Sombras na terra

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Estavam viajando já há algumas horas e decidiram parar em uma pequena mansão abandonada para descansar. Mesmo que todo o trajeto tenha sido feito em uma carruagem a tensão de poderem ser atacados tinha exaurido praticamente toda a energia deles. Klaus e Mia não estavam mais usando armaduras, ao invés disso tinham colocado malhas de ferro que protegiam razoavelmente bem e não eram tão pesadas.

-Seja como for, estamos aqui- disse Mariele, encostando a carruagem. Sua pele morena estava coberta de suor e os cabelos negros e cacheados grudavam em sua pele. Já era crepúsculo, não estava exatamente escuro, e ela conseguia ver claramente toda a torre de vigia da muralha até o seu topo, graças à visão noturna que tinha chamado. Estavam em frente a uma versão menor de um castelo abandonado e que parecia potencialmente perigoso.

Stern se inclinou para frente. Mariele olhou para ele.

-Já está quase escuro. Estamos preocupados com ataques?

-Talvez. -ele respondeu-não sinto ou ouço nada, mas só para ter certeza, coloque proteções em mim.

Ele estremeceu quando sua mão o tocou na pele. Devia estar fria.

-Desculpe-sussurrou Mariele, apoiando a mão no ombro dele. Ela sentiu a beira da clavícula com o polegar, o algodão da túnica macio sob seu toque; apertou com mais força, as pontas dos dedos deslizando sobre a pele exposta da borda do colarinho. Ele respirou fundo.

-Machucou?- ela parou

Ele balançou a cabeça. Ela não conseguiu ver seu rosto.

-Estou bem. -em um rápido movimento, gracioso como sempre, estava fora da carruagem e se armava. Ele tinha circulado e aberto o bagageiro, segurava a besta Celestial em uma mão e guardava os facões de caça em suas respectivas bainhas com a outra. -Mia, Klaus, fiquem aqui e preparem as barracas logo atrás da muralha enquanto eu e a Mariele vamos checar a parte de trás. Ninguém entra na casa.

Mariele o seguiu através do gramado que batia no calcanhar. Era um belo jardim, mas ninguém tinha cuidado de verdade dele. As plantas cresciam por toda parte; as cercas vivas cheias de flores não aparadas. A piscina era cercada por uma grade de ferro que batia na cintura e seu portão estava aberto. Ao se aproximar, viu que Stern parara logo à frente, imóvel e inexpressivo. Ela desacelerou ao chegar à água; depois percebeu que havia um corpo. Uma mulher morta, de biquíni branco, flutuando na superfície da piscina. Ela estava com o rosto para baixo, cabelos longos e negros boiando ao redor, braços pendurados nas laterais. O brilho da lua fazia parecer que possuía hematomas. Não que ela jamais tivesse visto cadáveres antes. Vira muitos. Sinergistas, criaturas, Caçadores, Torres e simples vítimas. Ainda assim, havia algo de tristonho nesse corpo: a mulher era minúscula, tão magra que dava para enxergar sua coluna vertebral através da pele.

Estava avançando para levitar o corpo quando ouviu o clique de uma besta sendo carregada com uma flecha. Sem olhar ou pensar ela gritou a palavra de proteção mais básica que conhecia:

-Culyanse!- instantaneamente uma parede de ar surgiu ao redor de Stern e bloqueou uma flecha, que rebateu e desapareceu na cerca viva.

Havia uma figura no telhado da casa; dava para ver apenas a silhueta. Alta, provavelmente masculina, toda de preto, besta na mão. Ele levantou e mirou. Outra flecha voou. Mariele sentiu raiva; fria e severa. Como ele ousa ser tão arrogante a ponto de atirar em um Celeste, como ousa atirar nele? Com um simples sussurro se elevou ao telhado da casa. As telhas sob seus pés rangeram quando ela aterrissou agachada. Mariele levantou os olhos e deu uma rápida olhada na figura vestida de preto no telhado; estava se afastando dela. A parte superior de seu rosto coberto por uma máscara em formato de corvo.

Depois da EscuridãoWhere stories live. Discover now