casa, com medo que algum vizinho o visse daquela forma. Pelos céus, ele era médico, tinha uma reputação para prezar. E eu queria tudo, menos pessoas falando da minha vida por aí.

"Eu sou de uma família extremamente pobre, Louis. Quando passei na faculdade, meus pais sabiam que não teriam dinheiro para pagar as mensalidades. Na verdade, eu já havia prestado as provas sabendo disso. E também sabia que eu teria uma decisão muito séria a tomar se passasse nos vestibulares. Se eu iria mentir ou não. Para os meus pais." Zayn iniciou seu discurso, sentado em meu sofá. "Eu decidi que sim, porque se conseguisse ser médico, como queria, poderia ajuda-los; poderia colocar dinheiro em casa e foi isso que eu fiz, mesmo sabendo que teria de fazer da minha própria vida um inferno, durante todos os anos da graduação." Suspirou. "Naquele mesmo mês em que a lista de aprovados saiu, peguei minhas coisas, um pouco de dinheiro que tinha guardado e vim para Londres, sabendo muito bem como iria fazer para me bancar. Não foi fácil, principalmente as primeiras noites, onde eu tive de engolir mil princípios que iam contra o que minha criação pregava, como ir para cama com homens, mas eu fiz, porque sabia o que estava buscando e aos poucos aprendi a interpretar um personagem todas as vezes que iria fazer meu trabalho, até que conseguisse separar completamente o que eu era, daquele prostituto."

"Eu quase não dormia para conseguir ir às aulas e trabalhar durante a madrugada e tinha que fazer malabarismos para que as pessoas da faculdade não soubessem o que eu fazia pra me sustentar... De qualquer forma, conheci Liam no meu penúltimo ano de faculdade. Eu não entendi bem como as coisas aconteceram... Ele era lindo e tão novinho, que a primeira coisa que eu pensei foi que não fazia sentido estar pagando por sexo, entretanto, claro que aquilo estava longe de ser a única coisa estranha sobre ele. Em uma semana ele havia descoberto meu nome e na semana seguinte já estava me fazendo juras de amor. Foi então que eu entendi que ele nunca foi até mim para pagar por sexo, ele estava pagando por afeto... E isso era bem mais grave." Os olhos dele se fecharam. Pelo jeito odiava falar sobre aqueles assuntos. "Alguns clientes gostam disso, essa coisa de fingir que tem algum relacionamento sério comigo para não se sentirem tão mal pelo que estão fazendo; mas com o ele era diferente, só que eu não sabia como lidar com aquilo. A minha vida real não encaixava com um relacionamento sério com um cliente, então eu me fechava completamente com o sentimento."

"Quando tentei recuar e dizer que aquilo era um emprego e não minha vida de verdade, ele entrou numa crise de choro e eu percebi que não tinha como sair disso. Continuei os fingimentos por todo o restante de minha faculdade e eu sei que ele foi se apegando a imagem de namorado que eu representava para ele, mas o tempo foi passando, até que um mês antes da minha formatura eu falei o que estava acontecendo." Agora seus olhos estavam fixos nos meus. "Falei porque achei injusto simplesmente sair da vida dele sabendo o quanto Liam dependia de mim. Eu queria me livrar de tudo que remetesse minha antiga vida e ele era um cliente. Um cliente mais complicado, mas mesmo assim um cliente, de uma vida que pretendia não ter mais. Eu não o amava, não queria um relacionamento. Por qual motivo permaneceria mentindo para ele? Não fazia sentido. Uma coisa era ser pago para estar com ele, outra completamente diferente era mentir, de fato, sem nenhum pagamento e estancar minha vida nisso." Havia dor nas palavras dele, como se meu obstetra realmente não fosse uma pessoa ruim. "O que eu quero dizer é: eu menti porque ele me obrigou a isso e porque esse era o meu trabalho, era assim que eu ganhava a vida. Contudo, isso não tem absolutamente nada a ver com a minha qualidade como profissional, nem com minha ética médica. Eu fiz tudo isso porque o sonho da minha vida era a medicina. Eu vendi meu corpo por um sonho."

ImprovávelWhere stories live. Discover now