Capítulo 1

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— Páh! — Donna viu por trás dos óculos de proteção, o terceiro disparo atingir o ombro do alvo humanoide. — Páh! — Quarto tiro, que se alojou ao lado do anterior.

Donna já não sentia o recuo após os disparos, os mesmo que a jogaram para trás nas primeiras vezes em que atirou, logo que começou as suas aulas de tiros, também não ouvia o estrondo produzido toda vez que apertava o gatilho, graças ao abafador em seus ouvidos, deixando-a alheia aos ruídos de fora de seu estande.

Após seis meses na clínica de recuperação, ela finalmente conseguiu sua liberdade, pois o juiz analisara as provas apresentadas pelo advogado, as quais não deixavam dúvida sobre a doença que a havia acometido, visto que a filha fora desejada pela professora e pelo marido, que o assassinato da menina fora uma consequência grave do estado mental da mãe, que sofreu uma terrível depressão pós-parto, o que foi alegado até mesmo pelos médicos que a atenderam, para os quais o próprio Vincent se encarregou de expor as terríveis circunstâncias em que Donna perdeu a melhor amiga Adelle e sua aluna Stephanie, ambas grávidas. Também fora citado pelo advogado, o divórcio de sua cliente, comprovando que a doença dela, não somente lhe tirou a filha, como acabou com o seu casamento. Assim, não havia pena maior para a professora, do que o próprio remorso pelo que fizera, consequência essa que precisaria conviver pelo resto da sua vida.

Nos meses em que passou na clínica, Donna não fez nada além de buscar uma forma de desmascarar seu ex-marido, afinal, a justiça para com suas vítimas e suas famílias precisava ser feita, assim como era a única forma de garantir a segurança da filha. Donna estava disposta a fazer o que fosse possível para isso, para tanto, sabia que precisava se preparar, se não fosse capaz de proteger a si, como poderia proteger a menina?

Os dias em que esteve enclausurada, lembrara de tudo que vivera ao lado daquele homem que julgou ser perfeito, mas que descobrira ser o oposto disso. Como ele podia matar mulheres e crianças indefesas? Como podia fingir também? E como era possível que ele não percebesse o quão errado e monstruoso eram os seus atos? As dúvidas eram muitas, e para todas, não tinha uma resposta, a não ser que Vincent era um monstro!

Por vezes, se sentira culpada e frustrada por nunca ter desconfiado, mas como poderia? Foram anos maravilhosos, ao lado de um homem maravilhoso, ele nunca dera qualquer motivo para desconfiar, tampouco para confrontá-lo. Que mulher, sã e lúcida, confrontaria ou desconfiaria de um homem que não lhe desse motivo, que fosse sempre prestativo, carinhoso e perfeito!? Agora, ela sabia que viveu uma mentira, o homem perfeito que tanto amou, não existia, ele sempre usou uma máscara e a enganou muito bem, Vincent Hughes era fachada, e fez da vida dela, uma fachada também!

A verdade era que muitas das lembranças que teve, a fez perceber coisas que somente agora faziam sentido para ela, como Vincent fazer questão de se encarregar da limpeza do porão, ou da aversão inicial à intenção da Adelle de ser mãe independente. Lembrou que quando Stephanie foi assassinada, ela estava de férias na casa do irmão, e quando a Ade foi morta, assim como nas noites em que o ceifador fez novas vítimas, ela adormecera rapidamente, após ingerir algum lanche que o ex-marido lhe preparara, sempre que alegava estar sem sono. Tais lembranças ajudaram-na a tomar as decisões, que acreditava serem necessárias. Assim, tão logo saiu da clínica, retornou para o seu apartamento, que há meses estava desocupado.

No dia seguinte, procurou por uma academia de lutas, onde matriculou-se para fazer defesa pessoal, em seguida, seguiu para um dos melhores clubes de tiro de Los Angeles, determinada a aprender a se defender do inimigo que estava prestes a enfrentar.

— Páh! — Quinto disparo, ao que Donna viu a bala atingir o coração do alvo humanoide, fazendo-a suar frio.

Não, essa não era a sua intenção. Donna não planejava matar Vincent, isso estava fora de cogitação, ela queria apenas defender-se quando fosse preciso, então se precisasse atirar, as pernas, braços e ombros eram alvos aceitáveis, visto que só tinha de fazê-lo parar, mas matá-lo, não, pois ele era o pai da sua filha e era ainda o homem com quem casara.

O Ceifador de Anjos: A Última CeifaWo Geschichten leben. Entdecke jetzt