Capítulo 4

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— Filha, cadê você? — gritava, Donna a procurava por horas, mas sem sucesso. — Onde uma criança de colo poderia se enfiar? — perguntava para si, tentando pensar em lugares da casa em que ainda não a tinha procurado.

Donna já tinha passado nos quartos, na cozinha e agora na sala. Sua filha não estava em lugar algum. A preocupação já a colocara em desespero, algo de ruim havia acontecido, ela tinha certeza.

Danna nem engatinhava, e babá, sua mãe não quis contratar. Os cuidados da pequena cabiam a ela e ao marido, que aliás saíra muito cedo depois de passar horas trabalhando no porão.

O porão! — lembrou ela. Caso Vincent se esqueceu de fechar a porta, a menina poderia ter rolado a escada. Mas Danna nem sequer engatinhava, como poderia ter ido até lá? As coisas pareciam não fazer mais sentido em sua cabeça, talvez fosse o cansaço, típico de mães de primeira viagem desacostumadas a ter tanto trabalho.

Donna seguiu para o porão, como imaginou, a porta estava aberta. Vincent se esqueceu de fechar. Ela acendeu as luzes e desceu os degraus, o coração aos pulos, receando ver a menina desacordada caída lá embaixo em meio a tantas caixas.

— Danna, querida! — chamou, mas nada havia ali além do silêncio, sua filha deveria estar em outro lugar.

Donna, por instinto, olhou para a grande estante que Vincent mantinha no porão, mas estranhamente, já não haviam livros, tudo que via, em apenas uma das muitas prateleiras, era um pequeno amontoado, alguma coisa pequena estava coberta por um tecido escuro ali. Sem pensar, correu para lá, curiosa e receosa ao mesmo tempo. Aquilo não devia estar ali!

Deu a volta na mesa e empurrou a cadeira, em seguida, rapidamente puxou o tecido, revelando para Donna a visão mais macabra que poderia ter.

Donna levou as mãos à cabeça em desespero, puxando o próprio cabelo, gritou aterrorizada ao ver sua garotinha de cachinhos loiros esvoaçando em meio ao formol, seus olhinhos azuis estavam abertos e pareciam brilhar, a boquinha bem desenhada exibia um sorriso suave, enquanto as perninhas jaziam dobradas em frente ao seu tronco arqueado. Danna era um anjinho grande demais para o pequeno frasco.

Donna não sabia dizer se foi o choque daquela visão monstruosa ou se fora seus próprios gritos que a despertou. Mas acordara em prantos, pois a dor que sentira por uma criação de sua mente, era profunda demais, além de ser o reflexo daquilo que ela mais temia.

Donna despertou de um pesadelo irreal, para perceber-se numa realidade tão monstruosa quanto.

E as lágrimas que por vezes achou que secaram, caíram abundantes, enquanto se mantinha debruçada na cama encharcando o travesseiro. Sabia que vivia um verdadeiro pesadelo, sabia que poderia não ter um final feliz!

Assim, sem qualquer ânimo para levantar, mas também sem sono para voltar a dormir, Donna ficou ali, remexendo-se, relembrando dos inúmeros pesadelos que tivera com a filha e com seu ex-marido. Vincent a assombrava, sentia como se ainda estivesse presa a ele, pois em alguns de seus pesadelos, Donna via-o ainda como o homem perfeito que acreditou que ele fosse, enquanto em outros, com a filha nos braços ela corria e corria, enquanto Vince a seguia com um bisturi nas mãos.

Eram 5 horas da manhã quando decidiu levantar, tomou um banho demorado e se vestiu. Combinara com Neila que a encontraria às 8 horas no restaurante do hotel para tomarem café juntas e programarem os passeios do dia.

Neila ficara, ainda, de trazer algumas informações que Donna solicitara, algo que a nova amiga daria conta de fazer sozinha e que sua presença seria totalmente dispensável. Donna relatou o tipo de caso pelo qual ela procurava, mulheres grávidas que tiveram seus bebês extraídos de suas barrigas e levado pelo seu agressor, não precisava de mais detalhes, era o suficiente para a guia sondar entre os conhecidos que tinha na polícia e nos jornais, sobre a ocorrência de tais fatalidades. Neila garantiu que tinha muitos amigos que poderiam lhe informar, afinal, ela foi policial e por vezes, prestava serviços à polícia estrangeira e até local.

O Ceifador de Anjos: A Última CeifaWhere stories live. Discover now