Capítulo 5.1

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Já passava das 15h, Neila ouvia o desabafo da pobre mulher à sua frente, que não conseguia conter as lágrimas. Donna, que ocupava uma cadeira logo atrás da guia, já podia entender alguma coisa daquela língua, mas não conseguia se concentrar no que a mãe da vítima lhes confidenciava, enquanto o pai se mantinha calado ao seu lado. Donna sentia uma forte dor de cabeça e começou a transpirar em demasia, sentia muito calor e um desconforto maior ainda. A guia não demorou para perceber.

— Donna? Você está bem? — perguntou após pedir um momento para os donos da casa.

— S-sim, só estou com calor!

— Deixe-me ver — falou se levantando da cadeira onde estava e indo na direção dela. — Você está queimando de novo! — declarou ao tocá-la.

Donna percebeu a aproximação do casal, curiosos e preocupados com o que estava acontecendo, pelo olhar deles, entendeu que não devia estar com uma boa fisionomia.

— Ela não está acostumada à essa temperatura, é estrangeira — explicou Neila, sem perceber que estava falando algo que era óbvio para eles.

A dona da casa disse algo à guia e ao marido, mas ela não conseguiu compreender.

— O que ela disse? — perguntou para Neila, se abanando.

— Que você está doente e que preciso te levar para o hospital! O mais próximo daqui é o da capital — explicou em tom preocupado, mas calmo.

— Não, não posso ir para o hospital! — disse quase gritando, o que assustou o casal, que embora não compreendessem inglês, viram que ela estava alterada.

— Donna!? — disse a guia também assustada, sem entender.

— Me prometa, Neila — Donna pediu agarrando firme a mão da guia. — Prometa que não importa o que aconteça, você não vai me levar para o hospital! — suplicou.

— Donna, você não está nada bem, precisamos saber o que está acontecendo.

— Por favor, Neila, eu imploro, não me leve de forma alguma para o hospital!

— Mas por quê? — perguntou ainda sem entender.

— P-porque... esses crimes todos, essas garotas mortas... quem está fazendo isso está naquele hospital — falou a verdade, sabia que mentir seria pior.

— Como sabe? — Neila perguntou espantada.

— Lembra que disse que ele é americano? — Neila assentiu com a cabeça. — Ele era meu marido! E agora está trabalhando naquele hospital! — disse sem soltar a mão da amiga.

— Donna! — Neila emudeceu, não sabia o que dizer, o casal ao lado, sem compreender uma palavra que as duas trocaram, ficaram ainda mais preocupados pela expressão de medo estampado no rosto de ambas.

— Prometa! — Donna insistiu apertando a mão da guia.

— Eu prometo — falou baixinho, assentindo com a cabeça.

O casal falou alguma coisa para Neila, mas Donna só a viu balançar a cabeça negando algo, imaginou logo que haviam insistido para levarem-na ao hospital. Ouviu Neila falar alguma coisa para eles, mas não conseguia entender o que era.

— Donna — falou virando-se para ela. — Vou te ajudar a ir para a cama ali. — Apontou para uma das três camas colocadas lado a lado mais ao canto. Estavam no único cômodo da casa, que parecia funcionar como cozinha e dormitório, já que contava também com uma mesa, algumas cadeiras, um fogão e um armário com algumas panelas velhas. — Você precisa de um médico, não dá para irmos para o hotel e chamarmos um lá — dizia enquanto ajudava Donna a se deitar.

O Ceifador de Anjos: A Última CeifaWhere stories live. Discover now