Desligado

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"'Cause all of the stars

Are fading away

Just try not to worry

You'll see them some day

Take what you need

And be on your way

And stop crying your heart out"

Oasis ]

Se me perguntassem qual era a sensação de acordar de um coma induzido, eu diria que era como deixar um caminhão passar por cima de você, na ida e na volta. E como se acordar não fosse traumatizante por si só, ainda tive que passar pelo processo terrível de entender que certos movimentos são proibidos quando se está cheio de pontos.

Eles te deixavam com aquela sensação de que não está integro e que sua pele irá rasgar se você se mover um pouco além do necessário para respirar. Era como estar com os membros pregados na cama e o abdome em frangalhos.

Todos os fios que me conectavam à vida pareciam também me impedir de realizar qualquer movimento. Abrir os olhos, naquele dia, logo após o nascimento de meus filhos, foi algo muito parecido com se ver amarrado numa cadeira enquanto um tsunami vem em sua direção. Desesperador, para dizer o mínimo.

Sentia como se minha vida tivesse sido usurpada e jogada no meio de um apocalipse, do qual eu não conseguia me livrar e que parecia me consumir aos poucos, já que, deitado numa cama e plugado a sei lá quantos aparelhos, eu mal e parcamente conseguia encher os pulmões de ar sem sentir dor. Era ridículo, era doloroso, era degradante. Degradante ao ponto de eu ter uma crise de choro já em meu segundo dia acordado, por não poder ver meus filhos e por ficar a maior parte do tempo sozinho, já que Harry estava fazendo parte de um tratamento pele-a-pele com os dois pequenos que eu sequer havia visto ainda.

Meu surto foi tanto que eles tiveram de me sedar, depois de uma série de gritos e um choro incontido. Só voltei a acordar no dia seguinte, com Harry ao meu lado no leito; deitado com um dos braços caídos por cima de minha cintura. Não sei como ele teve coragem... Eu me mexia demais enquanto dormia, se ele estivesse todo aparelhado, eu jamais ousaria deitar ao seu lado, com medo de machucá-lo.

Mas não Harry, ele era perfeito até quando dormia em sono solto, porque parecia ter achado uma posição confortável e conseguiu passar a noite toda sem se mover. Se eu tentasse fazer algo assim, acordaria com cheio de dores, mas ele não...

Ele acordava com um sorriso no rosto e um "bom dia" acalorado.

Estava completando uma semana no hospital e, apesar de vivê-la com agulhas espetadas nas costas de minhas mãos, sentia-me fisicamente melhor. Os pontos não pareciam mais amarras e minha cabeça não girava mais, sempre que eu tentava me sentar na cama.

Em compensação, a camisola do hospital parecia ser a única peça de roupa que eu podia usar, além de as únicas notícias sobre Liam às quais eu tinha acesso eram insuficientes "ele está estável, mas não acorda; temos que esperar".

Harry só faltava se desdobrar em dois para ficar comigo e com as crianças que já não me causavam mais nenhuma emoção maior. Não havia visto-as nem uma única vez desde que elas nasceram. Eu estava preso na cama e eles estavam presos nas incubadoras da UTI neonatal.

Quando comentei sobre o assunto com o moreno sobre essa minha falta de empatia, ele pediu ajuda à Zayn, que depois de trinta minutos conversando comigo dentro de uma sala, acabou chamando um segundo especialista, este, descobri depois, tratando-se de um psiquiatra.

ImprovávelUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum